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PRÉVIA


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Biografia Pastor Joel

Nota da autora A trajetória de um homem é o conjunto das escolhas que faz ao longo da vida, reflexo dos valores que acredita, dos obstáculos que encontra no caminho e de sua capacidade de olhar para eles, superá-los e transcendê-los. Essa construção não é um processo pacífico, todavia, forjado pelo seu caráter, terá como produto o seu legado. A presente biografia trará à luz aspectos da vida de Joel Stevanatto, cujo pastoreio se dá há trinta e seis anos do serviço do Reino de Deus, iniciado na posse do ministério em 18 de dezembro de 1983 na Igreja o Brasil para Cristo em Presidente Prudente, onde ficou à frente da congregação por quatro anos. Sua história foi tecida pela devoção e fidelidade a Deus e continua na igreja da mesma denominação há trinta e dois anos, localizada no bairro do Mandaqui, Zona Norte da capital paulista, alcançando vidas para Jesus, motivado por uma fé genuína e por seu testemunho de vida. Trata-se de um mergulho em momentos importantes de sua vida, muitos dos quais ainda não revelados, que tem por missão levar o Evangelho às pessoas cristãs e não-cristãs, para que conheçam os caminhos de Deus, através da vida de um homem que “colocou a mão no arado e não olhou para trás1”, mas, para além disso, encorajar a vida ministerial de novos pastores que ingressam no serviço do Reino de Deus. Logo, mais do que passagens de sucesso e vitória, a narrativa discorrerá a vida de um homem que lutou e perseverou diante dos obstáculos e das incertezas, carregou marcas que inegavelmente o fortaleceram, e fez disso uma

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Referência ao livro de Lucas, capítulo 9, versículo 62.

demonstração que viver pela fé não é ter paz e tranquilidade todo o tempo, mas que a caminhada com Jesus é crer naquilo que é impossível aos olhos humanos. Aqui serão apresentados os retratos de dois “personagens”: o homem Joel e o Pastor Joel. O primeiro está ancorado no menino nascido na Zona Leste de São Paulo, que cresceu cercado por seus pais, avós maternos e irmãos, viveu uma vida simples, mas cheia de memórias, entre elas o desejo de jogar futebol. Porém, foi a influência da mãe e o amor a ela, assim como uma promessa proferida pelo missionário Manoel de Mello da Silva2, referência para ele em sua vida de ministério pastoral, que deram as nuances da transição do menino para o jovem e do jovem para o homem, que se deparou com a angústia de decidir qual caminho seguir na vida. A expectativa de uma carreira no futebol aliada ao imediatismo da juventude trouxe para Joel um certo deleite por breves e efêmeras conquistas, mas que logo cederam espaço para sentimentos mais intensos e profundos, que aumentavam a cada dia. A ideia de estar com pessoas e liderá-las apresentava seus primeiros contornos. Certamente, aquele sábado frio e chuvoso de 12 de agosto de 1978 mudaria completa e definitivamente a vida do filho de “Seo” Florentino e de Dona Irma. O Pastor Joel é um homem plural: fiel a Palavra de Deus, servo convicto, empreendedor, professor, visionário, que acreditou na visão do Reino de Deus quando, ainda jovem, teve um encontro com Ele. Sua vida, desde antes de seu nascimento, esteve impregnada de elementos que contribuíram para o direcionamento de uma vida de fé, fundamentada por raízes profundas que certamente contribuíram para consolidar sua trajetória. A leitura dessa biografia escancara uma janela que possibilita enxergar o cumprimento das promessas de Deus na vida de um homem, assim como, entender que o tempo Dele e os caminhos escolhidos por Ele não nos cabe definir, tampouco controlar.

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Fundador da Igreja O Brasil para Cristo, nascido em 1929, no município de Água Preta, em Pernambuco. Adiante será tratado com a devida reverência, um pouco mais da história do homem que obedeceu ao chamado de Deus para fundar a primeira igreja pentecostal no Brasil. (ver bibliografia). Doravante, optaremos por apresentá-lo como “Missionário Mello”, utilizando o mesmo padrão nas diversas literaturas que tratam de sua vida e sua obra.

Capítulo 1

Imigração italiana e imigração espanhola: o início O início do século XX foi de grandes transformações sob vários aspectos para a sociedade brasileira, em particular, do ponto-de-vista econômico, devido à imigração advinda sobretudo da Europa. As relações comerciais se avultavam, e o Brasil abriu as portas para todos aqueles que tiveram interesse em contribuir com seu trabalho nos novos meios de produção em solo nacional, para uma sociedade agroindustrial crescente no país, assim como para aqueles que desejaram escrever uma nova história de vida. O momento foi de expansão para o mercado interno e as novas formas de trabalho incitavam a necessidade de muitos trabalhadores para o cultivo da lavoura e o processo industrial3. Entre japoneses, portugueses, coreanos e libaneses; italianos e espanhóis fizeram parte da corrente migratória que chegou até aqui pela promessa de trabalho, e de uma vida melhor do que aquela oferecida em seus países de origem. Eles se estabeleceram em várias localidades e o Estado de São Paulo recebeu muitas dessas pessoas que optaram por fixar moradia em território brasileiro Assim, vindos da Região da Calábria, no sudoeste da Itália, a família Stevanatto foi morar na Penha, e lá tiveram por vizinhos a família Quadros, descendentes de espanhóis que, juntos, fizeram parte de um contingente que contribuiu para a construção da cidade de São Paulo. Em meados da década de 50, a Penha, localizada em uma região bastante afastada do polo econômico da capital, com pouco investimento do poder público, tinha pequenas plantações familiares e o comércio girava em torno da produção interna de produtos hortifrutigranjeiros, característica que conferia ao vilarejo um ar bucólico de cidade do interior. Porém, o processo de industrialização crescente, sobretudo na década de 1960, caracterizou o bairro como “dormitório”, pois parte da população operária passou a residir naquele local, mas o fluxo de negócios estava concentrado nas regiões centrais da cidade.

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A industrialização no Brasil foi um processo tardio comparado aos países europeus. Na São Paulo do início do século XX, as mudanças decorrentes desses novo sistema foram notórias e aceleradas. A cidade foi se transformando através de máquinas que abriam sulcos nas ruas, pavimentando-as e preparando-as para a instalação de trilhos, ampliando o serviço de bondes. (ver referência bibliográfica)

Irma e Florentino Irma e Florentino nasceram no Brasil. Ela, filha de Antônio Quadros e Ida Miqueletti Quadros; ele, filho de Agostinho Stevanatto e Virgínia Tomazzoni Stevanatto. Ambos se conheceram bastantes jovens e se casaram logo em seguida, estabelecendo moradia no mesmo bairro dos pais. Daquela união nasceram três filhos, sendo o caçula, Joel. No início, o casamento foi muito tranquilo e navegaram em mares calmos, apesar de Florentino conduzir a família embaixo de um conselho recebido do pai, às vésperas do casamento, no qual ele dizia ao filho que a sua autoridade sobre sua mulher deveria ser incontestável e, caso ela reagisse ou reclamasse, a força seria elemento de contenção. O casal foi morar nos fundos da casa dos pais de Irma, localizada à Rua Capitão Rangel, onde viveram boa parte da vida e criaram os filhos. A casa modesta, contava com um quarto, sala e cozinha, além do banheiro. As crianças dormiam na sala e a cama de Joel ficava encostada na parede que dava para o quarto dos pais. A vida fluía e tudo caminhava bem, até que o hábito que Florentino cultivou desde a juventude se tornou um problema para ambos: o alcoolismo. Irma tentava a todo custo, às vezes com carinho, outras com firmeza, convencer o marido que aquilo não fazia bem para ele, mas o marido ignorava os conselhos da esposa, e redarguia dizendo que tinha controle sobre a situação. Apesar do vício, ele cuidava da família e, à sua maneira, foi bom pai. Ele sempre trabalhou e manteve, mesmo com dificuldade, o sustento da família, de vez em quando lhes concedendo alguns luxos, como passeios anuais à praia ou, ao receber o pagamento decorrente do trabalho na construção civil, fazia a “noite da pizza”. Mas, o temperamento intempestivo dele assustava Irma e a deixava descontente. A essa altura, Irma, influenciada por sua mãe Dona Ida que fora curada de uma hérnia umbilical, frequentava as reuniões promovidas pelo Missionário Mello, em várias regiões da cidade. Não demorou muito, Irma, antes católica praticante, se converteu ao cristianismo evangélico, na Igreja Evangélica Pentecostal4 da Penha. 4

A Igreja O Brasil para Cristo iniciou-se na década de 1950, pela graça de Deus e vontade Dele sobre a vida do Missionário Manoel de Mello da Silva. O primeiro nome foi “Igreja de Jesus Betel O Movimento do Caminho” e estava localizada na Vila Barreto, em Pirituba, Zona Oeste da Capital.

A frequência aos cultos foi algo vindo do coração de Deus, cujo propósito já estava estabelecido para a vida daquela mulher. Irma frequentava a igreja local na Penha, mas também era assídua frequentadora nos movimentos evangelísticos promovidos pelo missionário, sobretudo no galpão localizado à Rua Tuiuti, no Tatuapé, às segundas-feiras à noite. Mais tarde, quando da edificação da Sede da denominação, localizada no bairro da Pompeia ela também se tornaria frequentadora assídua, e lá comparecia a mais de um culto por dia. Naquele local aconteciam grandes manifestações de fé, e o avivamento causado nos

cultos

promovidos

ali

atraía

um

número

maior

de

pessoas

e,

consequentemente, mais vidas salvas para Jesus. Mas, o coração duro de Florentino observava aquilo tudo, ora com frieza e distanciamento, ora voltando-se contra a mulher, que se deparava com as queixas dele, tentando proibi-la de ir aos cultos. Embora as investidas fossem contundentes, Irma seguia em frente, sem pestanejar.

A gravidez Já havia se passado um ano de sua conversão, quando Irma começou a sentir alguns enjoos, tonturas e, reconhecendo os sintomas, percebeu que estava novamente grávida. Foi uma feliz surpresa para ela! A notícia da terceira gravidez do casal não foi bem recebida por Florentino. O homem andava às voltas com maus sentimentos em relação à esposa, sentia-se enciumado por vê-la tão dedicada à igreja, e, apesar de isso não impactar os cuidados que ela tinha com a família, ele passou a exigir que Irma deixasse de frequentar a igreja e se dedicasse exclusivamente a ele e aos filhos, remetendo ao conselho dado por seu pai no dia do casamento de ambos. A posição do marido não desencorajou a mulher, e serviu para fortalecer sua fé. Ela, que foi alcançada pelo amor de Jesus Cristo e por Ele estava disposta a enfrentar o que viesse, tinha plena convicção que o marido se converteria e sua vida seria transformada. As diferenças entre o casal não se restringiam apenas ao comportamento do marido. Tanto Irma quanto Florentino tinham visões espirituais muitos distintas e

Entretanto, devidos às pressões sofridas pelo missionário, a igreja foi registrada em 13 de março de 1956 como Igreja Evangélica Pentecostal. O lema “O Brasil para Cristo” foi incorporado ao nome oficial em 1974 e a patente é registrada em 1985 pelo pastor Ivan Nunes, na época o presidente nacional. (ver bibliografia)

isso reverberava no relacionamento entre as famílias de ambos. Ela, cristã convicta, mantinha uma postura fiel diante da Palavra de Deus e suas promessas, mesmo sob o alto preço que pagou. Ele, avesso à religião e à Palavra de Deus, vinha de uma família católica nominal, que rechaçava Irma e consequentemente seus filhos. Essa situação favorecia o comportamento de Florentino, que, apoiado por sua família lançava duras críticas à esposa. Os filhos, por consequência, tornaram-se alvos das investidas da família, e conduzidos pela mãe para uma vida cristã, não se davam à convivência com a família paterna. Agora, as saídas da mulher para a igreja se tornaram os estopins de discussões entre o casal, e as palavras de Florentino dirigidas à Irma se tornavam cada vez mais ofensivas, a ponto de ele insinuar não ser o pai da criança que ela carregava no ventre. A ideia de um aborto começou a criar raízes profundas na cabeça daquele homem. Os desentendimentos entre o casal passaram a ser constantes, a ponto de o marido inferir ameaças à integridade física da esposa se levasse a gravidez adiante. A despeito do desejo de Florentino, Irma seguia firme, o filho crescia vigorosamente e, aos primeiros movimentos da criança, Irma já sabia qual nome daria ao filho. Diferentemente dos nomes dos filhos mais velhos, que escolhidos por Florentino, “homenageavam” artistas e atletas do mundo secular, o nome de Joel fazia menção ao profeta bíblico, cujo livro descreve a vingança e a vitória de Deus contra os inimigos de Israel. Em seu íntimo Irma sabia que aquela escolha confirmava que seu filho seria muito especial. A gravidez não impedia Irma de frequentar os cultos, ao contrário, aqueles eram os momentos em que ela se fortalecia ainda mais para enfrentar os desafios de se colocar contra a vontade do marido. Numa noite, Irma, mesmo franzina, precisou se impor diante dele para evitar que as agressões físicas fizessem parte da vida conjugal. A partir dali a indiferença e aversão de Florentino àquela gestação aumentou ainda mais. O dia 18 de dezembro de 1961 foi um dia emblemático para ela, para o marido e, principalmente, para a criança que viria a nascer. Mais uma vez, quando se preparava para ir ao culto, levando os dois filhos mais velhos consigo, o clima naquela casa assumiu um ar pesado. Florentino observava os passos da mulher, que não o ignorava, mas se mantinha firme no propósito de sair naquela noite. Ela preparou o jantar, arrumou a mesa e serviu o marido. Depois foi se preparar e

naquela noite úmida, devido à garoa, Irma reforçou um pouco mais a vestimenta dela e dos filhos, pois sairiam logo em seguida. As discussões recomeçaram. A gravidez já ia avançada e Irma contava com o sétimo mês de gestação, e àquela altura já não tinha disposição para discussões infrutíferas. Irma terminou de arrumar as crianças, pegou a bolsa, a bíblia e dirigiuse para a porta da casa. Quando Irma chegou à soleira da porta, ouviu o marido proferir uma sentença sobre a sua vida e a da criança que carregava, que a fez estremecer: __________________________________________________________ - Se você não abortar essa criança, você vai morrer! _____________________________________________________

O calafrio tomou conta do corpo dela e fez com que a criança se mexesse em seu ventre. Os filhos, assustados, olhavam para a mãe sem entender por que o pai dizia aquilo. Sem olhar para trás, Irma respirou fundo, ergueu a cabeça, fechou a porta sem bater, mas com firmeza, e seguida pelos filhos saiu em direção da igreja. Os sentimentos de angústia e medo acompanhavam Irma naquela noite de garoa em São Paulo e lhe causavam desconforto, aumentando a sensação de tristeza pela lembrança das ameaças feitas do marido. As lágrimas testificaram o seu estado de espírito e o desânimo que se abateu sobre ela. Aquela mulher não estava sozinha. A presença do Espírito Santo de Deus a encorajou e não a deixou desistir. Ela chegou ao culto atrasada, um pouco molhada pela garoa, mas quando adentrou ao galpão onde se realizava o culto, ainda na porta, o Missionário Mello, do púlpito trouxe a revelação daquilo que havia acabado de ocorrer na casa de Irma. Uma mistura de emoções invadiu seu coração. Deus se fez presente mais uma vez em sua vida.

A revelação O Missionário Melo, tomado pela graça de Deus e usado por Ele, anunciou no púlpito que havia entrado naquele galpão uma mulher ameaçada pelo marido, mas apesar das circunstâncias e de toda tribulação que havia passado, não deveria ter medo, pois o fruto do seu ventre fora escolhido pelo Senhor para a realização de uma grande obra. Aquelas palavras comoveram e fortaleceram Irma

e as lágrimas de tristeza que as acompanharam da saída de casa até o galpão, se transformaram em lágrimas de felicidade. A partir daquele momento seu espírito não mais se abateu, mesmo sabendo que o caminho seria longo e que não deveria temer as batalhas. Um enorme peso tinha sido removido de seus ombros e a paz reinou no coração de Irma. O galpão onde eram ministradas as pregações do Missionário Mello distava cerca de uma hora, a pé, da casa da família. Embora a distância fosse longa, Irma tornou o retorno para casa um momento feliz em que ela e os filhos se divertiam com as brincadeiras, conversas e risadas. Ainda da esquina do quarteirão, ela viu uma fumaça que saia de sua casa. Ao se aproximar percebeu que o incêndio estava saindo do quarto do casal. Por um instante ela não teve reação e só pensava no marido. Assustada, correu para saber o que havia acontecido e quando chegou viu que o marido estava dentro do quarto. Irma correu para tentar tirá-lo daquele lugar, gritando chamou os pais e o irmão mais novo que moravam na casa da frente do terreno. Entre chacoalhões e gritos ela conseguiu acordar o homem, que atordoado, não fazia ideia do que havia acontecido. Ele adormeceu com o cigarro acesso, que caiu de sua boca, fazendo a brasa incendiar o colchão. Devido à embriaguez, ele não conseguiu acordar, mas Irma salvou o marido de morrer incendiado.

