Data Loading...

Modulo I - 4.1 Fundamentos de Economia Flipbook PDF

Modulo I - 4.1 Fundamentos de Economia


122 Views
9 Downloads
FLIP PDF 1004.54KB

DOWNLOAD FLIP

REPORT DMCA

Curso Preparatório para a Certificação CFP® Módulo I – Planejamento Financeiro 4.1. Fundamentos de Economia

Treinamento em Finanças e Certificações

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Sumário 4.

Fundamentos de Economia e Finanças ..................................................................................................... 3 4.1.

Fundamentos de Economia ............................................................................................................... 3

4.1.1.

Crescimento Econômico ............................................................................................................ 4

4.1.2.

Definições de Crescimento Econômico ..................................................................................... 6

4.1.3.

Políticas Macroeconômicas: Monetária, Fiscal e Cambial......................................................... 7

4.1.4.

Outros indicadores econômicos .............................................................................................. 27

4.1.5.

Principais indicadores financeiros (taxa de juros: Selic, DI, TR; taxa de câmbio) .................... 29

4.1.6. Análise de ciclos econômicos e seus impactos no emprego, renda, preços dos ativos, oferta de crédito e taxas de juros ...................................................................................................................... 30

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

2

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro 4. Fundamentos de Economia e Finanças 4.1. Fundamentos de Economia Introdução Economia é a ciência que estuda a alocação de recursos escassos de forma eficiente. A base das relações econômicas está representada no fluxo circular de renda, no qual os trabalhadores oferecem às empresas sua mão de obra. E as empresas geram os bens e serviços finais para consumo. A mão de obra é o fator de produção econômico denominado “trabalho”. Já as empresas são responsáveis pelo fator de produção chamado “renda”, que abrange o capital e a tecnologia necessários à produção de bens e serviços finais. Figura 4.1 - Fluxo Circular de Renda

Observe na Figura 4.1 que, em troca do trabalho, as famílias (trabalhadores) almejam o recebimento de salários, enquanto as empresas, em troca do fornecimento de mercadorias e serviços, querem o recebimento financeiro pelos mesmos. Logo, no fluxo circular de renda, está toda a base do estudo econômico, pois ele traz o lado real – a produção e/ou geração de serviços da economia – bem como o lado financeiro: a remuneração dos fatores de produção. À Ciência Econômica caberá a missão da busca do equilíbrio nesta relação e em todas as outras relações que ela representa indiretamente, como: o nível de emprego num país, o patamar de inflação, a questão da produtividade, o tamanho do parque industrial da nação e os investimentos realizados nele, a remuneração dos fatores através das intermediações financeiras, etc. Todas as economias querem crescimento econômico equilibrado, isto é, o crescimento com ganhos de produtividade, redução do custo unitário do trabalho e sem inflação! Cabe aos formuladores de Políticas Econômicas o ajuste fino para o crescimento sustentado, isto é, o crescimento sem inflação. No Brasil, os principais formuladores destas políticas são: o Banco Central, responsável pela Política Monetária; e, o Governo (em todos os seus níveis), responsável pela Política Fiscal. Dentro do Governo, destaca-se o Ministério da Economia (ou equivalente), grande defensor do crescimento e que, muitas vezes, por força de sua missão, poderá se chocar com o Banco Central, como será exposto mais à frente. Já a Política Cambial, num regime de câmbio flutuante ou mesmo no regime de flutuação suja – que impera, hoje, mundialmente – não será determinante da taxa de câmbio. Poderá influenciá-la, mas nunca conseguirá determiná-la! Logo, o maior formulador da taxa de câmbio de uma nação é o próprio mercado, internacional e doméstico, na esteira de seus eventos e grau de regulação.