O nascimento e a infância Um novo ano começou, os meses se passaram, e a gravidez chegou ao final. A despeito de toda a relutância do pai, o menino chegou ao mundo no dia 18 de fevereiro de 1962, à 01h00 da madrugada. A parteira da família, Dona Antônia, que já havia ajudado a trazer ao mundo os dois filhos do casal, foi a primeira a ver aquele menino robusto, nascido com quatro quilos. A felicidade de Irma irradiava o quarto onde dera à luz e seus pais se alegraram com a chegada de mais um membro naquela família. Irma dizia com muita convicção:

________________________________________________________ - Esse é o filho enviado de Deus! ________________________________________________

Ao ver o filho, Florentino despiu-se de sua armadura e reconheceu-se nele, pois Joel nasceu à semelhança do pai. Logo, nem foi preciso dizer nada, pois Joel lhe saiu “Esculpido em Carrara”. No cartório localizado à Avenida Penha de França, no mesmo bairro onde moravam, Florentino registrou o filho, Joel Stevanatto, sem se opor ao nome escolhido pela mulher, tampouco àquilo que trouxe tantas desavenças ao casal, o reconhecimento de ser ele o pai do menino. Quando criança Joel foi muito saudável, dado a traquinagens próprias da idade, além de ter aspectos de liderança, os quais apontavam o temperamento do homem que se tornaria no futuro. Entretanto, naquele momento, a liderança que exercia era pedra bruta que precisava ser lapidada, pois, sob sua batuta estava uma turma regida pelas peraltices que praticavam e sobre suas costas pesavam as responsabilidades das campainhas tocadas em horário indevido, os sustos nas velhinhas que saíam dos cultos, as latas de lixo viradas no chão. No Grupo Escolar Esther Frankel Sampaio, onde estudou o ensino primário, Dona Aparecida e Dona Marilda, as professoras de quem ele guardou boas recordações, tinham sempre algum assunto, cuja pauta para reuniões era Joel, e para as quais convidavam Dona Irma a participar. O bairro onde moravam e os poucos recursos que a família tinha, advindos do trabalho do pai como trabalhador da construção civil não permitiam à família grandes luxos, e a infância de Joel e seus irmãos foi simples e tranquila. O menino se ocupava de brincadeiras próprias de crianças que não tinham muitos brinquedos, mas eram fartos em criatividade. Gostava de brincar na rua, e sempre esteve às voltas com os irmãos mais velhos e os primos empinando pipas, rodando pião, esconde-esconde, pega-pega, mas a melhor brincadeira, aquela à qual ele mais gostava, essa ele dividia com o amigo Walter, que morava na rua paralela à casa de Joel e que, assim como Joel, gostava de jogar futebol. Aliás, o futebol foi a metáfora da vida de Joel e ele se deu conta disso muitos anos mais tarde. Joel frequentava a igreja da Penha junto com a mãe e participava dos cultos desde criança, pois ela fazia questão disso, ainda que ele não estivesse atento à pregação e se distraísse brincando. Irma tinha certeza que a Palavra de Deus influenciaria a vida do filho. Em um domingo à noite, após chegar do culto com a mãe, Joel ligou o aparelho de televisão e displicentemente parou na TV Cultura. Aquele canal exibia aos

domingos, às dez horas da noite, as reprises de jogos importantes dos principais campeonatos disputados. Joel, àquela época ainda garoto, contava com sete anos de idade, começou a assistir ao jogo disputado pelo Campeonato Brasileiro entre Palmeiras e Fluminense, quando aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, o lateral-direito do Palmeiras, Eurico, marcou um gol. A euforia causada pela sensação de estar no final do jogo e tudo parecer perdido, pois não havia mais tempo para reverter a partida, mexeu com as emoções de Joel. Nesse momento, aquele garoto da zona leste de São Paulo foi despertado pelo gosto pelo futebol e tornou-se palmeirense. O Palmeiras é, ainda hoje, o seu time de coração.

As referências O avô materno, Antônio, e o Tio Ênio foram os referenciais masculinos para os filhos de Irma. Eles supriram a lacuna deixada pelo pai devido à bebida alcoólica. Antônio foi um avô excelente, afetuoso e presente, e seria a primeira pessoa a quem Joel, já pastor, levaria a Cristo. O irmão mais novo de Irma percebeu muito cedo que seu papel na vida dos sobrinhos seria muito maior do que apenas do tio que visita aos finais de semana ou que leva para tomar um sorvete na praça. Pai de Solange e Fernando, “Tio Ênio” dividiu o seu amor com os sobrinhos e gostava muito de ter as crianças por perto. Em uma manhã, quando Joel contava a idade de cinco ou seis anos, “Tio Ênio” chegou em casa, dirigindo um caminhão. Aquele veículo seria usado para fazer fretamento, fator que aumentaria a renda da família. Para Joel, aquele seria o meio pelo qual a família poderia se reunir e se divertir, visto que eram raros os passeios e a oportunidade de fazer algo fora dos arredores da Penha. Quando o tio chegava em casa aquele momento se transformava no auge da diversão, pois junto com os primos a alegria estava garantida e o tio protagonizava os melhores momentos em família. Os sons que reverberavam naquele ambiente eram de crianças crescendo, risos de doer a barriga e afetos que criavam a memória afetiva dos pequenos. O tio fazia o que podia pelos sobrinhos, mas tinha um apreço especial por Joel. Nele, “Tio Ênio” via a possibilidade de realizar um sonho de juventude. Por gostar muito de futebol, foi o grande incentivador do sobrinho para ingressar na carreira

como jogador em um time profissional. “Tio Ênio” foi um dos responsáveis por apresentar o futebol ao menino que viria, pouco mais tarde, ingressar no time de base do Sport Clube Corinthians Paulista5, como lateral-direito. Com o intuito de enturmar o sobrinho com a “turma do futebol” o incluiu como sócio do Clube Esportivo da Penha6, e ali Joel ficou até que viesse a se mudar para Presidente Prudente, em 1983. Sempre que podia, o tio estava na arquibancada para assistir aos jogos e prestigiar o sobrinho, que nesses dias o procurava incansavelmente pela arquibancada, pois sua presença lhe dava força e Joel se sentia muito importante. O tio tornou-se o confidente de Joel, aquele que estava sempre presente na vida do sobrinho, que dedicava tempo para aconselhá-lo, que encorajava Joel a investir nos seus sonhos. Já na adolescência, motivado pelo desejo e incentivo de “Tio Ênio” de tornar o sobrinho um jogador profissional, Joel participou de uma peneira, no Parque São Jorge. Joel chegou ali por meio do amigo de infância e juventude, que convidou a participar da peneira, no ano de 1973 e lhe deu dicas de como poderia ingressar no time. O amigo Walter, companheiro das partidas de futebol na rua, foi o responsável por colocá-lo no elenco do time do Corinthians como lateral-direito. Esse foi o time em que Joel jogou até o começo da década de 1980.

A carreira no futebol Oportunidades nesse momento não faltaram. Depois que ingressou nas categorias de base do clube, houve uma sondagem para que Joel integrasse o Galícia Esporte Clube da Bahia, um time de terceira divisão daquele Estado. Se o convite tivesse se efetivado, ele teria seguido o início de uma carreira promissora no futebol. Por algum tempo essa paixão manteve sua chama acesa e ele construiu expectativas muito boas para sua vida. Aquela seria a oportunidade de ter uma vida melhor, ajudar a família e ter uma carreira de certa forma promissora, ainda que não fosse um time de destaque. Não se pode esquecer que a década

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Sport Clube Corinthians Paulista é o nome oficial do clube por ter sido inspirado em time da Inglaterra cujo nome era Sport Clube Corinthians. 6 Localizado à Rua Capitão João Cesário, o Clube Esportivo da Penha foi um polo importante de socialização dos “penhenses”, gentílico atribuído aos moradores daquele bairro.

de 1970 foi o auge para o futebol brasileiro, uma vez que o Tri Campeonato Mundial da Copa do Mundo havia sido conquistado em 1970, e a Seleção Brasileira vivia um tempo glorioso dentro e fora do país, fator que tornava a ideia de ser jogador profissional o sonho de todo garoto aficionado pelo esporte. Logo, para um jovem da periferia que se vê cortejado por uma promessa de contrato e que se depara com a manifestação de um sonho a ser realizado, o convite lhe caiu como uma luva. Mas, os sentimentos de Joel começavam a mudar. Em um sábado pela manhã, houve um jogo da final do Campeonato Interno do Clube da Penha, no qual ele compunha o time como titular, mas Joel não apareceu para a concentração. Naquela manhã ele deitou atenção à ministração do Evangelista Jimmy Swaggart7, o qual se tornaria, junto com o Missionário Mello e o Pastor Walter de Lima Filho, sendo esse pastor da Igreja Quadrangular, suas referências evangelísticas. Aquela pregação o deteve e Joel acabou por esquecer do compromisso com o time. Mas, eles não o esqueceram e foram buscar Joel em casa. Para eles, além de Joel ser o titular, sua presença seria muito importante, uma vez que ele era o mais jovem do time e a pouca idade lhe conferia maior resistência durante o jogo, em detrimento dos companheiros de time, mais velhos. Em outro jogo, agora pelo Corinthians, no campo do União dos Operários, disputando o Campeonato Paulista da Categoria Juvenil “B” ele se atrasou muito e ao chegar, o jogo já estava começando. Quando chegou ao campo deparou-se com o técnico que estava muito insatisfeito e que lhe entregou uma camisa de reserva não o deixando jogar naquele dia. Esse não foi o único episódio em que Joel estava disperso do jogo. No estádio Brinco de Ouro da Princesa, jogando pelo Corinthians, em um jogo contra o Guarani, ele foi advertido pelos companheiros, pois ao invés de estar atento ao jogo e aos lances do time adversário, ele, sem que ninguém soubesse, orava pela salvação daqueles que estavam ali presentes. O resultado foram vários dribles desconcertantes que ele sofreu e a partida foi perdida para o time de Campinas.

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Jimmy Swaggart é pastor, evangelista, autor de vários livros e músico. Seu ministério foi iniciado em 1956 com o propósito de atender ao “Ide de Jesus Cristo” (Mc 16.15)

Na escola se dava também o reflexo da mudança de pensamentos e sentimentos de Joel, que foi um bom aluno, demonstrado pelo histórico escolar emitido pela Escola Estadual de Segundo Grau “Nossa Senhora da Penha”, onde cursou formação profissionalizante básica para o setor terciário, evidenciava suas habilidades. Todavia, ele foi reprovado por faltas naquele último ano, devido aos treinos no futebol de salão, quando jogava pelas categorias de base. O futebol profissional passou a ficar secundário para Joel que a essa altura já travava batalhas internas quanto aos caminhos que viria a percorrer na vida. As dificuldades que ele poderia enfrentar em começo de carreira e o fervor da vocação pastoral foram os fatores determinantes para ele. Nesse momento, já passados cinco anos de seu ingresso no futebol, onde jogava simultaneamente nas categorias de base do Corinthians, no futebol amador e no futebol de salão do Clube Esportivo da Penha, houve a necessidade de decisão, pois em seu interior ele sabia que um pastor teria como missão acompanhar as pessoas sob sua responsabilidade, e isso não seria possível ser conciliado com a carreira de jogador de futebol, devido aos compromissos que um profissional deveria assumir com o time, como por exemplo, viagens, jogos e concentração dos quais teria que participar. O exercício pastoral da maneira como ele conjecturava, o fez perder o interesse e estímulo pela profissionalização.

A mãe Irma foi uma serva fiel e crente à promessa e à Palavra de Deus até o final de sua vida na Terra. A Igreja Evangélica Pentecostal, capitaneada pelo Missionário Mello, foi o local escolhido por Deus para o amadurecimento e crescimento espiritual de Irma, e isso foi fundamental para a vida cristã na qual foi direcionada a criação dos filhos. Irma foi membro da igreja local da Penha, onde exercia múltiplas funções: dirigia mulheres, culto, pregava e trabalhava arduamente na área social, preparava alimentação e levava nas favelas, arrecadava roupas para dar aos pobres, entre outras coisas. Irma, algumas vezes, fazia uma grande mesa em casa e levava os moradores da favela para uma alimentação regada por pregação e louvores. Florentino costumava levar a família para viajar durante uma semana, uma vez por ano, para o litoral. Ficavam hospedados em uma quitinete emprestada,

localizado em Cidade Ocean, na Praia Grande. Irma escolhia na folhinha de parede, cuidadosamente, uma semana que não coincidisse com a Santa Ceia na igreja. Se ela já não faltava nos cultos regulares, muito menos nos cultos de Santa Ceia. O marido nunca deixou de implicar com o compromisso de Irma com a igreja, e ela, nunca cedeu às implicâncias do marido. Ela sabia que aquilo não era uma força humana, mas sim, batalha entre o espírito e a carne, luz e trevas, aos quais só poderiam compreender aqueles que resolveram entregar a vida para Jesus Cristo. O jeito da mãe inspirava Joel. Ele via nela uma força inexplicável, que compreendeu com o passar dos anos e em sua caminhada com Deus. Ela alimentava uma devoção singela por Ele. A imagem dela todas as manhãs lavando roupa ou o quintal cantarolando corinhos e louvores são registradas na mente de Joel, mas quando a mãe estava sobre os joelhos eram as imagens que o filho guardou como as lembranças mais impactantes. O poder da oração daquela mulher mobilizava a mudança na vida de Joel, apesar de naquele momento outros interesses, além do futebol, entrarem no caminho dele. Joel influenciado pelas pessoas com as quais se relacionava, começou a frequentar festas, bailes, chegar tarde em casa, e isso preocupava a mãe. O comportamento do filho, por vezes, fazia Irma titubear quando trazia a memória a lembrança da noite de 18 de dezembro de 1961. Mas, suas orações a Deus seguiam sempre na direção de confessar, entre súplicas e clamores, suas dificuldades em enxergar no filho aquilo que o Senhor havia revelado, porém, ela sempre reafirmava sua fé no que haveria de se cumprir. Numa dessas madrugadas em que Joel chegou em casa e foi recebido pelo silêncio da família que já dormia, deitou-se devagar e sem fazer barulho para não acordar os demais. Virou-se para o lado cuja cama em que dormia ficava encostada na parede do quarto dos pais, e de lá ouviu uma voz baixa, mas clara o suficiente para compreender que as súplicas a Deus tinham como motivo, a sua vida. A mãe clamava ao Senhor, confessando e confirmando sua fé Nele, e pedindo que desse direção para a vida do filho. Joel ouviu a oração da mãe. Deus ouviu e atendeu. Em fevereiro de 1978, aos dezesseis anos de idade Joel já sentia o desejo de se batizar. Como o pastor da Igreja da Vila Esperança foi um homem bastante rígido, preso aos costumes, se recusou a batizar Joel porque ele jogava futebol e ainda

estava muito ligado a esse desejo. Devido a recusa de seu pastor e com o auxílio de um de seus irmãos, que falou ao Missionário Mello sobre sua situação, Joel foi batizado na Sede da denominação8 localizada no bairro da Pompeia.

O pai As emoções manifestadas na lembrança do pai, durante a infância e adolescência, por um tempo trouxeram a Joel um misto de confusão e revolta interior. Ele foi sendo impregnado por um sentimento de repulsa à bebida alcoólica, o que o fez ser avesso ao consumo de álcool. Durante as discussões com a esposa as palavras de Florentino assumiam um poder forte e negativo, que fazia Joel sentir, por vezes, raiva do pai, corroboradas pelas tentativas frustradas de aproximação, nas quais o filho não era correspondido. Apesar de não conhecer sentimentos como rancor e ressentimento, a rejeição do pai aflorava nele emoções que ele não gostaria de ter. O tempo passava e o relacionamento ficava ainda mais conflituoso. Mas, o pai apesar do modo como se relacionava com a esposa e com os filhos tentava oferecer à família alguns momentos de delicadeza e comunhão. No dia do pagamento ele promovia em casa a “noite da pizza”. O sabor era sempre o mesmo: muzarela9. As lembranças daquelas noites eram divertidas, pois a família esperava ansiosamente por aquele dia, que acontecia uma vez por mês e todos se reuniam para apreciar a iguaria. Numa dessas noites, Joel brincava com o cachorro da família, o Sultão. O animal feliz corria atrás de Joel e esperava do dono algumas sobras da saborosa pizza. Sultão era querido por todos e o menino durante a brincadeira quis mostrar a afeição dele pelo cão atribuindo-lhe o sobrenome da família. Inadvertidamente chamou o cachorro de “Sultão Stevanatto”, mas nem teve tempo para apreciar a

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A Sede da denominação está localizada no bairro da Pompeia, à Rua Carlos Vicari, 124, tendo sua construção iniciada em 1960, com capacidade para receber 9.000 pessoas. Por um longo período o templo foi o maior do mundo. Fonte: (ver bibliografia) 9 A opção pelo verbete “muzarela” não desconsidera a existência de outras formas ortográficas, tais como: muçarela e mozarela. Fonte: Vocabulário Ortográfico de Língua Portuguesa (eletrônico) produzido pela Academia Brasileira de Letras.

criatividade, quando sentiu o rosto arder pelo tapa que o pai lhe dera e logo em seguida, com um ar contrariado que amedrontou ainda mais o filho, afirmou que o seu sobrenome não seria atribuído a um cachorro. Outra lembrança que Joel traz à memória foi de uma noite em que os pais discutiam de forma muito intensa. Não há resgate do diálogo produzido pelo casal que seja mais marcante do que a imagem dos móveis da sala derrubados e afastados uns dos outros e alguns objetos quebrados. Os irmãos de Joel tentavam se proteger e proteger Joel, que a essa altura estava acuado em um canto da sala, sentado no sofá com braços ao redor das pernas, chorando muito. Os irmãos pediam para que os pais parassem de discutir, e um deles, na tentativa de encerrar a discussão, dizia em voz alta aos pais que eles estavam causando um trauma em Joel. De uma forma bastante madura ele, aos gritos, tentava convencer os pais que aquela situação poderia impor marcas profundas na vida daquela criança. Joel guardou essa lembrança muito clara em sua memória. As palavras, imagens, ruídos são bastantes vivas, embora isso não tenha destruído o amor pelo pai, mesmo diante da ausência de memórias felizes que pudessem ser retratadas. O tempo permitiu a ele compreender que a imagem gravada dessa lembrança foi permissão do próprio Espírito Santo de Deus, para que servisse de testemunho da obra que Deus faz, pois isso não se tornou uma memória amarga, tampouco lembrar disso lhe traz desconforto, mas ele soube que tudo dependeu da ação de Deus em sua vida.