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

3

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro 4.1.1. Crescimento Econômico O crescimento econômico será mensurado pelo Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma dos bens e serviços finais de uma nação, num determinado período de tempo, comumente, um trimestre, com destaque para a medição de um ano no ano calendário. O PIB é calculado por valor adicionado a cada etapa do processo produtivo de um bem e/ou serviço, para se evitar dupla contagem, sendo expresso em valor nominal, na moeda do país (no caso brasileiro, em reais). Logo, para efeito de comparação e, também, para se evitar “ilusão monetária”, isto é, que o valor do PIB tenha aumentado em relação ao ano anterior apenas por desvalorização da moeda, é necessário retirar do cálculo a inflação. Ao se retirar a inflação do PIB, tem-se o valor real1 e se diz que foi usado um deflator (retirada da inflação) do valor nominal. O PIB é calculado macroeconomicamente na maior parte dos países pelo sistema das Contas Nacionais, através de regras aceitas internacionalmente e definidas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Pode ser medido por três óticas: da Produção; da Demanda; e da Renda. i)

PIB medido pela ótica da Produção: o valor gerado na economia será mensurado pela produção de seus três grandes setores: produção agropecuária, produção da indústria e produção de serviços.

Ótica da Produção PIB = Agropecuária + Indústria + Serviços

ii) PIB mensurado pela ótica da Demanda: o produto total da economia será calculado pela despesa de consumo final (das famílias e empresários). É o mesmo que consumo privado mais o resultado líquido do setor público mais os investimentos (que são a soma da formação bruta de capital fixo2 mais a variação de estoques) mais a participação do setor externo (as exportações de bens e serviços menos as importações de bens e serviços).

Ótica da Demanda PIB = Consumo Privado + Investimento Privado + (Arrecadação - Gastos do Governo) + (Exportações Importações) PIB = Cf + Gg + I + (X – M)

Em que: Cf = Consumo das famílias (setor privado) Gg = Gastos Líquidos do Governo = Tributação - Despesas do Governo (setor público) I = Investimento: Formação Bruta de Capital Fixo + Variação de Estoques X = Exportações

1

Todo valor de PIB apresentado em % (percentual) já é um valor real. Só assim consegue-se, por exemplo, a comparação de crescimento entre nações. 2 A FBKF (Formação Bruta de Capital Fixo) equivale aos investimentos em máquinas e equipamentos efetuados por um país, logo, representa os investimentos de longo prazo em seu parque industrial. Cabe ao estudante observar que não entra neste cômputo os chamados investimentos financeiros. Sendo assim, investir, por exemplo, num fundo de investimentos ou na aquisição de uma ação, não representa ampliação de investimentos no sentido macroeconômico, pois não eleva a FBKF.

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

4

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro M = Importações (X - M) = Setor Externo

iii) PIB pela ótica da Renda: aqui se expressa a remuneração dos fatores de produção utilizados na obtenção do produto. Portanto, é a soma dos salários, lucros, juros e aluguéis mais transferências da previdência social e outros benefícios do governo. Ou seja, a renda nacional é toda produção do país (dentro e fora do país) menos o que foi pago em impostos indiretos e menos a depreciação.

Ótica da Renda Produto Agregado = Despesa Agregada = Renda Agregada

Esta identidade pela Ótica da Renda deriva das seguintes equações e suposições econômicas: i)

As famílias não consomem toda a renda auferida. Sendo assim, a renda nacional é igual ao consumo mais poupança;

ii)

Consideram-se as transações com o resto do mundo igual a zero e as receitas do governo menos os gastos do governo também igual zero, logo, tem-se que:

Y=C+S DA = C + I Em que: Y = renda agregada (renda nacional) C = consumo S = poupança DA = despesa agregada I = investimentos Pela identidade macroeconômica básica, tem-se que Y = DA, então:

C+S=C+I

Anulando-se o Consumo nos dois lados da equação:

Identidade de Equilíbrio das Contas Nacionais I=S Essa igualdade é uma das identidades mais importantes das Contas Nacionais. E remete ao fato da necessidade de igualdade entre Investimento e Poupança para o equilíbrio econômico.

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

5

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro 4.1.2. Definições de Crescimento Econômico Existem outras medidas de produto, que também são largamente utilizadas e referências importantes enquanto indicadores econômicos de um país.