Jamil Assim como a mãe fez Joel ir aos cultos quando criança, também não deixou de fazer em sua adolescência. A mãe e os filhos frequentavam a Igreja da Penha. Mas, nesse momento uma pessoa significativa entrou na vida de Joel. Sem que algum dia viesse a saber, ele foi seu “pai na fé”. O seu nome: Jamil Amin Boudaye. Ele foi frequentador da igreja local de Vila Esperança. Jamil acreditava que Joel poderia ingressar na igreja da Vila Esperança, pois lá havia muitos jovens e adolescentes da mesma idade deles, diferentemente da igreja da Penha, assim Joel poderia ter um comprometimento maior com Cristo, se envolto por outros jovens. O amigo insistia no convite para ir ao culto dos

sábados à noite, mas Joel resistia em ir, já que acompanhava a mãe na Igreja da Penha. Em um sábado à tarde o rapaz chegou no portão da casa de Joel, muito convicto do seu objetivo, chamou e foi atendido por Dona Irma. Ele queria mais uma vez convidar Joel para a igreja a todo custo, mas esse não foi o desejo de Joel. O rapaz insistiu muito naquela tarde e não queria ir embora de mãos vazias, por isso, pediu a mãe de Joel que o chamasse para irem ao culto. Joel pedia a mãe que desse uma desculpa ao amigo, pois ele não queria ir. A mãe estava constrangida com a situação, se negou a mentir, porém o filho insistia para que ela dissesse que ele não estava. Mas, Jamil aguardou até que Dona Irma o autorizou a entrar na casa e ficou à porta do banheiro onde Joel estava, tentando convencer o amigo. Bateu uma, duas, várias vezes, insistentemente, até que Joel gritou lá de dentro que não estava se sentindo bem naquele dia, e por isso não poderia acompanhar o amigo. Aquela foi uma visita derradeira. Depois de tanto insistir, Jamil abriu mão de levar o amigo para a igreja, foi embora e não mais voltou. Ele não conseguiu levar Joel na igreja da Vila Esperança naquele sábado, mas com o passar dos dias Joel sentiu sua falta e não compreendeu por que o amigo “largou a rede”. No dia 12 de agosto de 1978, Joel teve o ímpeto de ir à igreja da Vila Esperança, a mesma cujo convite feito pelo amigo fora recusado. Ainda à porta encontrou-se com o amigo que não via há algum tempo. Cumprimentaram-se rapidamente e Jamil foi embora. Logo depois, Jamil foi congregar em outra igreja, devido a divergências de opiniões que manteve com a liderança da igreja. Ao final daquele culto, Joel dirigiu-se à líder da mocidade, seu nome era Hilda, e disse para ela que a partir daquele dia ela poderia contar com ele, pois ele ingressaria na igreja como membro, para ficar. Ele cumpriu o que disse, pois no dia seguinte e nos demais que se seguiram ele esteve presente às atividades de evangelismo e não mais parou. No domingo seguinte Joel foi pregar na Praça de São Miguel Paulista. A sua maneira de enviar o evangelho, naquele momento, quando ainda estava iniciando os trabalhos, foi abrir a bíblia, ler os versículos e em voz alta chamar a atenção das pessoas para aquilo que estava falando. Ele pregou nas favelas e na antiga Febem, instituição criada e mantida pelo Estado, que acolhia menores infratores.

Assim ele começou sua caminhada, sem titubear, fazendo aquilo que precisava ser feito.

A visão Agora sua disposição para o serviço ao Reino de Deus crescia e ele participava de pregações em diversos locais. Onde havia oportunidade para levar a Palavra ao povo ele estava: nos retiros de jovens, nas ações sociais promovidas pela igreja, dentro da própria igreja junto à mocidade. Seu tempo dedicado à oração e a ouvir pregações havia se ampliado e ele a cada dia estava mais voltado a tudo o que se referia a Deus. Dona Irma exultava em ver o filho tão empenhado no compromisso com a igreja. Ela foi a grande encorajadora para que isso acontecesse. Os meses foram se passando e como não poderia deixar de ser, o Espírito Santo de Deus foi trabalhando no coração de Joel, que buscava ter intimidade com o Senhor, e assim encontrou um lugar em sua casa onde o silêncio e a reserva fossem a combinação própria para alcançar o falar e ouvir de Deus. O telhado da casa foi o lugar escolhido por Joel. Ali ele orava, lia algumas passagens da bíblia, meditava na Palavra de Deus, refletia sobre sua vida tanto referente à igreja quanto em relação as suas questões mais subjetivas e individuais, como a carreira no futebol. Estratégias não faltavam para que aquele lugar se tornasse, por um bom tempo, um lugar de encontro com Deus, assim, em noites frias, por exemplo, o tempo não intimidava Joel e nem o desencorajava a buscar a presença do Pai, pois seu cobertor subia ao telhado com ele, para lhe aquecer enquanto estivesse por ali. Se o tempo estivesse chuvoso, o guardachuva fazia o plantão. Para subir naquele telhado ele escalava a laje de um quartinho que havia na frente da casa. O lugar onde ficava permitia a visão do menino orando em cima do telhado, a qualquer pessoa que passasse pela rua, fato que não o incomodava e nem o preocupava sobre aquilo que viessem a pensar. E como eram ricos aqueles momentos! Joel ainda se sentia dividido, menos do que antes, mas, ainda dividido. Sabia que o caminho que havia escolhido lhe cobraria um compromisso real e irrefutável que, uma vez assumido, não haveria de ter retorno.

O futebol ainda estava lá, fazendo parte de sua vida, ocupando um espaço importante, que lhe impunha uma agenda, pois ele ainda estava ligado ao clube e aos times de futebol amador. As atividades na igreja foram se tornando maiores e ele tentava conciliar tudo da maneira que podia, mas tendo o pensamento direcionado na escolha que fez meses antes. O serviço ao Reino de Deus se tornara imperativo na vida de Joel. Ele ainda não sabia onde chegaria, mas tinha certeza que Deus queria algo maior para ele. A certeza do atear do fogo do Espírito Santo para o chamado ministerial aconteceu numa noite de inverno, em que ele subiu ao telhado para orar.

“Eu vi uma mão descendo do céu. Apenas a mão e parte do braço. A mão segurava uma grande colher e se dirigia a mim, guiada por uma voz que ordenava: Abra a boca! À medida que eu obedecia àquela ordem, a colher derramava algo como uma “sopa de letrinhas” em minha boca. As letras foram sendo engolidas por mim, mas eu conseguia discernir a palavra que estava se formando: Salmo 119”10.

Joel àquela altura já fazia uma leitura inicial da Bíblia, mas não tinha a instrumentalidade que foi obtida anos mais tarde como pregador. Por isso, quando recorreu à Palavra para saber o que o Salmo 119 dizia, ele teve a impressão que aquela leitura não acabava, pois à medida que virava as páginas, não via o final do texto. Entretanto, mesmo não sendo exatamente naquele momento, Joel, com o passar do tempo, percebeu que o valor da Palavra de Deus estava “impregnado” nele. Aquela visão gerou em Joel uma convicção sobre qual a direção de Deus para sua vida. A Palavra seria o seu instrumento e por meio dela, ele serviria a Deus. O chamado de Joel foi para o Pastorado, com ênfase para ser pregador da Palavra de Deus 11. O chamado vocacional se deu quando Joel estava com dezesseis anos de idade.

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O salmo 119, composto de cento e setenta e seis versículos, traz em seu bojo o “Valor da Palavra de Deus”, instrumentalizado na Lei de Deus em ordens profundas, em todo o texto. No versículo nove o salmista levanta uma questão e em seguida responde: Como pode o jovem manter pura a sua conduta? Vivendo de acordo com a sua palavra.

Joel se tornara um adolescente, e como tal, queria ganhar o próprio dinheiro, as quais os recursos advindos do salário do pai não alcançavam, mas para isso precisava trabalhar, e com autorização dos pais realizou alguns trabalhos nessa fase. Aos onze anos trabalhou por meio dia ajudando o pai na demolição de uma casa. Esse foi o tempo que durou o trabalho, apenas meio dia, pois Joel à hora do almoço disse ao pai que iria para casa almoçar e não mais voltou, nem naquele dia e nem nos demais. Depois disso, aos treze anos ele trabalhou como feirante, vendendo biscoitos e dessa vez por mais tempo. A igreja, o futebol e a escola estavam todos orbitando sobre rotina de Joel. Depois disso, ele trabalhou como contínuo em uma serralheria, apoiado pelo “Tio Ênio”. Naquele lugar ele ocupavase indo em bancos, pagando contas e o proprietário da serralheria o liberava para treinar no Corinthians, nos dias estabelecidos. A sua oportunidade de trabalho com carteira assinada começou a mudar para ele quando, aos dezessete anos, ele ingressou no Banco Auxiliar para trabalhar por meio período ainda como contínuo e depois no Banco Real como caixa. Essas atividades permitiram por um tempo que Joel conciliasse as atividades.

O chamado O Pastor Walter de Lima filho, vice-presidente da Igreja do Evangelho Quadrangular, sempre era convidado a pregar em alguns eventos de jovens na Igreja da Vila Esperança, quando em um dos eventos, se aproximou de Joel o aconselhou a fazer seminário. Naquela época o pastor era também professor e ministrava aulas no seminário da Igreja do Evangelho Quadrangular – IBQ, para o qual Joel respondeu de forma evasiva, pois ele não tinha interesse em fazer seminário. Não naquele momento. O ano era 1980. A Igreja O Brasil Para Cristo não oferecia seminário, ainda. O pastor Walter de Lima voltou a procurar Joel, insistindo para que ele se matriculasse no seminário. Porém, com o seminário oferecido pelo IBQ tinha muita procura, alguns prérequisitos foram estabelecidos para ingresso de novos membros, dos quais Joel utilizou como argumento para não ingressar no ano seguinte, 1981. Um dos prérequisitos seria o ingresso no seminário apenas para membros da Igreja do Evangelho Quadrangular e Joel pertencia à Igreja O Brasil Para Cristo; o outro

fator seria o ingresso de alunos com o segundo grau concluído, e naquele ano Joel foi reprovado por faltas, devido aos treinos e jogos no futebol. Durante o mês de novembro de 1980, durante um congresso realizado na Igreja da Vila Esperança, o pastor chamou novamente Joel para ingressar no seminário, porém Joel usou o argumento de não ser membro daquela, ao que o pastor respondeu que não seria problema, pois sendo o pastor vice-presidente da igreja, à revelia tornou Joel membro da Igreja do Evangelho Quadrangular, da Praça Olavo Bilac, mesmo sem ele ter participado de algum culto. O primeiro impedimento está resolvido. Ainda restava resolver sua situação na escola. Joel não queria desistir da escola e nem poderia, pois não conseguiria ingressar no seminário. O pastor orientou o jovem a pedir abono de faltas ao que Joel atendeu. Depois de bastante insistência de Joel, a diretora da escola aconselhou Joel a comparecer à formatura com a condição que, se ela chamasse o seu nome ele estaria formado, caso contrário ele deveria cursar o último ano novamente. Joel compareceu à formatura, com o pensamento que seria inútil, pois suas faltas não seriam abonadas. Durante a entrega dos certificados seu nome não foi chamado, e ele já estava confortável, pois estava certo que iria fazer o colegial novamente. Ao final da chamada, que ocorreu por ordem alfabética, ela chamou seu nome. Surpreso, porém, ciente do acordo que fez com a diretora da escola, Joel finalizou o segundo grau e ingressou no seminário. O caminho de Joel recebia mais alguns traçados feitos por Deus. Apesar de toda preparação conduzida pelo pastor Walter de Lima, Joel, em 1981, ingressou no seminário, ao qual, no primeiro ano ele não levou com seriedade. Ele dividia o tempo de estudos no seminário com os treinos às terças e quintasfeiras como antes. Porém, o seminário começou a impactar sua vida. Joel, inicialmente, não ingressou no seminário com a convicção de chamado, porém foi ali, durante as aulas, que ele se deu conta das circunstâncias geradas pelo próprio Deus, para fazê-lo encontrar o caminho. No segundo ano, ele largou o futebol de salão, embora continuasse apenas no Corinthians. Porém, o seminário estava trazendo para Joel a convicção do ministério pastoral e internamente ele já deixava o futebol.

No último ano do seminário, por volta do mês de agosto de 1983, aconselhado pelo Pastor Milton Carvalho de Souza 12 foi à denominação e lá foi convidado pelo presidente da denominação, Pastor Ivan Nunes, para pregar na igreja de Taubaté. Poucos dias depois, Joel foi para aquela cidade, localizada no Vale do Paraíba, e realizou o culto na igreja local. Depois desse dia não voltou na cidade e não soube o motivo, mas o propósito de Deus estava direcionado para outro lugar, que o levaria para outro lugar. Foram três anos estudando no seminário onde se formou em dezembro de 1983. Ao final, Joel compreendeu a sua direção. A essa altura ele sabia que para assumir o ministério deveria ter dedicação exclusiva e não parcial para o serviço. Nesse tempo, conheceu a mulher que viria a ser sua companheira durante toda a vida, Leonor Maria Pereira Pinheiro Stevanatto, ou simplesmente a “Léo”, como todos a chamariam. A convicção para o chamado pastoral nascida naquela visão no telhado da casa da Penha e que agora, findado o seminário, se consolidava, foi um segredo revelado apenas para ela, sua mulher, que desde o início foi preparada pelo marido para aquilo que viria pela frente, ou seja, Joel acreditava que, como pastor, teria uma vida de muitas dificuldades, sem a segurança de um salário fixo e mensal como em uma empresa privada, vivendo pela fé e tão somente por ela. Essa certeza poderia ser compartilhada com a mulher que não duvidou em nenhum momento, acreditou no chamado do marido e seguiu, lado a lado com ele. Na Igreja de Vila Esperança, eles se conheceram e, ao iniciarem um namoro, já estava estabelecido por Deus que aquele relacionamento teria direção para casamento. No pedido, ele foi muito objetivo com Leonor dizendo que, sendo ela casada com um pastor, teriam uma vida simples e talvez de dificuldades. Casaram-se em 26 de março de 1983 e foram morar em uma casa cedida por um irmão da igreja do Cangaíba, com poucos móveis, alguns ganhos de parente e amigos (?), outros improvisados como um caixote de frutas que lhes servia de sofá, porém, cheios de alegria pelo casamento que se iniciava e pelas promessas do Senhor, na vida de ambos.

12 12

O Pr. Milton Carvalho de Souza, foi o pastor de Joel na Igreja O Brasil Para Cristo, na Vila Esperança. No momento da escrita dessa biografia, pastoreia a Igreja O Brasil Para Cristo, no Litoral Norte de São Paulo

Em contrapartida, o seu trabalho no banco estava sendo bastante promissor, pois ele pleiteava ascender a outros cargos aos quais seus gestores percebiam potencial nele, entretanto, quando terminou o seminário, o desejo por promoções no banco já não fazia os seus olhos brilharem, e o trabalho estava se tornando um fardo. Todas as manhãs, ao sair para o trabalho, morando na Penha e dirigindo até a Avenida Angélica, Joel o fazia aos prantos, sentido a admoestação do Espírito Santo para cumprimento do chamado. No mesmo mês que terminou o seminário, se dirigindo ao trabalho, agora na Vila Mariana, ele novamente chorou, um pranto amargo, de alguém que precisava atender a Deus. No estacionamento do banco, permaneceu dentro do carro por um tempo, tentando dissipar as emoções causadas pelo pranto, quando de repente esbarrou em sua Bíblia que estava aberta no Livro do Profeta Isaías, no capítulo 49. Ele pegou a bíblia e iniciou a leitura, buscando direção do Senhor, mostrando a Ele o seu coração quebrantado pela angústia da dúvida. Ao discorrer na leitura, o Senhor falou ao coração de Joel, por meio do versículo seis, e lhe perguntou:

“Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel? Também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra. ” (Is. 49.6)13

Aquela foi a confirmação, a resposta, a libertação de um tempo de angústia que Joel esperava. Agora não havia mais nenhuma dúvida, nem promessas de promoção no trabalho ou oportunidades no futebol que impedissem Joel de cumprir o que foi estabelecido por Deus, e entregue pelo Missionário Mello a sua mãe, na noite de 18 de dezembro de 1961. À pergunta feita por Deus, Joel respondeu:

-Não, Senhor, não é pouca coisa.