Produto Interno Bruto (PIB) versus Produto Nacional Bruto (PNB) Se excluirmos do PIB a renda líquida enviada (renda recebida – renda enviada)3 ao exterior, teremos o Produto Nacional Bruto (PNB). A renda líquida enviada ao exterior é igual à diferença entre a renda enviada ao exterior como remuneração de fatores de produção que estão em um determinado país X, mas não são propriedade de seus residentes e a renda recebida do exterior como remuneração de fatores de produção que estão fora do país X, mas são propriedade de seus residentes. Por exemplo, a renda de um brasileiro que está trabalhando nos Estados Unidos é parte do PNB brasileiro, desde que internalizada no Brasil. Mas, a renda de uma empresa norte-americana, operando no Brasil, quando remetida para os EUA, sai do cômputo do PNB brasileiro. O PNB pode ser maior ou menor do que o PIB, dependendo do volume de remuneração de fatores de produção que um determinado país paga ou recebe do exterior. Observação: historicamente, no Brasil, o PIB é maior do que o PNB, dado que sai muito mais renda do Brasil do que aquela que adentra a nação, no fechamento de contas das chamadas remessas de lucros e dividendos das empresas somadas aos envios pessoais.

Produto Nacional Bruto Produto Nacional Bruto (PNB) = Produto Interno Bruto (PIB) - renda líquida enviada ao exterior Produto Nacional Bruto (PNB) = Produto Interno Bruto (PIB) - renda enviada ao exterior + renda recebida do exterior

Produto Interno Líquido (PIL) e Produto Nacional Líquido (PNL) Se excluirmos tanto do PIB quanto do PNB a depreciação (que é o gasto de investimento utilizado para repor o valor das máquinas e equipamentos desgastados pelo processo produtivo) teremos o Produto Interno Líquido e o Produto Nacional Líquido. Assim:

Produto Nacional Líquido Produto Nacional Líquido (PNL) = Produto Nacional Bruto (PNB) - Depreciação

Produto Interno Líquido Produto Interno Líquido (PIL) = Produto Interno Bruto (PIB) – Depreciação

Produto Interno Bruto a Custo de Fatores (PIB Cf) e Produto Nacional Bruto a Custo de Fatores (PNBCf)

3

A renda recebida do exterior proveniente de fatores nacionais instalados em solo estrangeiro diminuída da renda enviada ao exterior, gerada por fatores estrangeiros em solo nacional, dá-se comumente o nome de Renda Líquida Transacionada com o Exterior (RLTE). Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

6

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Se excluirmos tanto do PIB quanto do PNB os impostos indiretos (aqueles que são cobrados do consumidor final, como o ICMS, o ISS e o IPI) teremos o Produto Nacional a Custo de Fatores e o Produto Interno a Custos de Fatores. 4

Produto Interno Bruto (PIB) a Custo de Fatores Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado - Impostos Indiretos = Produto Interno Bruto (PIB) a custo de fatores

Produto Nacional Bruto (PNB) a custo de fatores Produto Nacional Bruto (PNB) a preços de mercado – Impostos Indiretos = Produto Nacional Bruto (PNB) a custo de fatores

Produto Interno e Renda Uma forma comum de comparar o desempenho de várias economias é medi-lo pela renda per capita, ou seja, renda gerada por individuo em cada país. Assim, temos o conceito de:

PIB per capita PIB divido pela população de um determinado país

Quanto maior o PIB per capita, mais rico e desenvolvido é considerado o país. Isto não significa que a nação seja desenvolvida economicamente. Para comparações internacionais, normalmente usa-se o PIB dos diferentes países convertido para dólares americanos. Assim, é possível calcular a renda per capita de cada país e comparar o nível de renda em dólar entre as populações.

4.1.3. Políticas Macroeconômicas: Monetária, Fiscal e Cambial O conjunto de ações implementadas por um governo para atingir resultados econômicos é denominado política econômica. Em particular, as ações e decisões relacionadas às taxas de câmbio, às taxas de juros e à situação fiscal são denominadas política macroeconômica. A política macroeconômica recebe esse nome pois afeta indistintamente todos os setores e atividades da economia, pois todos os agentes são afetados, direta ou indiretamente, pelas taxas de juros, taxas de câmbio, impostos e gastos do governo. Cada uma dessas grandes áreas de atuação da política econômica recebe uma denominação específica:

4

i)

A política monetária consiste no conjunto de ações, regulações e procedimentos voltados a determinar as taxas de juros e a liquidez disponível na economia. A política monetária no Brasil é de responsabilidade do Banco Central, e possui o objetivo de zelar pela estabilidade de preços.

ii)

A política fiscal corresponde ao conjunto de ações relacionadas à definição das receitas e despesas do governo central que resultam no superávit ou déficit fiscal. No Brasil, a Lei de Responsabilidade Fiscal, combinada à PEC do limite de gastos e das metas anuais de resultado primário, constituem o bojo da política fiscal.