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Imediatamente ele saiu do carro, resoluto a pedir demissão do banco. Saiu pelo estacionamento em direção à agência, subiu ao andar superior onde se encontrava o chefe. A cada degrau, seus passos estavam tão firmes e convictos da mudança, que ele sentia que nada o deteria de cumprir seu propósito. Entrou na sala do gerente do banco, sentou-se à frente dele e disse que precisava tratar de um assunto importante. O chefe nem deixou Joel iniciar a conversa e disse que também precisava falarlhe, já anunciando a promoção que recebera depois de seis meses de espera e orientando sobre os trâmites que deveriam ser tratados. Joel surpreendeu o chefe, quando anunciou que já havia sido promovido, e o deixou ainda mais surpreso quando pedir demissão, pois a promoção foi-lhe dada por Deus, que o havia separado para ser pastor.

Ditoso o homem que fiel concentra De seu Deus criador na lei divina Todo o seu pensamento e seu afeto, E nela só medita noite e dia! Ele será qual árvore frondosa, Banhada por arroios cristalinos, Que bons frutos produz na quadra própria, E nunca perde o viço e a louçania. (Fagundes Varela 14 - excerto)

Capítulo 2 O início A promoção do banco teria representado uma grande mudança de vida para Joel. O salário seria três vezes maior do que recebia até aquele momento, além da possibilidade de galgar outras posições dentro da instituição; da perspectiva da construção de uma carreira e, consequentemente, a possibilidade de oferecer uma vida melhor para sua esposa, com mais recursos materiais e mais tranquilidade financeira. Aquela foi a oportunidade que muitos de seus colegas aguardavam ansiosamente, porém, para Joel, ela chegou quando sua vida passou por uma mudança de cento e oitenta graus e não havia mais possibilidade de retorno, uma vez que os propósitos de Deus em sua vida já estavam estabelecidos.

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Romancista brasileiro do século XIX, nascido em Rio Claro, interior de São Paulo, em 1841.

Surpreso, o gerente quis compreender qual foi o chamado de Joel. Como e quando ele havia tomado aquela decisão? Como ele viveria? Ele estava certo daquilo que queria? Aquelas eram perguntas para as quais Joel não tinha respostas. Ele sabia que deveria obedecer ao chamado, e essa foi a única certeza daquele momento, ou seja, nada nem ninguém o fariam desviar do caminho. Joel saiu do banco e partiu para uma nova trajetória em sua vida. Deixou para trás todos aqueles dias de angústia que antecederam a decisão, e agora sentia-se leve como se liberto de um fardo e, ao mesmo tempo, ansioso para iniciar seu ministério. Viver pela fé é verdadeiramente colocar os pés onde não há chão, mas ter a certeza do sustento de Deus. E Joel seguiu exatamente por esse caminho, vivendo pela fé. Entretanto, não foi apenas o agora ex-chefe que ficou surpreso com a sua decisão. Em sua família, além da surpresa, as opiniões se polarizaram, mesmo partindo de pessoas que conheciam a Palavra de Deus. Irma exultou de alegria, e testemunhava aquilo que Deus lhe dissera, através da vida do Missionário Mello, no púlpito, em 1961; já seus irmãos o viam com certo descrédito, sem apoiá-lo, tampouco desencorajá-lo, mas com desconfiança. Mas, havia uma pessoa para quem o discernimento trouxe a sensatez de esperar pelo tempo de Deus e entender, mesmo com pouca idade, que tinha uma missão junto àquele que viria a ser seu marido. Leonor confiou em Deus, no chamado e no marido. Ela esteve ao seu lado todo o tempo, e ainda jovem na fé, com pouco tempo de conversão teve a convicção que seu marido foi um homem escolhido por Deus. Desde o curto período de namoro que antecedeu o casamento, ela já havia sido preparada por Joel para ser sua mulher, esposa, auxiliadora e amiga, todas as características e atitudes da mulher de um pastor. A sua disposição para seguir o marido nunca foi empecilho para o cumprimento dos propósitos de Deus na vida de ambos. Para ela não importava se viveriam uma vida simples e com algumas dificuldades. A sua vida ministerial começava junto com seu marido, e a única coisa que importava é quem ambos estavam cheios da presença de Deus e da certeza que, passassem o que passassem, Deus estaria com eles o tempo todo, e principalmente nos momentos de silêncio. Joel não fazia lobby com o chamado que havia recebido de Deus. Não fez nesse momento de revelação e mudança, tampouco o faria nos momentos que se sucederam. Todas as suas expectativas, os planos, a ansiedade por iniciar no

serviço ao Reino de Deus, tudo, exatamente tudo foi compartilhado com aquela que, além de sua esposa, foi o alicerce usado por Deus para sustentar Joel nos desafios que o jovem pastor enfrentou até ali e aqueles que estariam por vir. Joel nessa etapa contava com a idade de vinte e um anos. Ele era muito jovem aos olhos daqueles que decidiriam os rumos de seu ingresso no pastoreio, mas, com a idade ideal para Deus. A juventude atribuía a Joel um perfil pouco convencional para um pastor: usava bigode, calças jeans e, jogava futebol. Esse último trouxe a Joel uma experiência pitoresca quando chegou o tempo da consagração ao pastoreio, no Grande Templo, no bairro da Pompeia. Mas isso é uma história para os capítulos à frente. Essas características causavam estranhamento para alguns crentes mais tradicionais, uma vez que o pentecostalismo no Brasil teve como escola a doutrina das igrejas europeias, e, não obstante, a cultura e modo de vida daquelas pessoas estiveram, desde sua gênese, impregnados nas bases da criação dessas igrejas em território brasileiro. Portanto, o perfil de Joel lhe trouxe holofotes, no mínimo, inusitados. Naquele momento, Joel tinha uma definição de certa forma tímida em relação à vida ministerial, no que se refere ao suprimento das suas necessidades essenciais, pois entendia que, como pastor, teria uma vida simples, com muitas privações, sem recursos financeiros, vivendo do pouco que a igreja conseguisse mantê-lo. Esse pensamento se justificou pelo modelo que ele tinha uma vida dedicada ao ministério pastoral, cuja serviço no Reino de Deus deveria ser exclusiva e totalmente entregue a Ele, não cabendo a divisão do tempo com trabalhos seculares. Futuramente ele viveria uma experiência que consolidaria essa postura inicial. A pressão do Espírito Santo não o permitia ter prazer em qualquer outra coisa, que não fosse sua vocação. A vocação foi a engrenagem que o moveu a sair do banco, assim como, foi ela quem o fez procurar várias vezes na Vila Esperança, o seu Pastor Milton Carvalho de Souza. Joel conversou com o pastor Milton sobre o desejo de sair do banco para servir Deus. Na verdade, foram três as vezes em que essa conversa ocorreu, porém, na terceira vez, Joel o procurou com a decisão de sair do banco já tomada. Apesar disso Joel não vislumbrava servir como pastor e nem alcançar posições dentro da igreja. Queria dedicar-se a auxiliar o pastor Milton naquilo que fosse necessário,

visto que por manter um emprego secular, o pastor não dispunha de tempo para acompanhar os membros da igreja. O pastor Milton tinha uma posição contrária à posição de Joel, ou seja, para ele Joel não deveria ter deixado o emprego. Ele acreditava em Joel, mas por viver na pele as dificuldades de gerir uma igreja com poucos recursos e ter uma família para manter, entendia que Joel deveria ter um emprego que o sustentasse. Na igreja da Vila Esperança, Joel continuava a servir onde havia necessidade: consagrado a presbítero logo após seu casamento, serviu nesse ministério por seis meses; foi líder de jovens; dirigia alguns cultos; pregava fora da igreja, nas praças e favelas, servindo a Deus e cuidando de pessoas. Joel propôs ao pastor Milton que ele realizasse um trabalho como auxiliar do pastor , que compreendia em fazer visitas aos membros enfermos, cuidar do escritório da igreja, além dos cuidados que a igreja necessitasse, uma vez que seu pastor não conseguia suprir essas lacunas, devido trabalho que exercia fora da igreja e assim, a título de auxílio, a igreja o ajudaria com algum recurso. O pastor Milton, preocupado com Joel que acabara de se casar, entendendo toda a responsabilidade que tinha, bem como as demandas do início de um casamento, não aceitou a proposta feita por Joel, porém, sabia que tinha uma missão importante na vida dele. Por meio dele, Joel já havia tido contato com a liderança da denominação, quando no último período do seminário, teve a oportunidade de ministrar em Taubaté. Aquela foi uma experiência da qual Joel nunca soube do resultado, uma vez que não houve um retorno sobre a visita àquela cidade. Poucos dias depois da saída de Joel do banco, o pastor Milton o acompanhou ao escritório da Convenção da denominação em São Paulo, onde foram recebidos pelos pastores Orlando Silva e Luiz Fernandes Bergamin15 que já conheciam o jovem rapaz e sua esposa. Último mês do ano de mil novecentos e oitenta e três. O local foi o centro da cidade de São Paulo. O endereço marcado foi o quarto andar, na sala 407, localizada à Rua Sete de Abril, 235. O chamado assumia sua face. O pastor Orlando Silva, presidente da denominação, havia agendado a reunião com a diretoria, e naquele dia Joel foi recebido pela liderança. Certamente essa

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O pastor Bergamin havia realizado a cerimônia de casamento entre Joel e Leonor, pois na ocasião o pastor Orlando Silva teve um problema de saúde e não pode realizar o matrimônio.

recepção foi muito significativa em toda a sua caminhada, pois Joel chegou diante deles sem qualquer experiência que lhe atribuísse um currículo e que lhe garantisse sua inserção no ministério da denominação, embora tenha sido recebido com muito respeito e crédito. Joel não estava sendo guiado por emoções, aliás elas pouco importavam naquele momento. Dúvidas, medo e ansiedade não chegaram com ele àquele endereço porque ele tinha convicção de seu chamado, apesar de não saber qual direção a sua vida tomaria a partir dali. Ainda que não soubesse quando iniciaria e para onde seria enviado, se como pastor, auxiliar de pastor ou outra posição, ele tinha apenas uma certeza: independente do que viesse a acontecer, ele estava disposto a obedecer. A obediência definiu a vida de Joel desde aquela noite de sábado em 1978. Ela foi a forja que moldou seu caráter cristão ao longo do tempo e foi o elo entre Joel e a vontade de Deus, pois sabia que o Pai o havia chamado para servi-Lo de maneira exclusiva, verdadeira e entregue. Ele não estava preocupado, tampouco com medo, mas certamente um pouco curioso para saber quando começaria a servir integralmente no Reino de Deus. Acreditava que poderia ser em qualquer função, até mesmo no escritório da denominação. Mas, Deus tinha planos maiores para ele. Os planos de Deus foram outros, os quais sua mente humana não poderia imaginar. Na sala de espera do escritório Joel aguardava o término da reunião, e enquanto esperava uma posição da liderança, pôs-se a botar reparo no ambiente. O escritório tinha um amplo espaço, simples e funcional, onde trabalhavam cerca de quatro pessoas. O conjunto tinha móveis de madeira e as paredes pintadas de branco conferiam ao lugar a sobriedade que o local exigia. Mais adiante havia a sala da presidência, local onde estava sendo realizada a reunião com os pastores que definiriam os próximos passos de Joel. Durante aquela reunião a liderança da denominação levantou algumas igrejas que precisavam de pastor e para as quais Joel poderia ser enviado. Ele estava disposto a servir onde fosse determinado, embora intimamente desejasse servir na igreja da Vila Esperança. Ao final dessa reunião, a liderança decidiu que Joel seria enviado para uma igreja localizada na cidade de Assis.

O martelo sobre a decisão de enviá-lo para a cidade de Assis já havia sido batido, e os ajustes finais estavam sendo tratados, quando o pastor Antônio Martins, secretário da Convenção da denominação de São Paulo, que dirigia a igreja localizada no Bairro do Limão, redarguiu se posicionando contrariamente à decisão tomada, motivado pela situação na qual a igreja de Assis estava exposta naquele momento, convencendo os dirigentes a mudarem de opinião. A igreja de Assis havia sofrido um grande trauma. O pastor que dirigiu a igreja teve um romance com uma jovem que foi membro da igreja, cometendo adultério. O caso foi descoberto por todos naquela cidade, e gerou um grande escândalo para a vida da igreja, porém, o pastor recusou-se a deixar do ministério. A situação durou tempo suficiente para que a família da jovem, revoltada com aquela exposição, decidisse resolver o assunto com as próprias mãos. Dominado pela ira e com sede de vingança, um familiar da jovem resolveu, diante da igreja, durante um culto, no púlpito, desferir trinta e duas facadas no pastor, matando-o ali mesmo. Aquela cena fez parte da memória da igreja por muito tempo e por se tratar de um assassinato ocorrido dentro de um templo religioso, em uma cidade pequena como Assis, a notícia repercutiu amplamente no noticiário e na vida da população daquele lugar. Logo, enviar um jovem recém-casado e iniciante no ministério para lá, seria uma decisão incauta e a liderança entendeu que não seria o melhor caminho. Após algumas reflexões, decidiram que enviá-lo para uma cidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente, para conhecer a igreja de lá. Eles o convidaram a conhecer a igreja, mas, Joel, bastante objetivo, mesmo com a pouca idade, pediu à liderança que o autorizasse a assumir aquela igreja mesmo sem conhecer, uma vez que foi a igreja cogitada para que ele pastoreasse. Após a definição da cidade para a qual Joel iria, o pastor Antônio Martinelli 16, um dos líderes que participaram da reunião, acompanhou Joel até Presidente Prudente, em uma viagem que durou cerca de quatorze horas, feita pelo trem da extinta Estação Ferroviária Sorocabana, a fim de apresentá-lo para a membresia da igreja.

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No momento da escrita dessa biografia, o pastor Antonio Martinelli congrega na IOBPC em Franca, mesma cidade onde mora atualmente.

No dia 18 de dezembro de 1983 ele tomou posse da pequena igreja, localizada no bairro Jardim Aviação, em Presidente Prudente. No dia seguinte voltou para São Paulo, a fim de resolver situações burocráticas e arrumar a mudança para a nova cidade.

Florentino adoece Uma das situações que Joel precisava cuidar antes de partir era a de seu pai, Florentino. O alcoolismo já o havia dominado a ponto de não ser viável mantê-lo apenas aos cuidados de Irma, pois sua saúde demandava cuidados específicos e integrais. Os motivos que levaram Florentino a se render às fugas causadas pelo álcool, suas angústias, dores e frustrações nunca foram conhecidos da família, mas certo é, que o alcoolismo acompanhou o pai de Joel, a ponto de, em determinado momento, ele não conseguir gerir a própria vida. Apesar de a esposa e os filhos servirem ao Senhor, Florentino foi o desafio que poderia ter tornado a relação com Deus mais frágil naquela família, pois ele não se rendeu a viver para Jesus durante seu tempo de vida. Ao longo de sua história ele declarou aceitar a Salvação de Jesus muitas vezes, e outras tantas desistiu da decisão, tomado pelo vício. O seu comportamento depunha contrariamente à sua decisão. Avesso aos dogmas religiosos do Cristianismo, Florentino travou em vida uma batalha entre o espírito e a carne, sobre a qual ele não tinha domínio, tampouco condições de vencer. Os irmãos mais velhos já haviam se casado e se aproximava o dia da partida para a cidade de Presidente Prudente. Sendo o filho mais novo e último a sair de casa, Joel ficou muito preocupado com a situação do pai e com a fragilidade de Irma diante da doença do marido. Embora muito difícil, tomou uma decisão importante: internou Florentino em uma clínica para tratamento do alcoolismo. Mas, a doença já lhe havia consumido boa parte dos dias, e quando ele chegou na clínica já estava em um estágio avançado de cirrose hepática. Seu fígado estava bastante comprometido e a gravidade de seu estado não lhe garantia muito tempo de vida. Não havia muito a ser feito, porém, a família se preocupava com a salvação espiritual dele. Futuramente eles vieram a saber que em uma noite, logo nos primeiros dias do mês de janeiro de 1984, chorando muito e com o coração quebrantado, Florentino

aceitou Jesus como seu Salvador. Essa conversão se deu poucos dias antes que ele viesse a falecer, e foi testemunhado apenas pelo enfermeiro que cuidou de Florentino nos últimos dias de sua vida.