Descrição de impostos está em Política Fiscal. Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

7

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro iii)

A política cambial corresponde ao sistema implementado por um país em relação às transações internacionais de moeda (operações de câmbio) bem como à forma como o preço de sua moeda é determinado. No Brasil, a política cambial se caracteriza por um regime de flutuação suja.

Pode-se afirmar, de forma genérica, que o objetivo da política macroeconômica é a busca pelo crescimento sustentado, ou seja, as maiores taxas de crescimento possíveis que não gerem aceleração das taxas de inflação. Nos tópicos a seguir, descrevem-se em maiores detalhes cada uma dessas ações de política macroeconômica. 4.1.3.1. Política Monetária Moeda e taxa de juros A presença da moeda permite a troca de bens e serviços entre os agentes econômicos. No passado longínquo, as trocas físicas, conhecidas por escambo eram o único meio de comércio. Naturalmente, o escambo é ineficiente, pois é necessária a coincidência entre as necessidades de mais de um produtor para que seja viável. Por exemplo, se um criador de coelhos deseja consumir um peixe, pode encontrar um pescador que deseje consumir um coelho, como exemplificado na Figura 4.2. Figura 4.2 – Trocas Econômicas por Escambo

No entanto, se o pescador precisasse de um sapato, a troca já ficaria mais difícil, pois talvez o criador precisasse trocar, por exemplo, três coelhos por um sapato para só então trocar o sapato por três peixes. Além disso, um produtor precisaria sempre ter uma ideia do preço de seu produto em relação a todos os outros que consome, o que se torna rapidamente impraticável conforme aumenta a complexidade comercial de uma economia. Assim, o surgimento de meio de troca foi uma evolução natural em todas as sociedades que desenvolveram sistemas econômicos mais sofisticados. Quando se introduz o meio de troca, o criador pode vender o coelho a um agente, em troca de, por exemplo, duas moedas de prata. Se tiver necessidade de consumo, o criador pode utilizar as moedas obtidas para, digamos, comprar peixe. Por conta disso, os meios de troca que surgiram naturalmente costumam apresentar durabilidade, densidade de valor (uma moeda de ouro possui elevado valor de compra e algum valor de uso). Com o tempo, o valor de meio de troca substituiu o valor de uso inicial. Se o criador, no entanto, não tivesse a necessidade de consumo imediata, poderia simplesmente armazenar as moedas em local seguro. Elas adquiriram a característica de ser um ativo que serve como reserva de valor. Por fim, agora o criador não precisa saber o valor do coelho em número de peixes, número de sapatos etc. ele só precisa conhecer um valor ao vender sua produção: o preço do coelho em número de moedas! Surge então a terceira função da moeda, a de ser a unidade de conta, ou seja, o bem contra o qual será medido (ou conhecido) o valor de todas as mercadorias da economia. Quando o comércio se sofistica ainda mais, a utilidade da unidade de conta adquire uma nova dimensão, que corresponde à capacidade de o comerciante medir (contabilizar) seus ganhos e perdas através da unidade monetária.

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

8

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Portanto, a moeda possui três funções essenciais: i)

Meio de troca;

ii) Unidade de valor ou unidade de conta; e, iii) Reserva de valor.

Uma atividade natural que decorre do surgimento da moeda, em especial quando as atividades comerciais também apresentam evolução é a possibilidade de se emprestar uma reserva financeira constituída em moeda. Do ponto de vista da economia, essa poupança, um estoque de moeda guardado e não utilizado, corresponde a um adiamento do consumo: seguindo o exemplo acima, o criador pode ter guardado as moedas para uma necessidade futura. Por outro lado, o pescador pode estar precisando fazer um reparo em seu barco, porém não tem nenhuma reserva. Ele possui uma necessidade imediata de consumo que não pôde atender com sua renda. O criador poderia então emprestar suas moedas ao pescador, que se comprometeria a devolvê-las no futuro. No entanto, como o criador está adiando seu consumo, é justo que receba uma compensação por esse sacrifício. Essa compensação se dá na forma da taxa de juros: o pescador, além de devolver ao criador suas moedas, pagará um valor a mais como forma de remuneração do dinheiro pelo tempo. O pescador não está em desvantagem, pois o empréstimo (ou crédito) permitiu que ele antecipasse o reparo em seu barco, que possivelmente vai permitir que ele tenha uma produção e renda maiores, de forma a repagar os juros e o valor tomado em empréstimo. Do ponto de vista econômico, os juros refletem o custo de oportunidade entre o emprestador e o tomador do empréstimo. A taxa de juros é a variável econômica central para a realização de transações financeiras entre agentes que possuem recursos para emprestar (poupadores) e os indivíduos que necessitam de empréstimos para necessidades imediatas. Naturalmente, quanto maior a abundância de moeda na economia, maior será a facilidade de se tomar empréstimos. Assim, a oferta de moeda (liquidez) abundante fará com que as taxas de juros caiam, enquanto a escassez de liquidez causará um aumento nas taxas de juros.

Política Monetária e o Multiplicador Bancário Nas economias modernas, os instrumentos tradicionais de reserva de valor (como ouro e prata) foram gradativamente substituídos pela moeda fiduciária (fiat money). A moeda fiduciária, diferente das moedas tradicionais, não possui valor de uso algum, assumindo as funções de moeda por imposição do governo nacional (fiat, em latim, quer dizer faça-se, como na passagem bíblica fiat lux – “faça-se a luz”. Dessa forma, a expressão fiat money quer dizer algo como “faça-se o dinheiro”, indicando que a moeda terá suas propriedades apenas pela indicação de um governo nacional. No entanto, no caso da moeda fiduciária, não existe a limitação intrínseca à quantidade de moeda que pode ser criada pelo governo, o que leva à possibilidade de que esse governo usurpe de seu poder de criação de moeda para obter ganhos sobre os usuários dessa moeda, através da corrosão de seu valor em processos inflacionários e, muitas vezes, hiperinflacionários. Ao imprimir muita moeda, o governo – no caso, o Banco Central – contribui para a queda do poder de compra desta moeda, pois ela perde valor. Por esse motivo, faz se necessária uma política monetária, ou seja, um conjunto de medidas que controle a disponibilidade de moeda em uma economia e a taxa de juros, de forma que se mantenha o poder de compra da moeda e sua credibilidade como meio de pagamento. Essa disponibilidade de moeda, conhecida como oferta de moeda, se contrapõe às necessidades de moeda da economia, a demanda por moeda. Assim como nos outros mercados, a relação entre a oferta e a demanda de moeda é o que determina o “preço” da moeda, que nesse caso é a taxa de juros que será praticada na economia. Dito de outra forma, controlar as taxas de juros (como é feito pela maioria dos Bancos Centrais contemporâneos) corresponde a dimensionar o equilíbrio entre oferta e demanda de moeda em uma economia. A política monetária será exercida pelo Banco Central, através da oferta de moeda para economia, visando o controle da liquidez desta economia. O Banco Central do Brasil é o emissor da moeda nacional, o Real. Aqui estamos nos referindo à moeda em seu conceito econômico, ou seja, a base monetária que é criada pelo Banco Central não somente através da impressão e cunhagem de dinheiro físico, mas também como registros eletrônicos de depósitos do Sistema Financeiro. No modelo macroeconômico moderno, o Banco Central controla a chamada taxa de juros básica da economia. No Brasil, essa taxa básica corresponde à taxa das operações compromissadas de um dia lastreadas em títulos públicos Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