Os desafios de uma igreja de pequena A direção já estava estabelecida e a posse da igreja realizada. Agora Joel e Leonor teriam pouco tempo para cuidar dos ajustes finais e seguir viagem. Nessa época, Leonor trabalhava na empresa Robert Bosch S/A, indústria da área de metalurgia, multinacional, onde Leonor ocupava o cargo de secretária júnior e onde almejava projeção profissional. Ela sabia que teriam uma vida simples, de algumas privações, com muitos desafios e, sobretudo, de muitos aprendizados. Mas, ela não teve dúvidas quando Joel comunicou que estavam de mudança para outra cidade. Logo, quando saiu a decisão da denominação de enviar Joel para o interior de São Paulo, e tendo sido definida a cidade de Presidente Prudente, ela já estava preparada para as renúncias que teria que fazer e para viver em concordância com o marido sobre as decisões que conduziriam suas vidas. A mudança estava toda dentro do caminhão e ambos estavam prestes a partir, quando um irmão da igreja da Vila Esperança deu-lhes uma notícia a qual não esperavam: o pai de Joel havia acabado de falecer. Aprouve ao Senhor recolher Florentino no dia 07 de janeiro de 1984. O espírito de Joel se abalou, e ele precisou ser bastante racional para compreender que todas as situações que operavam para que ele atendesse o chamado de Deus até aquele momento concorriam com as situações que tentavam impedi-lo de cumprir Seu propósito. A mudança sofreu uma pausa naquele momento. Joel pediu ao motorista que voltasse para o depósito e, junto com os irmãos, foi tratar dos trâmites para o velório e sepultamento de seu pai. Foi um dia triste, difícil, em que os sentimentos tumultuavam seu coração. Mas, foi aquele o dia em que Joel experimentou por duas vezes a fé praticada, onde obedecer foi o verbo que determinou a ação de sua fé. O primeiro foi realizar o seu primeiro ato pastoral, conduzindo a cerimônia do velório pai, como pastor. Finalizado o velório, Joel e Leonor seguiram em viagem, que durou cerca de catorze horas até a cidade de Presidente Prudente.

Esse foi o segundo momento da fé praticada: seguiu seu caminho sem olhar para trás. Irma seguiu com o casal para Presidente Prudente, retornando a São Paulo um mês depois, para morar na casa dos fundos do terreno onde moravam seus pais, na Penha. Chegando em Presidente Prudente, o casal foi acolhido pelos membros mais antigos da igreja, que aguardavam a chegada do novo pastor. A igreja em Presidente Prudente estava sendo dirigida provisoriamente pelos presbíteros que ficaram responsáveis tanto pelo gerenciamento da igreja e manutenção do prédio, quanto pelas ministrações, uma vez que o pastor anterior, Antonio Martinelli, voltou para São Paulo. Ao pisar os pés naquela cidade, Deus já havia estabelecido o tempo, as pessoas, o aprendizado e o retorno. Quatro anos foi o tempo que Deus determinou para Joel e Leonor naquela cidade. Eles foram recepcionados por um presbítero, irmão Valter, de olhar desconfiado, típico daqueles que se incomodam ao ver ao longe o aroma e a inquietude da juventude. Joel entrou por uma portinhola na frente da igreja e ao vê-lo o presbítero o recebeu dizendo:

- O senhor é um pastor jovem, cheio de expectativas, mas sem experiência, porém fique sabendo: essa igreja não vai para frente!

Joel não se intimidou com a abordagem do presbítero e seguiu adiante. Ele tinha plena certeza que não estava ali por um desejo humano, mas pela condução do Espírito Santo de Deus. A igreja tinha uma estrutura modesta tanto quanto acomodasse a pequena membresia. Como Joel assumiu a igreja sem conhecê-la, ele não tinha ideia de quantos membros havia e qual era a renda da igreja. Ela não rendia recursos suficientes que sustentassem o pastor e suas necessidades, de modo que um terço de um salário mínimo foi o maior rendimento da igreja até a chegada de Joel. Mas, usando uma metáfora do futebol: “a bola já estava em jogo”, logo, com o dinheiro recebido pela indenização de sua saída do banco, Joel pagou a mudança para Presidente Prudente, arrumou o telhado da edícula em que ele e Leonor foram morar, colocou uma forração no chão, pintou a casa e viveu com o restante do recurso pouco mais de dois meses.

O aprendizado Os cultos eram realizados às terças, quintas-feiras e domingos. A essa altura Joel estava ainda mais firmado no Senhor, tinha se tornado um homem que tinha intimidade com Deus e sabia o que deveria fazer para mobilizar o agir de Deus nas ações que necessitava. E sempre necessitava. Ele consagrava as sextasfeiras em jejum de vinte e quatro horas, sem comer ou beber nada, além de fazer campanhas específicas em jejum de dozes horas, vários dias da semana ou, às vezes, a semana inteira. Também dedicava horas a produzir os sermões que ministraria posteriormente. O resultado da abnegação: dois ou três membros em cada culto, e nos domingos havia alguns mais. Joel perseverava, pois sabia que não fazia nada por força humana, mas pela simples e misericordiosa vontade de Deus. Ele sabia que viveria com pouco, por isso, o rendimento de um terço do salário mínimo não atribulava o seu pensamento, tampouco o fazia desistir. O rendimento dos cultos permitia à igreja manter os gastos essenciais com muita dificuldade. A alimentação de Joel e Leonor também era adquirida por meio desses rendimentos. Não sobravam recursos para que o casal investisse mais na igreja e nem para dar-lhes um pouco mais de conforto naquele momento. A Convenção Estadual, naquela época, diferentemente dos tempos atuais, não possuía recursos que possibilitassem apoio aos pastores em início de ministério. A renda do culto da semana seria utilizada para comprar o básico, sem qualquer item supérfluo. Eles podiam comprar apenas arroz, feijão, sal, óleo quando fosse possível. Mas, Joel se entregou em serviço de um Deus que supre todas as necessidades (Jeová Jireh17). E o suprimento sempre chegou, assim como o maná18 para os israelitas no deserto.

17

Yahweh-yir’é: de origem hebraica, seu significado é “Deus proverá”. Algumas traduções remetem ao termo “O Senhor proverá”. Essa expressão está no livro de Gênesis 22.14, quando Deus manda Abrahão levar seu filho Isaque ao Monte Moriat para sacrificá-lo. Isaque foi filho da promessa de Deus feita a Abrahão e sua mulher Sarai, quando ambos já eram velhos. Abrahão obedeceu a Deus, levou seu filho ao monte e quando se preparava para sacrificá-lo Deus o impediu, confirmando a fé de seu servo. Àquele lugar Abrahão chamou de Jeová Jireh. 18 O maná descrito na narrativa bíblica foi o alimento enviado por Deus para sustentar os israelitas durante sua caminhada no deserto. Etimologicamente a palavra designa a surpresa daquele povo diante do alimento vindo do céu: “o que é isso?” (Manhul – maná). Esse alimento é um tipo de líquen (uma espécie de fungo) que tem característica líquida e que se desprende da casca de uma árvore (Lecanora Esculenta), e é transportada pelo vento, assemelhando-se a uma chuva. Vale lembrar que, o alimento enviado por Deus aos israelitas não se assemelha a nenhum tipo de líquen usado atualmente.

Aquele foi o tempo em que viver pela fé foi um ensinamento diário, incansável, praticado exaustivamente. Não fosse pela fé, não teriam conseguido. E Deus colocou no caminho de Joel e Leonor, pessoas que os ajudaram das mais diferentes formas, sem nunca esquecer do respeito à liderança pastoral e espiritual de Joel sobre eles, mas criando um vínculo de amizade tão profundo e leal, que marcou a vida de todos, sobretudo, a vida do jovem casal. Naquele ano de 1984, Joel se dedicou ao trabalho na igreja, que não lhe consumia tanto tempo, visto que a igreja era pequena, não havia muitos membros e, consequentemente, não havia muito trabalho. O tempo corria ao largo e Joel não tinha uma rotina instituída. Apesar do tempo dedicado ao exercício do pastoreio, Joel levava uma vida frugal e, nos momentos de ociosidade, dava-se a assistir televisão, dormir, acordar tarde. Isso durou alguns meses, mas logo começou a incomodá-lo. Joel precisava de uma rotina, muito mais do que de um trabalho, embora uma coisa consolidava a outra.

Os amigos-irmãos Joel e Leonor contavam com o apoio da membresia da igreja, que estavam sempre atentos às necessidades do casal. Ainda que tivessem poucos recursos, sempre dividiam o que tinham e supriam naquilo que a igreja, no início do ministério do casal, não podia manter. Um desses casais foi Dionísio e Maria, já bastante idosos, por volta de oitenta anos, que moravam próximo à igreja. Eles estavam sempre presentes na vida dos pastores e na casa da igreja. Preocupados com o sustento de Joel e Leonor, eles sempre levavam suprimentos que tinham em casa. Algumas vezes levavam galinhas, outras vezes ovos e itens que poderiam auxiliar na alimentação deles. Logo na chegada à Presidente Prudente o casal conheceu um adolescente de catorze anos de idade, que frequentava a igreja e fazia parte da mocidade da igreja. Jovilson Ciccotti foi um jovem que viveu bem de perto o começo de vida ministerial dos pastores naquela cidade. Por ser mais jovem que Joel e Leonor, que naquele momento não tinham filhos, ele se tornou uma espécie de filho para eles. Tinha liberdade para frequentar a casa pastoral, e até cuidava da casa nos momentos em que o casal precisava ministrar em outras cidades. Com o casal, Jovilson teve oportunidade de aprender muitos valores, por eles ser amado e, também repreendido nos momentos necessários. Ele participava de todas as

atividades as quais o casal estivesse e que ele pudesse estar: na ampliação da estrutura da igreja, nos ensaios do ministério de louvor ou mesmo, lavando o Opala Verde que o pastor adquiriu posteriormente, o qual fazia esperando obter autorização para dar uma volta sozinho com o carro, desejo esse que nunca foi satisfeito pelo pastor. Ele foi ministrado pelo pastor enquanto estiveram juntos. Tanto que, nos momentos em que Jovilson cometia alguma falha, Joel tratava com o retidão e sempre lhe dizia algo que nunca esqueceu e que acompanhou sua vida:

“o caminho dos prevaricadores é áspero”.

Essa frase acompanhou Jovilson durante a vida e o conselho do amigo o ajudou a tomar as melhores decisões. Outro casal que os apoiou muito na chegada e durante todo o tempo em Presidente Prudente foi Gileno 19e Eva. Daqueles momentos improváveis nasceu a amizade entre os casais. O culto de Natal naquele primeiro ano de ministério, em 1984, ficou na memória e no coração de Joel e Leonor. Naquela noite despediram a membresia após o culto e as pessoas foram para as suas casas para os festejos natalinos, enquanto os pastores foram para a edícula da igreja, onde não haveria comemorações, dado a simplicidade da vida que tinham. Gratos por aquela noite, preparavam-se para dormir, quando ouviram alguém chamar no portão. Naquela noite, Gileno e Eva 20 estavam lá não como “ovelhas do rebanho” de Joel, mas, como amigos que, movidos pelo coração de Deus, convidaram o casal para uma ceia de Natal especial. Sabendo que Joel gostava muito de massas, sobretudo de pizza, ambos convidaram os pastores para jantar em um restaurante da cidade. Aquela foi uma noite muito feliz para todos pela boa companhia que fizeram uns para os outros,

19 20

José Gileno de Oliveira Eva Elias de Oliveira

e a aproximação foi oportunidade para Joel trazer de volta à presença de Deus uma “ovelha perdida”. Eva estava afastada da igreja, pois tinha se unido a Gileno fora do casamento e a igreja não aceitava essa relação. Ela havia sido casada no Estado do Mato Grosso, mas, dada a relação abusiva que sofria, separou-se e foi morar em Presidente Prudente onde conheceu Gileno. Ele não estava convertido, ainda não era cristão. Aliás, isso demorou algum tempo. Como Eva não estava divorciada, não poderia se casar com Gileno, e isso era algo que ela também não queria. Durante algum tempo o casal de pastores fez visitas à casa de Eva e, com amor e delicadeza a resgataram novamente à membresia da igreja. As visitas à casa do casal promoveram a aproximação de ambos com Gileno, e logo se tornaram amigos. Gileno, inicialmente constrangido pelo apelo do recém amigo e pastor, entrou em um acordo com a mulher e começou a levá-la aos cultos, onde aguardava no carro à porta da igreja. Mas um dia, Gileno entrou e assistiu ao culto. Voltou outras vezes e começou a cultuar a Deus. Não demorou muito para que, movido pelo Espírito Santo, aceitasse Jesus como seu único e verdadeiro Salvador. O passo mais importante ele já havia tomado, porém, ainda faltava ajustar a situação com sua mulher, Eva. Por falta da documentação necessária para formalizar o casamento, eles não poderiam se casar e consequentemente, ele não poderia ser batizado. Joel, tomado pelo mesmo espírito de misericórdia que um dia fez Mello batizá-lo no Grande Templo na Pompeia, batizou Gileno debaixo da promessa que, assim que possível, e findadas as questões de documentação, ele se casaria com Eva. Gileno aceitou e para a formalização do matrimônio foi uma questão de tempo. A amizade se tornou tão boa e essencial na vida deles, que os casais estavam sempre juntos, dormiam na casa uns dos outros, gostavam da presença uns dos outros. A vida da igreja seguia simples, os recursos serviam para manter água, luz, material de limpeza e os itens da Santa Ceia. A partir do segundo ano Joel iniciou um trabalho como gerente de vendas na empresa Lajes Presidente, cujo proprietário se chamava Jorge Aramaki 21. Ele começou a trabalhar muito mais pela necessidade de ter uma rotina diária 21

Atualmente o Sr. Jorge Aramaki não dirige a empresa, que fica a cargo do seu filho Alexandre Jorge Aramaki.

instituída, do que pelo salário. Mas, apesar disso, foi um trabalho bastante próspero e bem-sucedido. O trabalho como gerente ocupava bastante espaço do seu dia-a-dia. Joel trabalhava durante todo o dia, de segunda a sábado, tinha um bom salário e recebia comissões por isso, tanto que suas contribuições com a igreja começaram a ser bastantes relevantes a ponto de permitirem que fossem feitas melhorias estruturais da igreja, e isso começou a trazer outras pessoas para os cultos. Joel iniciou o pastoreio apresentando um perfil bastante arrojado. A membresia estranhou um pouco as inserções feitas pelo jovem pastor, mas, aos poucos foram se rendendo e entenderam que o empreendedorismo de Joel também foi a estratégia de Deus para aquela igreja. O fato é que a igreja mudou. Agora os membros começavam a chegar, os cultos passaram a ter mais pessoas, consequentemente a arrecadação melhorou e os investimentos em melhorias para a igreja também. Joel começava a ter mais relevância dentro da denominação e com isso, a liderança lhe creditou novas posições dado o seu pioneirismo, e logo ele começou a ocupar outros espaços. Não demorou muito tempo e passou a ocupar o cargo de superintendente na região do Oeste Paulista, em que a gestão de outras oito igrejas daquela região passou a ser de sua responsabilidade. Porém, na mesma medida em que alcançou relevância junto à denominação, também vieram novos desafios. Não é difícil imaginar que em 1984 a Igreja O Brasil Para Cristo já contava com vinte e oito anos de existência, tempo em que alguns seus fundadores e membros mais antigos tinham experiência e idade avançadas. Logo, para alguns deles se tornou tarefa difícil estarem subordinados a um superintendente jovem, recéminiciado no ministério, desprendido de alguns hábitos que tornavam o culto a Deus “engessado”. Mas, Joel tinha consciência de seu propósito e que cumpri-lo não seria tarefa fácil. Se ele não tinha ambições materiais quanto aos cargos que ocuparia na denominação ou sobre os recursos que a igreja tinha para se manter e mantê-lo, agora algo começou a se desenhar para ele: Joel almejava uma igreja que cultuasse verdadeiramente, que estivesse fundamentada na Palavra de Deus e não em ritos que tornavam os cultos uma tarefa na agenda. O louvor e a adoração a Deus se tornaram o foco e a direção para Joel em seu ministério. Como superintendente, ele promoveu várias ações de melhorias para as igrejas da região, e o seu modo de administrar a igreja também se tornou referência para

muitos pastores. Um desses momentos foi quando reuniu alguns obreiros locais e outras duas famílias que faziam parte da membresia da igreja na região de Rancharia, à sessenta quilômetros de distância de Presidente Prudente, e em um esquema de mutirão levantaram um templo de madeira naquele lugar. Porém, faltava um detalhe, diga-se de passagem, muito importante: não havia quem dirigisse aquela igreja. Em um domingo pela manhã, a ministração foi feita na direção de admoestar os obreiros e encorajá-los a ir para aquela igreja, pois o chamado trazia a certeza que viver pela fé é a missão daquele que serve a Deus, e que aquele que aceitasse seria sustentado pela graça de Deus, cujos caminhos seriam desenhados e conduzidos por Ele. Foi nesse momento que um dos diáconos o procurou dizendo que aceitaria ir para a igreja. Combinaram como fariam isso e no dia seguinte Joel o levaria para conhecer a igreja. A oferta do culto da noite de domingo seria utilizada para por combustível no carro de Joel, um Opala verde, ano 1971, para irem até Rancharia. O gazofilácio foi tão verdadeiro quanto o poderia ser qualquer obreiro daquela igreja, e apresentou um resultado tão pequeno que não supriria a despesa da viagem do dia seguinte. As horas foram passando e chegou à segunda-feira. O desafio agora seria manter a fé diante da palavra de encorajamento que ele mesmo havia pregado um dia antes. O tempo de saírem se aproximava, marcaram o encontro no templo ao meio dia, quando um diácono, Paulo César, foi até a casa pastoral. Paulo, com temor por saber que o pastor não admitia receber o dízimo fora do momento do culto, justificou que sentiu de Deus que deveria entregar o dízimo do adiantamento de salário que acabara de receber. Joel, mantendo a posição de autoridade, mas internamente agradecendo e louvando a Deus, entendendo que aquela situação foi mais um vez a provisão do Senhor, recebeu o dízimo e despediu-se do presbítero, repreendendo-o para que aquilo não se repetisse. Partiram para Rancharia onde Joel empossou o novo dirigente daquela igreja.

Onde houver necessidade Joel estava sempre presente na vida dos membros da igreja, assim como na vida dos amigos. Em uma determinada noite, após o culto, os amigos se reuniram na casa de José Leite e Rosa. Eles decidiram que fariam bolinhos de chuva para saciar a fome

daquela madrugada. Todos estavam em uma pequena lavanderia onde havia uma mesa e se preparavam para começar a receita. De repente ouviram uma criança chorando, pararam de conversar para dar atenção ao que estava acontecendo, e perceberam que a criança estava gritando. Naquele momento o terror passou pela cabeça de todos, quando, já tomados pela preocupação dos gritos, viram pela janela da lavanderia um vulto que passava de um lado para outro. A tensão tomou conta daquele lugar e todos estavam com medo do que estava acontecendo. Alguns começaram a orar, outros clamavam a misericórdia de Deus, mas, foi José Leite que, dominado por certa coragem, pegou um revólver que mantinha em casa, por receio de assaltos, e bem alto bradou que atiraria em quem estivesse ali. O vulto que passava de um lado para outro, de repente fugiu, mas não tão rápido que não fosse possível perceber de quem se tratavam. Imagine Joel e Gileno correndo e tentado entrar em um vão que havia no quintal para fugir da fúria da arma de José Leite. Quando perceberam o que havia ocorrido, todos caíram em uma imensa gargalhada que tornou o restante de noite ainda mais divertido. Mas, não foram apenas de comunhão, alegria e risos que os amigos testemunharam o crescimento do pastor. Havia em Presidente Prudente uma casa de tolerância, onde homens encontravam mulheres para prazeres carnais. Nessa casa havia uma mulher de apelido “Cidinha” que atendia os seus clientes. Essa mulher assistiu a uma pregação de Joel, que além da igreja mantinha um ponto de pregação, no Jardim Brasília. Cidinha era conhecida de Rosa, que levou ao conhecimento de Joel a sua situação. Joel pediu par Rosa conversar com ela e, sempre com amor e gentileza, convenceu a mulher a ir para a igreja. Ela aceitou o sacrifício de Jesus como verdade e único meio para a sua salvação e passou a frequentar os cultos onde foi sendo ministrada e crescendo na fé. Mas, não durou muito tempo, Cidinha voltou para a prostituição. Voltou para a igreja, novamente, e, novamente, para a prostituição. Ela foi uma boa mulher, apesar das escolhas que fazia, e sempre que voltava para a igreja encontrava o amor de Deus representado naqueles que estavam lá servindo ao Senhor e cumprindo seus mandamentos. Essa mulher viria a falecer de câncer no fígado em 2019, depois de lutar contra a doença por muitos anos.

As visitas aos membros enfermos era uma tarefa importante na agenda de Joel.

Eva e Rosa foram convidadas pelo pastor para o acompanharem em um visita à Vila Brasil, onde moravam os irmãos Egydio e Iolanda, essa em fase terminal de um câncer. Eles foram para o local e, chegando lá, já na porta as duas mulheres inicialmente não conseguiram entrar dado o mau odor que a casa se encontrava devido às consequências do câncer de Iolanda. Mas, Joel entrou, e não se deteve pelo mau cheiro. O pastor estava diante da iminência da morte de uma serva de Deus. Ele parou diante da cama, e observado pela mulher que, apesar da dor, sentia alegria ao vê-lo ali, aproximou-se dela, colocou a mão dele embaixo da cabeça dela orou a Deus uma oração simples, objetiva e amorosa, beijou a testa de Iolanda e a viu partir. Naquele momento, todos tiveram a certa de estar diante de um homem de Deus.

Na Vila Operária havia uma congregação. Esse foi um bairro pobre, onde a violência e iniquidade imperavam e ali estavam as pessoas que tinham menos condições de vida, os miseráveis e muitos bandidos. Entre eles havia um jovem magro, de feições não agradáveis, vivendo em pecado e que, como diz o ditado popular “ninguém dava nada por ele”. O seu nome era Rufino. Ele passou a frequentar a congregação e, logo se converteu, tornando-se o braço direito de Joel. Foi um tempo muito próspero para o Reino de Deus. Joel encontrou muitos desafios, mas também encontrou muitos crentes dispostos a cooperar com seu trabalho. Assim, desde a administração diária do templo ao alcance de almas para Jesus, ele contou com um corpo de pessoas que estavam unidas pelo mesmo propósito A forja para o caráter O trabalho como gerente estava caminhando muito bem, e isso lhe trazia satisfação pessoal e um bom salário com a atividade que exercia. Os negócios estavam bastante prósperos, a ponto de Joel abrir novos postos de trabalho em cidades da região.

A igreja também se tornou muito próspera. A obra cresceu e agora necessitava da presença constante de seu pastor, que a essa altura já recebia uma prebenda 22 igual ao seu salário como gerente. Joel procurou o Sr. Aramaki para pedir demissão, justificando que precisava se dedicar à sua vocação e ao serviço no Reino de Deus. O Sr. Aramaki não aceitou o pedido e fez uma contraproposta para que ele ficasse como representante comercial, trabalhando uma vez por semana, de modo que teria mais tempo para se dedicar à igreja e se manter empregado. Como se tratava de uma boa proposta e não impactaria no ministério, Joel aceitou, entendendo que conseguiria conciliar o ministério com a atividade secular. E assim aconteceu. Como representante comercial teve aumento de salário exponencial, expandindo ainda mais os negócios da empresa, com liberdade de tempo para cuidar das equipes de vendas e investir na igreja. Foi nessa época que pode injetar recursos mais substanciais na obra. Joel tinha uma equipe de representantes em várias cidades, que atuava nas vendas, ficando sob sua responsabilidade a parte técnica de medições, competência que não deixou nas mãos dos vendedores. O técnico precisava conhecer e fazer cálculos de área, algo que necessitava de certa destreza para que não houvesse erros e perdas para os clientes, tampouco para a empresa. Nesse tempo ele convidou o amigo Jovilson para trabalhar em sua equipe. Ali, o amigo pode aprender um ofício, que mais tarde viria a fazer muita diferença em sua vida e que o tornaria muito próspero, também. Todos estavam contentes com o trabalho naquele momento. Joel dedicava-se ao Reino de Deus durante toda a semana, e uma vez por semana cuidava da equipe de vendas; o Sr. Aramaki tinha muita satisfação no funcionário que havia contratado, sobretudo por ser um pastor. Joel trabalhou por dois anos naquela empresa, entre 1985 e 1986, até que uma situação o colocou diante de um dos maiores aprendizados que teria na vida, ou pelo menos que trataria seu caráter, deixando-o fragilizado diante da verdade para a qual tomou a decisão de servir e se entregar. A respeito dessa situação ele próprio faria posteriormente uma comparação com a história de Jacó, personagem

22

Retribuição financeira pelo trabalho exercido pelo pastor, no ministério.

bíblico, descendente de Abraão, que rouba a primogenitura do irmão mais velho, Esaú23. Os campos de vendas abertos por Joel, na empresa cresciam bastante até que o governo federal instituiu em 1986, o Plano Cruzado24. A autonomia de ação de Joel na empresa permitia margem de negociação, porém, na Lajes Presidente as vendas eram recebidas em dinheiro e à vista, diferentemente das empresas do ramo que praticavam outra forma de venda, de forma parcelada, estratégia que permitia aos clientes um fôlego para o pagamento. Dessa forma a Lajes Presidente estava perdendo terreno para a concorrência. Foi nesse momento que Joel entendeu que poderia usar um artifício que permitiria a equipe manter as vendas, cujo olhar naquele momento não denunciava qualquer ilegalidade. Assim, para não perder a venda, Joel forjava notas fiscais. Ele recolhia os pedidos para pagamento à vista, fazia uma pedido parcelado para o cliente e outro à vista para a empresa, seis meses depois, pois, ao longo do tempo o comprador poderia pagar parceladamente e receber o produto no final da obra. Ele usava o dinheiro e depois devolvia integralmente para a empresa. Em sua mente não havia nada errado, pois nunca foi a intenção ficar com qualquer valor que não lhe pertencesse. Tudo estava correndo sem problemas, e ele não entendia aquela ação como corruptível. O trabalho exercido naquele momento trouxe oportunidades para Joel investir na igreja, de modo que foi inegável o seu crescimento. Porém, a despeito dos benefícios alcançados, Joel “esticou de forma perigosa o fio conector com o

23

Na cultura judaica, toda a herança do pai quando morto, é direcionada ao filho mais velho, que tem a responsabilidade de fazer prosperar os recursos e cuidar da família. Jacó, mesmo sendo gêmeo com Esaú, foi o segundo a nascer, logo, não tinha direito a gerir a herança do pai. Ele então coage o irmão a ceder-lhe a primogenitura em um momento que Esaú, chegado de um dia de trabalho, faminto, pede um pouco do guisado que o irmão havia feito. Levado pela fome e dando pouca importância ao pedido do irmão, Esaú lhe concede o pedido. Mais adiante, Isaque, pai de ambos, próximo à morte e já cego, abençoa o filho mais novo, que foi ajudado pela mãe, Rebeca. (Resenha da autora). 24 O governo Sarney implementou, em 28 de fevereiro de 1986, um plano de combate à inflação que ficou conhecido como Plano Cruzado, o nome da nova moeda brasileira que substituiu o cruzeiro. Este plano surgiu como uma esperança para a população brasileira que, na época, se defrontava com uma trajetória ascendente da inflação, que atingiu uma taxa anual de 517% nos meses de janeiro e fevereiro de 1986, de acordo com o índice geral de preços da Fundação Getúlio Vargas. Nove meses depois, o Plano Cruzado fracassou, pois, a inflação voltou, e no primeiro bimestre de 1987 a taxa anual de inflação já estava em 337%. Ver bibliografia: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/plano-cruzado

propósito do criador”. A satisfação pelo empreendedorismo bem-sucedido, pela inovação dos postos de trabalho e pelo crescimento vertiginoso da igreja trouxe um certo “encantamento” a Joel e, por um momento ele não ouviu a voz mais importante e diretiva para sua vida. Por um momento. Em determinado dia, o Sr. Aramaki chamou Joel em sua sala e apresentou-lhe documentos. Havia sobre a mesa um pedido feito em parcelas e outro à vista. Não havia argumentos para rebater aquele situação e nada que Joel falasse sobre aquilo seria justificado. Ele nem tentou se justificar. O Sr. Aramaki, muito decepcionado, sentindo muito pela situação, mas, mantendo a integridade diante dos negócios e da equipe, demitiu Joel sumariamente. Aquele dia e os que se sucederam foram os piores da vida de Joel, em que ele desejou a morte diante de sua fraqueza e da vergonha da demissão pelo sentimento de ter sido “tirado” de um lugar. Ali começava um processo solitário de crescimento espiritual, em que Deus falou-lhe frente a frente. Conduzir um rebanho tendo em sua carne um espinho que o lembrava do feito dia e noite, noite e dia foi um aprendizado doloroso para o pastor. Joel passou por um tempo difícil em sua vida, que foi acompanhado pela esposa. Foram dias em que o desejo de desistir do ministério e a autoflagelação foram seus companheiros. Aquela dor e arrependimento causaram marcas profundas em Joel. Essa situação trouxe para ele um aprendizado prático sobre o valor da integridade. Foi através desse erro e do tratamento de Deus que Joel aprendeu a discernir sobre o valor de ser integro nos negócios, na palavra e no trato com o dinheiro. Aquele foi um seminário prático para a vida de Joel. A dor, a vergonha e o constrangimento trouxeram para ele o abatimento na alma e tristeza, mas foi também um tempo bem valioso de modelação de caráter. Quando ele passou a enxergar o tratamento de Deus para a sua vida, os frutos do Espírito Santo foram despertados e Joel, a partir daquele momento, começou a ver nascer nele um sentimento de misericórdia, pois Deus, a partir desse erro, mostrou para seu servo que as pessoas erram, porém os erros deliberados trazem consequências profundas. O erro cometido na Lajes Presidente o levou a refletir, pautado pela Palavra de Deus, sobre a necessidade de o homem cuidar da mente e o quanto ela pode ser

um canal de bênçãos, mas também de ações pecaminosas. A autoidolatria e a acusação são, conforme ele mesmo viria a citar no livro Vivendo como Servo25, as armas utilizadas pelo adversário para afastar as pessoas de Deus. Deus esteve com Joel, forjando o caráter de seu servo indelével e definitivamente. Depois desse episódio, Joel ainda trabalhou por um tempo em outra empresa, também na área de vendas, por volta de seis meses. A essa altura, o casal já aguardava a chegada da segunda filha. Leonor estava grávida da filha Talitha26 e precisavam do salário de Joel para sustentarem as necessidades a família, porém a necessidade de dedicar-se à igreja o fez abrir mão do trabalho. Os dias foram passando e as feridas foram sendo cicatrizadas, à medida que seu relacionamento com Deus aumentava a cada dia mais e Joel não dava nenhum passo adiante sem ouvir a voz do próprio Deus. Joel queria dedicar-se à obra e por isso não procurou outro trabalho. Isso já estava decidido em seu interior. Os planos dele foram o de construir sua família naquela cidade, onde queria viver até o fim de sua vida, pois amava a igreja e os irmãos, além de trabalhar na melhoria da igreja Esse tempo de dedicação exclusiva à igreja em Presidente Prudente foi importante, pois Joel também amadureceu muito como pastor e servo. Seu objetivo agora seria o de tornar a igreja ainda mais avivada, eliminando os aspectos de religiosidade que faziam a membresia tornar o culto algo ritualístico, com pensamentos conservadores que mais tinham a ver com os modelos sociais locais do que com um relacionamento verdadeiro com Deus e a entrega ao amor de Jesus Cristo, tornando o templo um lugar do Deus Vivo, que fala aos seus diretamente. Porém, Deus já havia determinado o tempo de servir em Presidente Prudente e o tempo de partir. Joel sabia que voltaria para São Paulo. Mas, Joel, mesmo em obediência e entendendo que esse tempo estava próximo, queria deixar a igreja em Presidente Prudente totalmente organizada para o novo pastor. Ainda havia algumas pendências financeiras, originadas pelas reformas e despesas que se acumularam pelas últimas reformas e pelos planos de expansão 25

Vivendo como servo é uma publicação de 2006. (Ver bibliografia) O casal tem três filhas: Michelle, Talitha e Jaqueline. Elas servem a Deus no Ministério de Louvor da OBPC Mandaqui, onde Talitha é líder. 26

estrutural do templo. Os dízimos e ofertas tinham um direcionamento específico para cobrir as despesas da igreja, por isso, Joel precisava novamente de uma provisão vinda de Deus. Foi quando Rosa e Eva tiveram a iniciativa de fazer um “Livro de Ouro”. Esse livro tinha o objetivo de arrecadar recursos para o pagamento das pendências financeiras da igreja. Dessa forma, cada pessoa, membro ou não que contribuísse teria seu nome anotado naquele livro, que seria motivo de orações pela vida dos ofertantes. O dia do retorno de Joel e Leonor para São Paulo estava próximo e, isso, deixava o pastor muito preocupado, pois ainda não conseguira o recurso que a igreja precisava. Rosa e Eva percebendo a sua preocupação, procuraram o prefeito local Agripino Lima, que também era proprietário da Faculdade de Medicina da cidade e falaram com ele sobre o livro e a motivação. Saíram de lá com quinhentos cruzeiros, dinheiro suficiente para honrar todos os compromissos da igreja. Agora o servo de Deus estava preparado por Ele para propósitos maiores, ainda que não soubesse o que estava por vir.