9

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro federais e registradas no Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia). Essas operações são os investimentos de menor risco na economia. A taxa média dessas operações é a taxa Selic efetiva. O Banco Central estabelece uma meta para a taxa Selic, e realiza operações no mercado de forma a manter a taxa Selic efetiva próxima à meta da taxa Selic 5. Dessa forma, todas as outras operações de empréstimo e investimento, que são necessariamente de maior risco que as compromissadas mencionadas acima, terão suas taxas de juros balizadas pela taxa básica. Em outras palavras, em um modelo em que a taxa básica de juros é determinada pela Autoridade Monetária (Banco Central), as demais taxas de juros acabarão por utilizá-la como referencial, sobre o qual se adicionarão prêmios pelo risco particular da operação (risco de prazo, risco de crédito, risco de liquidez, etc.). Esse prêmio é conhecido como spread, e no caso das operações de crédito bancário, especificamente como spread bancário. O sistema financeiro também tem função central na transmissão da decisão de política monetária para a economia. Isso ocorre porque, por meio de suas operações, as instituições financeiras criam o que se chama moeda escritural. A partir de uma certa base monetária emitida pelo Banco Central, ao tomar depósitos e fazer empréstimos, os bancos aumentam a quantidade de moeda percebida em poder do público. Esse efeito é o chamado multiplicador bancário, e pode ser melhor entendido através de um exemplo numérico.

Exemplo 4.1 – Multiplicador bancário em uma economia simples Suponhamos que um país, a Esbórnia, apresenta um sistema econômico formado por um Banco Central, dois bancos: Banco Caro e Banco Ruim e três agentes, o Pescador, o Criador e o Sapateiro. A moeda da Esbórnia é o Patacone(P$), e a base monetária corresponde a P$100 detidos pelo Sistema Financeiro da seguinte forma, P$50 no Banco Caro depositados pelo Sapateiro e P$50 no Banco Ruim depositados pelo Criador. O Pescador não tem recursos financeiros. Figura 4.3 – Sistema Financeiro da Esbórnia – Base Monetária Banco Caro:

Sapateiro

Ativo: P$50 Passivo: Banco Central da Esbórnia (BCEs)

Sapateiro: P$50

Passivo:

Criador

Banco Caro: P$50 Banco Ruim: P$50

Banco Ruim: P$50 Ativo: P$50 Passivo: Criador: P$50

Pescador

5

Destaca-se ao leitor que este tema está abordado no material de Renda Fixa Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

10

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Note que a quantidade total de moeda percebida pela economia, ou seja em poder dos agentes da coluna da direita, é de P$100, o que na situação inicial corresponde à base monetária emitida pelo BCEs. Suponhamos, porém, que o Pescador necessite comprar sapatos e tome um empréstimo de P$50 no Banco Ruim. O Banco Ruim deposita P$50 na conta do Pescador. A nova situação é apresentada na Figura 4.4: Figura 4.4 – Sistema Financeiro da Esbórnia – Criação de Moeda Escritural Banco Caro:

Sapateiro

Ativo: P$50 Passivo: Banco Central da Esbórnia (BCEs)

Sapateiro: P$50

Passivo:

Criador

Banco Caro: P$50 Banco Ruim: P$50

Banco Ruim: P$50 Ativo: P$100 BCEs: P$50 Empréstimo ao pescador: P$50

Pescador

Passivo: Criador: P$50 Pescador: $50

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

11

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Note que agora a quantidade total de moeda detida pelos agentes é de P$150, mas sem que o BCEs tenha aumentado a base monetária! Agora, o Pescador fará um pagamento ao Sapateiro, transferindo seus recursos detidos no Banco Ruim ao Banco Caro: Figura 4.5 – Sistema Financeiro da Esbórnia – Criação de Moeda Escritural Banco Caro:

Sapateiro

Ativo: P$100 Passivo: Banco Central da Esbórnia (BCEs)

Sapateiro: P$100

Passivo:

Criador

Banco Caro: P$100 Banco Ruim: P$0

Banco Ruim: P$50 Ativo: P$50 Empréstimo ao pescador: P$50 Passivo:

Pescador

Criador: P$50

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

12

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Numa segunda operação, o Banco Caro, vendo suas reservas elevadas para P$100, decide emprestar parte desses recursos. O Criador, que deseja comprar um grande estoque de peixes, toma um empréstimo de P$50 do Banco Caro, o que é feito através de um depósito em sua conta no Banco Ruim, por transferência de recursos depositados no BCEs: Figura 4.5 – Sistema Financeiro da Esbórnia – Criação de Moeda Escritural Banco Caro:

Sapateiro

Ativo: P$100 BCEs: P$50 Banco Central da Esbórnia (BCEs)

Passivo: Banco Caro: P$50

Empréstimo ao Criador: P$50 Passivo: Sapateiro: P$100

Criador

Banco Ruim: P$50 Banco Ruim: P$50 Ativo: P$100 BCEs: P$50

Pescador

Empréstimo ao pescador: P$50 Passivo: Criador: P$100

Novamente, a quantidade total de moeda percebida pelos agentes se elevou, agora para P$200, sem ter havido um aumento da base monetária. Esse processo pode continuar de forma indefinida e, nesse caso, a base monetária, correspondente aos depósitos dos bancos no BCEs é de P$100, enquanto a oferta total de moeda é de P$200, representando um multiplicador bancário efetivo de 2 vezes. De forma genérica, com uma unidade monetária depositada em uma conta corrente, o banco depositário usa o recurso para a concessão de um empréstimo, que será depositado na mesma instituição ou em outra, a partir de uma transferência bancária. Ao se repetir o processo, a mesma unidade monetária tem sua quantidade ampliada em relação à inicial. Para evitar que o processo multiplicador se torne infinito, as reservas compulsórias e voluntárias mantêm o processo de criação dentro de um limite determinado de acordo com a situação econômica, regulação do país e política monetária. No processo que descrevemos, a base monetária, que corresponde à moeda física em poder do público mais as reservas bancárias6 sofre uma multiplicação dentro do sistema financeiro para formar a oferta de moeda (M). Quanto menor for o nível de recolhimento compulsório (ou voluntário), maior é o multiplicador da base monetária e a criação de moeda no sistema financeiro:

6

As reservas bancárias são definidas como o valor mantido no caixa na própria instituição mais os depósitos compulsórios e voluntários junto ao Banco Central. Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

13

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Multiplicador Bancário Simples

q = 1/r Em que: q = multiplicador bancário (ou monetário) simples r = taxa de reservas compulsórias 1 𝑟

= inverso da taxa de reservas compulsórias

Observa-se que o multiplicador bancário é o inverso do nível de compulsórios – ou da taxa de reservas compulsórias. Isto porque, aquilo que o sistema financeiro não tiver que obrigatoriamente reter em compulsórios enviados ao Banco Central, ele poderá emprestar, livremente, de acordo com o nível de reservas voluntárias mantido pelos bancos. Ao produto final gerado pela multiplicação de moeda pelos bancos, dá-se o nome de quase-moedas. Exemplo: notas promissórias, debêntures, títulos, etc.

Autoridade Monetária e Política Monetária Sob o comando da Autoridade Monetária, a política monetária influencia a atividade econômica aplicando os instrumentos de que dispõe. Seu principal instrumento será a definição da taxa de juros básica da economia. E o Banco Central possui, também, os conhecidos instrumentos secundários: i)

Taxa de compulsórios: corresponde à taxa de recolhimento obrigatória dos bancos que recebem depósitos à vista e a prazo e são obrigados a depositar uma parte destes no Banco Central. O montante recolhido ao Bacen é também chamado de “colchão de liquidez” – liquidez esta que fica de reserva no socorro dos BCs aos bancos, quando necessário.

ii)

Taxa de redesconto: é uma taxa de juros “punitiva” utilizada no socorro de liquidez do Banco Central para os bancos, quando estes necessitam de capital para fecharem seus caixas. Neste momento, diz-se que o banco entrou no mecanismo de redesconto.

iii)

Operações de open market: referem-se às operações dos Bancos Centrais de compra e venda de títulos no mercado aberto.

E como funcionam estes importantes instrumentos de Política Monetária? Na Política Monetária Contracionista, o Bacen observa a inflação em aceleração ou em possível movimento de forte aceleração, num horizonte aproximado de 12 meses à frente. Logo, ele pode: ➢

Aumentar as taxas de juros;



Elevar os compulsórios;



Subir a taxa de redesconto;



Efetuar leilões de venda de títulos (também chamados “papéis”).