Capítulo 3 Amo-Te ó Cristo, ao ver as Madalenas Humildes, curvas aos Teus pés, chorosas, Louvo-Te ao ver as vaga procelosas, Te obedecerem, calmas e serenas. Eu admiro-Te, pasmo, quando ordenas, As legiões satânicas raivosas, Das turbas a ti correm pressurosas, Eu te bendigo, consolando as penas. Venero-Te fazendo tantas curas, E arrebatando a presa às sepulturas, Com simples gesto destas mãos divinas. Enfim Te adoro ao ver-Te agasalhando, Sobre os joelhos, o formoso bando, Destas cabeças louras, pequeninas.

De volta para São Paulo Aquela não foi uma decisão fácil do ponto-de-vista pessoal, pois o casal de pastores já estava habituado e integrado à igreja, aos amigos e à cidade. Naquele período haviam construído sua família. As filhas Michelle e Talitha nasceram naquela cidade; e a igreja, agora com muitos membros, já se expandia para outros

lugares de Presidente Prudente com duas congregações e um ponto de pregação. Leonor ficou apreensiva quando Joel anunciou o retorno da família para São Paulo, certamente porque agora não eram apenas os dois, mas quatro pessoas. Muitas perguntas foram feitas no sentido de saber como a família viveria? Qual seria o trabalho de Joel? Onde morariam? Novamente, em um momento de decisão como aquele, as perguntas dirigidas a Joel não tinham resposta. Mas, com a autoridade de marido e a incerteza do servo que não sabe o que vai acontecer, mas sabe que deve obedecer e se colocar nas mãos do seu senhor, Joel apenas afirmava para a mulher que eles voltariam, seguindo a direção de Deus e contava com o apoio dela. Joel era servo obediente, e como tal, estava direcionado pelo poder que o fizera chegar até ali, o poder de Deus. E agora, momento de voltar ele estava preparado, pois há dois anos Joel vinha sendo preparado para o retorno. Naquele tempo ele tinha a visão do “pastoreio de capelão”, cuja função do pastor estava no discipulado, batismo e, sobretudo, no serviço à igreja local. Anos mais tarde, Joel compreenderia que aquela igreja foi a escola onde a sua vocação foi forjada e preparada para os desafios futuros. O pastor Luiz Fernandes Bergamin, seu pastor e presidente da convenção, respeitou e confiou na decisão dele para voltar para São Paulo, por isso não fez oposição sobre o assunto. Deus mostrou para Joel que o Seu propósito na vida de seu servo não seria cumprido naquele lugar, e isso ocorreu quando o Senhor permitiu que Joel fosse exposto às situações de dificuldade e provação, para que seu servo não duvidasse de Seu poder e de Sua presença. Foi um processo, por vezes, doloroso, mas que trouxe para Joel o amadurecimento próprio daqueles que se deixam ser conduzidos pela voz do Espírito Santo de Deus, ou seja, entregue e sem medo, mas com temor. Os casal entregou a igreja no dia da inauguração do templo. O pastor Luiz Fernandes Bergamin estava presente e realizou o culto que foi uma vigília durante toda a noite, com a presença dos irmãos e amigos todos presentes, relembrando a chegada e a passagem pela cidade, entre lágrimas e sorrisos.

No outro dia o caminhão com a mudança chegou e os levou de volta para São Paulo. A reação da igreja à saída do casal de pastores foi de tristeza pela partida dos amigos. O casal chegou em São Paulo no dia 1º de fevereiro de 1988 e foram morar no fundo da casa de Irma, em um cômodo, localizada na Rua Tibúrcio de Souza, na Penha. Logo na chegada, ele foi convidado para integrar a equipe que faria a revisão do estatuto da denominação. As reuniões aconteciam de terça a sexta no subterrâneo da igreja na Pompeia, e ele atuava como assistente, atividade que lhe permitiu ter uma grande experiência sobre a estrutura, organização e gestão da denominação. Na semana seguinte, a pedido da Convenção, dirigiu a igreja no bairro dos Pimentas em Guarulhos. Ficou naquela igreja por quinze dias. A igreja do Mandaqui estava sob a direção de um pastor, e não tinha recursos para mantê-lo, por isso, ele não se sentia à vontade para continuar pastoreando a igreja. Quando Joel chegou em São Paulo estava com a expectativa de pôr em prática alguns projetos idealizados anos antes, durante o pastoreio em Prudente, e um deles foi um jornal para circulação entre os membros, para que as pessoas soubessem das ações da igreja, e, principalmente que chegasse por esse meio, a Palavra de Deus para as pessoas. Por volta da segunda semana que estava em São Paulo, começou a produção do Jornal “O Conselheiro” e posteriormente chamou-se “Folha O Brasil Para Cristo”. Joel trabalhava no jornal em todas as etapas. Tinha como quartel-general um pequeno espaço no escritório da convenção. Fazia os textos, produzia e escolhia as imagens, vendia as cotas para manutenção do projeto. Em meio aos trabalhos dedicados à produção do jornal, ele soube que o pastor da igreja do Mandaqui, José Sampaio27, havia falecido naqueles dias. Imediatamente, Joel ouviu a voz de Deus e sua direção: _______________________________________________________________

27

O pastor estava à frente da igreja durante (?) anos. Falecido em março de 1988, deixou esposa e filhos que permaneceram na igreja durante toda a vida, dedicando-se à obra de Deus, representados sobretudo pela filha Solange Sampaio casada com o vice-presidente da igreja, pastor Ezequias.

“Foi por isso que Eu te trouxe antes”. Ele voltou para casa naquele dia e anunciou para a Léo que sabia por que eles haviam voltado. Ele seria o pastor da igreja O Brasil Para Cristo no bairro do Mandaqui, mas não disse para ninguém, apenas para sua esposa. Passaram-se alguns dias e quem assumiu o pastoreio da igreja foi o pastor Moisés Mendes. Joel teve uma decepção tão grande que chegou a pensar em desistir do ministério. Ele começou a acreditar que se não conseguia mais ouvir a voz de Deus, não poderia pastorear pessoas. Pediu licença na convenção por alguns dias e saiu para procurar emprego. Aquele foi um tempo, e único tempo, em que ele desistiu do ministério. Em casa, ele ficou muito chateado e envergonhado diante da esposa. Sentia-se triste porque acreditava não conseguir ouvir a voz de Deus. As dúvidas nunca foram a respeito do poder e da existência de Deus; as dúvidas estavam sobre as suas capacidades. Depois de alguns dias, o pastor Luiz Fernandes Bergamin o convidou a pregar em uma igreja na zona norte, e qual não foi a sua surpresa quando soube que seria na igreja do Mandaqui. Chegando lá, Joel e Leonor foram muito bem recebidos. Naquela noite ele pregou o sermão que está no segundo capítulo do evangelho de João, em que Jesus purifica o templo e expulsa os vendedores de lá28. Um dos diáconos da igreja, chamado Djalma, procurou o pastor Bergamin e disse que a igreja havia recebido de Deus uma Palavra que prometia que dois ou três pastores visitariam a igreja, mas que Joel foi o pastor com quem a igreja se identificou. Porém, a posse do pastor Moisés foi recente e o pastor Bergamim sentiu-se constrangido por destituí-lo dali. Durante a conversa, houve uma interrupção porque alguém precisava falar com o pastor Bergamin. O pastor Moisés estava ali para dizer que estava bem na igreja, mas entendia que não era o seu lugar. O pastor Bergamim aceitou o pedido, e em 05 de março de 1988, Joel 28

João 2.13-17 Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém. E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: “Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio. Lembraram-se os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me consumirá”.

Comentado [SACM1]: Nome completo

assumia o pastoreio da igreja do Mandaqui. A igreja estava localizada na Rua Ires Leonor, XX, cuja propriedade foi doada pela SAM – Sociedade Amigos do Mandaqui. Joel não tinha nenhuma ideia do que o esperava, não conhecia as condições da igreja, se ele teria prebenda ou qual seria o número de membros da igreja. E novamente não estava preocupado com isso, pelo menos não naquele momento. Joel ingressou no ministério da igreja do Mandaqui, com foco na pregação para regeneração de mente. Ele queria promover na membresia a consciência de fazer um culto racional e verdadeiro a Deus, sem rituais que fizessem do culto tarefa de agenda, mas sim, que aproximassem as pessoas do Espírito Santo.

A consagração O ingresso no pastoreio não foi algo muito pacífico para Joel. Em 1998, no átrio do Grande Templo da Pompeia, houve um evento para consagração de pastores. Odécio Cassiano, um dos pastores responsáveis pela consagração, indagou para Joel se ele ainda jogava futebol, ao que recebeu uma resposta afirmativa. Aquela resposta chegou para o pastor Odécio e mais duas mil pessoas que estavam presentes no templo. Logo em seguida começaram a chamar os pastores que seriam consagrados e chamaram Joel. O mesmo pastor, tomando o microfone, começou a contestar a respeito da consagração de um jogador de futebol. Foi um momento de grande constrangimento para o casal, tanto que Leonor chorava muito e Joel, ajoelhado, ouvia resignado a tudo o que o pastor dizia. Imediatamente, o missionário Mello, muito sagaz, tomou a palavra e recomeçou a condução da cerimônia e entre uma fala e outra, entendendo que o pastor Odécio deveria ser respeitado em sua opinião, mas percebendo que não havia motivos para que Joel não fosse consagrado a pastor, deitou o óleo da unção na cabeça dos jovens pastores ali presentes e em Joel, também. Um dia, saindo do mesmo templo, Joel reencontrou o pastor Odécio e percebeu que ele estava com o braço quebrado. Chegando-se a ele, de maneira alegre e

disposta, perguntou-lhe o que havia acontecido, ao que o pastor prontamente respondeu que aquilo seria justificado pelo zelo à obra de Deus. O pastor lhe contou que estava no trânsito e dirigia uma Kombi29 da igreja, quando em um desentendimento, indignado, o pastor agrediu o outro motorista com o golpe do rosto. O ocorrido lhe rendeu um braço engessado e a confissão que, assim como qualquer pessoa, está sujeito as armadilhas que lhe moldam o comportamento. A compra da propriedade no Mandaqui Em 1994 a igreja foi transferida da Rua Ires Leonor para a Avenida Guacá, em um imóvel alugado. A essa altura a membresia da igreja já estava mais robusta e esse crescimento numérico foi reflexo do trabalho que vinha sendo desenvolvido 30, embora a saúde financeira da igreja ainda fosse bastante deficitária. A receita da igreja rendia o valor quase emparelhado ao valor do novo aluguel, não permitindo o desenvolvimento de outras ações para melhoria da igreja, tampouco desenvolvimento de outros projetos. As despesas também aumentaram naquele local, e esse foi um tempo em que tanto o pastor quanto a igreja testemunharam a provisão de Deus todo o tempo. Mas, alguns sacrifícios forma necessários para que os projetos caminhassem. Naquele momento a igreja conseguia pagar o aluguel da casa de Joel, próximo à igreja. O sustento da família advinham dos recursos da venda do Jornal “O Conselheiro”, além do trabalho desenvolvido no IBBC (Instituto Bíblico Brasil para Cristo). Foi quando Joel, inspirado pela direção de Deus, resolveu abrir mão do aluguel da casa onde morava. Em visita ao imóvel da Rua Ires Leonor, percebeu que havia uma laje onde poderia ser construída uma casa. Arregimentou os homens que haviam na igreja e foram onze os homens convocados, propôs que construíssem uma casa que, a curto e médio prazo desonerariam o caixa da igreja. Os homens concordaram e cada um se dispôs a doar algo para que a construção acontecesse. Mas, havia um detalhe: onde Joel, Leonor e as crianças morariam enquanto a casa fosse construída? Naquela reunião, a proposta já saiu com toda definição: eles morariam na casa dos irmãos. E assim aconteceu. A casa foi construída em cento e dez dias. Foi um tempo em

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A Volkswagen Kombi foi um automóvel utilitário produzido pela empresa automotiva alemã Volkswagen, entre 1950 e 2013. 30

Citação ao Conselho de Gamaliel, rabino de muito prestígio em Roma, educador de Paulo de Éfeso, apóstolo de Jesus Cristo.

Comentado [SC2]: Aqui eu tentei dizer sobre como a situação que ele promoveu no dia da consagração e depois teve que reconhecer, ainda que de forma não claramente revelada, que ele está sujeito a julgamentos. Preciso que avalie esse período.

que as dificuldades trouxeram muitos ganhos, sobretudo no contexto de relacionamento com os irmãos. Em maio de 1995, já a frente da igreja do Mandaqui há sete anos, ele recebeu um convite do presidente da denominação, Pastor Orlando Silva, para ir a um congresso na Ásia, denominado AD2000. Em um vôo fretado do Brasil em direção à Coreia do Sul, uma delegação de pastores brasileiros chegou ao evento, após uma viagem de vinte e cinco horas. Naquele lugar, Joel teve a oportunidade de experienciar o movimento evangelístico coreano e as práticas de oração de levantaram um país devastado pela guerra. A delegação ficou hospedada em um sítio há trinta quilômetros de distância da cidade, e ali os pastores brasileiros participaram de reuniões para oração, composta de um público de cinco mil pessoas, que diariamente se reuniam às cinco horas da manhã, oravam duas horas e depois disso aquelas pessoas iniciavam suas atividades diárias. Joel se sentiu deslumbrado em um primeiro momento, depois desafiado. Ele trouxe na bagagem a motivação para ampliar as ações na igreja do Mandaqui, de modo que os membros tivessem uma estrutura para desenvolvimento espiritual. Essa estrutura estava pautada na oração direcionada e que mobiliza o poder de Deus. Joel ansiava por levar esse propósito para a sua igreja. O Projeto 2000, nome escolhido para planejar e executar a visão que Joel teve de um templo que comportasse duas mil pessoas, começou a ser delineado na volta de Seul. A viagem que durou vinte e cinco horas trouxe Joel focado na escrita do projeto, pois, o impacto que ele sentiu e viu durante sua participação na AD 2000 foi tamanho, que ele não conseguia deixar de pensar na sofisticação que as igrejas coreanas proporcionavam aos seus membros para dar suporte à essência e simplicidade do evangelho. Aquele se tornou o seu desejo voltado a servir o Reino de Deus. De volta a São Paulo, já na igreja do Mandaqui, a vida seguiu, com toda a rotina que lhe impunha o cuidado com o Reino de Deus: pregações da palavra, Liturgia, obediência, essas sempre foram as ferramentas de trabalho de Joel. Entretanto, dentro dele algo havia mudado. Aquela viagem acendeu no coração de Joel o desejo de expansão. De maio de 1995 a janeiro de 1996 o amadurecimento para a realização do projeto passou pelo processo do silêncio,

orações e fé. Ele desenhou a visão. Apenas Leonor sabia daquilo que se passava com ele e para onde ele estava caminhando. O modo de conduzir a vida sem fazer alarde sempre lhe rendeu bons frutos e o protegeu das especulações externas. Nesse processo houve pessoas que foram levantadas como “coadjuvantes” para a realização do projeto. Uma dessas pessoas foi o pastor Ezequias Mota31 e a outra foi o irmão José Hilário. Joel circulava muito pelas ruas do bairro, sendo bastante conhecido e conhecendo a muitos, também. Em uma dessas ocasiões ele passou por uma propriedade, que alocava uma pequena fábrica de vassouras e que havia uma parte imensa de área sem construção. Internamente ele acreditou ser aquele local, o lugar ideal para a construção de um templo. Aquele era o número 616 da Avenida Ultramarino. Em uma viagem de volta a São Paulo na companhia do pastor Ezequias, após pregar em Santos, já nas proximidades do escritório da igreja, Joel disse ao amigo que havia localizado um terreno que seria ideal para o projeto da igreja. Sabiamente, o pastor Ezequias lhe fez duas perguntas fundamentais. Ele quis saber se o terreno estava à venda e se o amigo havia orado a Deus. Joel, intimamente fez uma oração breve e simples a Deus: _______________________________________________________________ “Senhor, se for da Tua vontade eu quero comprar aquele terreno.” Aquele ano de 1995 passou. A igreja continuava a ter uma renda média mensal de quinze mil dólares, que permitia o custeio de suas despesas essenciais: pagamentos dos dízimos da Convenção, sustento missionário, folha de pagamento da igreja e prebenda pastoral. Em janeiro de 1996 o pastor lançou o Projeto 2000 para a membresia da igreja, com o slogan “Ânimo e Coragem!”, que trazia em seu bojo a aquisição de uma propriedade para expansão do Reino de Deus, acreditando na visão. As pessoas foram chamadas a crer na visão da igreja e de um templo novo. Logo, a igreja estava sendo chamada ao desafio que

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O pastor Ezequias Mota é o vice-presidente da Igreja O Brasil Para Cristo do Mandaqui, casado com Solange Mota, filha do fundador da igreja, pastor José Sampaio.

demandaria esforço, determinação e compromisso de todos. O desafio foi lançado. O modus operandi do projeto foi a aquisição de cotas mensais, consecutivas e fixas, que promoveriam a compra de um imóvel. Logo, os membros atenderam ao chamado e começaram a contribuir para juntar esse recurso. O irmão José Hilário foi corretor de imóveis de uma imobiliária localizada à Rua Zumkeler, chamada Moeda Forte. Após um ano do projeto ser iniciado, o irmão Hilário foi ao escritório da igreja, à Rua Ires Leonor e convidou o pastor a visitar um imóvel que poderia ser de interesse da igreja. O pastor esteve um pouco resistente a ver o terreno, pois tinha plena convicção que ainda não seria aquele o tempo, visto que a igreja havia iniciado a pouco o levantamento de recursos. Entretanto, visto a boa vontade e empenho de Hilário, ele o acompanhou até o local. Ao entrar no imóvel, descendo as escadas, Joel se lembrou que havia passado por aquele terreno. À medida que adentrava ao terreno, seu coração o fazia lembrar daquela simples oração que havia feito. Terminada a visita, Hilário o convidou a ir à imobiliária fazer uma proposta para a proprietária. Nesse momento, Joel já não queria seguir com aquela situação, ao contrário, queria finalizar a visita ali mesmo. A contragosto, mas, com gentileza, seguiu Hilário. No caminho sabia que qualquer quer fosse a proposta que fizesse ou recebesse não teria condições de pagar. Quando eles chegaram na imobiliária, foram recebidos pela dona da imobiliária que já dava por certo o negócio. O valor do terreno girava em torno de quinhentos mil dólares. A proprietária da imobiliária os deixou sozinhos naquela pequena sala, a fim de discutirem uma proposta de compra e venda. Hilário, olhou para Joel, lhe cedeu um pedaço de papel e lhe orientou a escrever ali uma proposta. Joel estava desconfortável com aquela situação que estava fora dos seus planos. Embora soubesse que não seria aceita, ele fez uma proposta para pagamento daqueles quinhentos mil dólares em um período de dez anos. Ele deixou aquela proposta assinada e saiu do escritório. Ele não ficou tranquilo após aquela assinatura. Dirigiu-se para sua casa e muito contrito, orou a Deus no sentido que a proprietária do terreno não aceitasse a proposta. A oração foi respondida, pois a proprietária

realmente não aceitou a proposta. Aliviado, Joel seguiu os dias, com olhar no planejamento de captação de recursos. Passados três meses, por volta de meados de março de 1997, a proprietária entrou em contato com Joel, para falar sobre a venda do terreno. Ela queria vender o terreno para a igreja. Durante a conversa ela pediu a ele que fosse à imobiliária para conversarem sobre o assunto. Ele atendeu ao pedido e chegando na imobiliária fez uma nova proposta. Aquela proposta continuava aquém das possibilidades da igreja e absurda para a proprietária.

A proposta A entrada seria de centro e trinta mil dólares. As parcelas mensais seriam de dezessete mil e quinhentos dólares, e vinte e três mil dólares ficaram para as parcelas intermediárias. E o estado de espírito de Joel continuava contrito. Ele acreditou que estava sendo irresponsável no serviço ao Reino de Deus, assinando um proposta para a qual não tinha condições financeiras de honrar, visto que, em um ano de lançado o Projeto 2000, a igreja havia arrecadado sessenta mil dólares, apenas. Novamente ele voltou para casa abatido, pedindo perdão a Deus. E, novamente, ele orou para que a proposta não fosse aceita. Joel entrou em casa. A esposa e as filhas não estavam. Sozinho e preocupado, sentou-se no sofá da sala, abriu a Palavra de Deus e Ele lhe falou: _______________________________________________________________ “Todos comeram e se fartaram, e dos pedaços que sobejaram levantaram doze cestos cheios. Os que comeram foram cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças.”32

Ao ver o direcionamento do Espírito de Deus em resposta a sua angústia, a oração de Joel mudou imediatamente. Dali em diante houve um mover diário de Deus

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Referência à Bíblia Sagrada em: Matheus 14. 13-21, Marcos 6.30-44, Lucas 9. 10-17, João 6.115. Tradução NVI (Nova Versão Internacional)

para a concretização daquele projeto. Em dois meses a igreja cumpria a proposta feita por Joel à imobiliária. No dia 11 de abril de 1997, em uma quinta-feira chuvosa, durante o culto para o qual toda a membresia foi chamada, diante de todos e na pessoa do juiz de comarca que representava a imobiliária, o contrato de aquisição do terreno da Avenida Ultramarino foi assinado. Daquela noite até o dia da mudança para o novo endereço foram mais três meses, sob o slogan “Mudança em Grande Estilo”, e no dia 13 de julho de 1997 em uma passeata da Avenida Guacá até a Avenida Ultramarino, a igreja chegou ao novo endereço. Essa mudança foi consagrada por uma campanha denominada “Quarenta dias em Gilgal33”. E todos os meses aquela igreja contou com a provisão de Deus. Todos os meses testemunhavam o Seu Milagre. A mudança para o novo templo A igreja se manteve fiel aos dízimos da Convenção, enviou os auxílios para os missionários em campo e não deixou de pagar os salários dos funcionários da igreja. Entretanto, Joel abriu mão da prebenda pastoral e suas despesas essenciais foram mantidas com certa dificuldade. Foram dois anos de “cinto apertado” tendo a convicção que seria um ganho muito importante para o Reino de Deus. Em uma noite emblemática que antecedia a data do pagamento da parcela mensal, ao final do culto, após a arrecadação de dízimos, ofertas, vendas da cantina, o diácono Paulo Augusto34, à época tesoureiro da igreja, entregou ao pastor um pequeno papel com o valor que a igreja dispunha. O valor expresso naquele papel fez Joel ficar abatido e sem condições de dar atenção aos membros que estavam ali pedindo aconselhamento. No dia seguinte a imobiliária viria logo pela manhã receber o pagamento da parcela, e naquele momento ainda faltavam em torno de quatro mil e quintos reais. Joel estava lutando contra o tempo e não sabia o que fazer. Após o culto, um jovem vindo de Americana, chamado João, o 33

Gilgal, foi o local por meio do qual os israelitas que entraram na Terra Prometida, liderados por Josué e Caleb, que ficaram acampados ali, ofereceram sacrifícios a Deus, praticaram as circuncisões judaicas e celebraram a Páscoa. 34 Paulo Augusto, no momento da produção dessa biografia é líder do Ministério diaconal da igreja.

Comentado [SC3]: Como foi essa campanha?

procurou para dizer que queria ingressar como membro na igreja. Joel o recebeu, ainda impactado pela preocupação que abatera seu espírito naquela noite, desejou ao jovem boas-vindas e pouco concentrado ao jovem, mas muito preocupado com o compromisso do dia seguinte, ouviu o que ele tinha a dizer. João procurava uma igreja para ser membro, mas não havia se identificado em nenhuma até aquele momento. Durante a conversa disse que queria entregar o dízimo ao Senhor, ao que o pastor aceitou. Ele teve uma grande e grata surpresa quando o jovem ao finalizar o preenchimento do cheque lhe entregou exatamente o valor que Joel precisava para cumprir seu compromisso no dia seguinte. Deus é bom e fiel ao seu servo.

Capítulo 4 No dia 3 de março de 2007 foi realizado o culto para lançamento da “Pedra Fundamental” da igreja “O Brasil Para Cristo” do Mandaqui.

O amadurecimento ministerial A evolução de uma vida no ministério, seja ele qual for, deve estar impreterivelmente pautado pela direção de Deus. Todo cristão tem um chamado. Todo cristão, sem exceção. Porém, estar com os ouvidos abertos para esse chamado demanda entrega ao Espírito Santo de Deus, uma vez que chamado de cada cristão é individual, particular, voltado para os dons que Deus deu a cada um. As pessoas que estão no ministério integral o fazem pela necessidade da obra, e esses ministérios estão para além do templo. Logo, fazer discípulos é tarefa de todo líder, pois a obra de Deus não pertence a um homem, mais ao Seu Reino, e isso conduz ao trabalho contínuo, zeloso, mas sempre dinâmico e em transição. A obra no Reino de Deus não pode e nem deve estar atrelada a uma pessoa, ainda que haja marcas de seu legado, sobretudo pelo trabalho bem feito. Servir a Deus é um dever a ser cumprido com sinceridade, pois Ele sonda os corações e tem um proposito para a vida de todos. O ministério sadio cresce. O crescimento no ministério tem qualidade evidenciada na maturidade dada pelo caráter transformado e mudança de vida, e a constatação dessa maturidade se dá à medida que nos parecemos com Jesus.

Durante o período em que a igreja assumiu a compra do terreno da Avenida Mandaqui, onde depois foi edificado o Templo “Casa de Oração para Todos os Povos”35, Joel se sentiu o trabalhar de Deus, refinando a sua fé e seu relacionamento com Ele, permitindo que Joel ficasse frágil, dependente, se sentindo pequeno. Ele sabia que teria que estar muito atento à direção de Deus, para continuar motivando a igreja a acreditar na visão da. Joel tinha convicção do seu chamado e sabia da consolidação desse chamado através de sua fé praticada diariamente desde o início, sabendo que tudo o que foi feito e tudo o que viesse pela frente pertencia a Deus e sua obediência incondicional lhe imputariam resultados, ainda que houvesse perdas para a sua vida pessoal. O silêncio da semente plantada foi o modelo que ele escolheu para conduzir sua vida. No seu chamado ele aprendeu sobre a necessidade de silenciar a respeito dos seus planos. O projeto de Deus é muito maior do que aquilo que imaginamos. Esperar em Deus é o grande processo para a vitória. A identidade ministerial Joel construiu seu ministério pautado na direção da Palavra de Deus, sensível à voz do Espírito Santo e na convicção que toda a sua vida seria um altar para apenas um e verdadeiro Deus. Essas características foram construídas paulatinamente, à medida que seu relacionamento com Deus se manifestou pela Palavra, pela obediência incondicional e pelo “Ide” imperativo de Jesus. Ele viveu por fé e não por vista. Dessa forma, compreendeu desde o início de sua carreira, que independentemente da situação, os princípios seriam sempre os mesmos, por crer em um Deus imutável, eterno e fiel. A prática desses princípios está na forma como a liturgia é pregada por ele na igreja O Brasil Para Cristo do Mandaqui. Os cultos são celebrados para impelir as pessoas ao desapego de usos e costumes que as deixam estagnadas na fé, cumprindo-o como um ritual vazio e sem sentido. Ao contrário, o esforço é para que as pessoas estejam sempre voltadas ao Espírito Santo de Deus servindo no Reino de Deus com alegria e não como “moeda de troca” com Deus. Dessa forma, alguns elementos 35

A Casa de Oração para Todos os Povos, que inspirou o nome da igreja do Mandaqui, é citada no livro do profeta Isaías 56.7: [...] “a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos”

Comentado [SC4]: Aqui houve uma direção clara de Deus, como houve em outros momentos em que Ele falou?

estruturais estão presentes nos cultos para que as pessoas se deixem ser usadas por Deus, para que os dons do Espírito Santo alcance essas pessoas e para que a igreja seja cada vez mais composta por pessoas espirituais. Um desses elementos é o louvor congregacional, que antecede as pregações. Na igreja do Mandaqui o Ministério de Louvor, liderado por Talitha Stevanatto, atua prerrogativamente no início dos cultos e em outros momentos ao final, mas sempre em obediência, pelo entendimento que o Espírito se aproxima dos corações que clamam. Mas, outros elementos são importantes para a criação de uma identidade ministerial. A necessidade do fortalecimento dos relacionamentos entre a congregação e com Deus, motivou Joel a criar pequenos grupos, onde a Palavra fosse refletida a partir das pregações e as pessoas que ainda não conheciam Jesus pudessem ser alcançadas por esse amor, fossem incorporados à igreja e dessa forma poderem ser salvas. IBBC O Instituto Bíblico Brasil para Cristo foi criado em 1991, sob a direção divina, Joel inaugurou um escola para difundir o evangelho por meio do conhecimento e estudo da Palavra de Deus. Ele foi apoiado pelos pastores Orlando Silva e Luiz Fernandes Bergamin, que o incentivaram a caminhar no projeto. Todo o trabalho inicial foi feito quase que integralmente por Joel que ministrava as aulas, cuidava as finanças e dos atendimentos. Porém, Jamil, seu amigo de juventude e pai na fé, foi seu grande apoiador e desenvolveu o trabalho juntamente com Joel. Eles criaram todo o projeto pedagógico e as apostilas36. O ministério pastoral cresceu e passou a exigir mais tempo de Joel. Assim ele ficou na direção do IBBC e os cursos passaram a ficar a cargo de outros pessoas. Joel convidou o pastor José Hélio a exercer o cargo de coordenador teológico do IBBC. O IBBC se tornou um órgão de grande relevância pelo aspecto de levar a Palavra de Deus às pessoas, e logo passou a ser o órgão teológico do Conselho Nacional. A missão desafio

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Eles desenvolveram o material voltado para o estudo das unidades curriculares das Sete Dispensações e das Oito Alianças que Deus fez com a humanidade e o estudo de Teologia Pastoral.

Joel atravessou fronteiras ao longo de sua carreira. Por meio do discernimento dado pelo Espírito Santo e com o apoio da liderança, sobretudo do Presidente Luiz Fernandez Bergamim ele levou o evangelho a vários países com a Missão Desafio. A Missão Desafio também foi um projeto de Deus colocado no coração de Joel, a partir da viagem à Seul em 1997. Lá ele pode presenciar pessoas envolvidas e entregues na missão de disseminar o evangelho, e os trabalho dos grupos impactaram a vida de Joel. O trabalho de missões foi lançado para a igreja, e a manutenção dele seria feito pelas ofertas direcionadas ao campo missionário. Ele esteve a frente da Missão Desafio como presidente durante trinta anos, sendo jubilado em 2019, mantendo-se como conselheiro emérito da Missão. GEMES - Grupo de Evangelismo e Maturidade Espiritual Em 2002 foi iniciado o projeto GEMES - Grupo de Evangelismo e Maturidade Espiritual, em que pequenos grupos de pessoas se reuniam nas casas e liderados por um líder, recebiam mais da Palavra tendo a oportunidade de testemunhar os milagres de Deus em suas vidas e receber encorajamento para enfrentar as dificuldades que viviam. Porém, a primeira casa que recebeu um grupo de GEMES foi a casa de Joel e Leonor. Joel elaborou o projeto durante alguns anos, na verdade, desde 1997 ele já estudava modelos e experiências de outras igrejas que mantinham essa forma de levar o evangelho. Quando estava preparado avisou a igreja sobre o grupo experimental que faria, convidando apenas alguns líderes da igreja, em torno de quinze pessoas. Lá eles recebiam os irmãos, louvavam a Deus, refletiam sobre a Palavra do Senhor e se fortaleciam mutuamente. Em pouco tempo a casa ficou pequena para receber tantas pessoas, e nesse momento surge a necessidade de ter um modelo para continuar aquele projeto, que se consolidou e hoje é um trabalho desenvolvido pelas igrejas da denominação. No início do ano seguinte, 2002, no mês de março, o projeto foi implantado para toda a igreja. Esse trabalho trouxe uma projeção vultuosa para a igreja do Mandaqui, visto que três anos mais tarde o corpo de membro já tinha em torno de mil e duzentas pessoas. O processo envolveu a determinação de Joel em não focar nos números da igreja. O alvo se voltou para a preocupação com as pessoas que estavam sob seu pastoreio e que elas fossem salvas. A visão ministerial e vida com Deus de cada

pessoa é particular, vinda do próprio Deus para ser direcionada ao povo. Entretanto, os pastores, sobretudo os pastores novos (ministério incipiente) devem tomar como referencial pessoas que sejam espelho para o seu aprendizado, ou seja, seguir a vida dos heróis da fé, como relata a Palavra de Deus. Em 2013 foi sugerido o modelo utilizado pela Igreja do Mandaqui para adoção por outras igrejas da denominação. A posição na denominação Joel ocupou algumas cadeiras na denominação da igreja, iniciado no tempo em que esteve em Presidente Prudente, como superintendente de oito igrejas da região do oeste Paulista. Entre os anos de 1996 e 1999 ocupou o cargo de 1º secretário no Conselho Nacional, sob a presidência do Pastor Orlando Silva. No mandato do Pastor Roberto de Lucena, nos anos 2000 a 2005, foi o 1º Vicepresidente da diretoria. A amizade e o companheirismo Joel contou com muitas pessoas que o apoiaram em seu ministério no Mandaqui. Desses, muitos ajudaram no sustento das necessidades essenciais da vida de Joel e Leonor, outros apoiaram no fortalecimento espiritual e outros ainda, cedendo moradia à família, no tempo em que Joel teve o discernimento para construir uma casa na laje da igreja da Rua Ires Leonor. Nesse tempo, foram cento e um dias, a família viveu de casa em casa até que a construção estivesse concluída. Essa decisão se deu da necessidade de desonerar a igreja do Mandaqui de pagar o aluguel da família. Naquele momento essa seria o único auxílio que a igreja conseguiria suprir para a família dos pastores. As demais necessidades para o sustento ocorreram através do ganhos com as vendas das cotas do Jornal “O conselheiro” do qual Joel foi o editor por algum tempo.

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