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

14

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Observe no tocante à taxa de juros: Figura 4.6 – Política Monetária Contracionista - JUROS

O Bacen eleva a taxa de juros. Com isto, ele reduz a liquidez da economia, pois há aumento no custo do capital, isto é, sobem os juros dos contratos e financiamentos (cheque especial, carnês de prestações, etc.). Logo, as pessoas têm menos renda disponível e cai o consumo. Sendo o consumo a base do crescimento econômico, evidentemente, haverá contração econômica. Os outros instrumentos – compulsórios, redesconto e open market – são chamados secundários. Isto porque seu poder de alcance é menor ou mais lento sobre a atividade econômica e agem como segue: Figura 4.7 – Política Monetária Contracionista - COMPULSÓRIOS

Ao aumentar os compulsórios, a Política Monetária é Contracionista, justamente porque ela resulta na contração (queda) do PIB, dado que há retenção de dinheiro (liquidez) dos bancos comerciais por parte do Bacen. Já o redesconto, funciona da seguinte forma: Figura 4.8 – Política Monetária Contracionista - REDESCONTO

Ao aumentar o percentual da taxa de redesconto, a Política Monetária é Contracionista. Isto porque o Banco Central inibe os bancos a emprestarem dinheiro, tendo que aumentar suas reservas voluntárias, para não recorrerem ao “caro” redesconto do Banco Central. E quanto aos leilões de papéis, a Autoridade Monetária atuará efetuando as vendas dos mesmos: Figura 4.9 – Política Monetária Contracionista – OPEN MARKET

Quando o Bacen faz uma COLOCAÇÃO DE TÍTULOS, ele está vendendo títulos e recolhendo dinheiro do mercado. Esta é a forma mais rápida de retirada de capital do sistema financeiro (enxugamento de liquidez). Na Política Monetária Expansionista, ao analisar a inflação em queda ou a ameaça de inflação muito baixa e até deflação (cenário 12 meses à frente), o Banco Central pode: ➢

Derrubar a taxa de juros; Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

15

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro ➢

Diminuir os compulsórios, isto é, reduzir a taxa de recolhimento obrigatório sobre os bancos;



Baixar a taxa de redesconto;



Efetuar leilões de compra de títulos no mercado financeiro.

Quando o Banco Central derruba juros, ele contribui para a expansão (alta) do PIB, pois há um barateamento no custo de empréstimos e financiamentos, no chamado custo do capital, como segue: Figura 4.10– Política Monetária Expansionista – JUROS

Neste ponto, o sistema de crédito exerce também uma importante função na expansão da economia 7. A redução na taxa de juros impõe a redução no custo de financiamento para investimento e consumo no presente. Para aqueles que possuem recursos financeiros, a redução na taxa de juros reduz o custo de oportunidade de uma família e de um investidor. O retorno financeiro8 menor é uma oportunidade para um investidor realizar o investimento e ter ganhos mais significativos relativamente. Para uma família ou consumidor, o retorno trazido no consumo é maior do que postergá-lo, se mantido em uma aplicação financeira. Os instrumentos secundários também podem ser usados para aumentar a oferta de moeda e crédito na economia. Por exemplo: ao reduzir os compulsórios, a Política Monetária é Expansionista, justamente porque ela resulta no aumento do PIB, dado que há maior possibilidade de os bancos comerciais realizarem empréstimos e financiamentos. Figura 4.11 – Política Monetária Expansionista – COMPULSÓRIOS

Da mesma forma, ao baixar o percentual da taxa de redesconto, a Política Monetária é Expansionista. Isto porque os bancos comerciais sentem-se mais à vontade para efetuar maior quantidade de empréstimos e financiamentos, dado que podem recorrer à liquidez e pagar “barato” ao Bacen.

7

Em uma abordagem em que a satisfação ou utilidade no consumo de um bem por uma família é realizado e inalterado se feito hoje ou no amanhã, o custo de financiamento para aquisição do bem se houver a redução na taxa de juros tende a fazer com que custo-benefício reduza e a aquisição é realizada no presente. No sentido inverso, uma taxa de juros mais elevada o eleva e a aquisição é postergada para frente na expectativa de redução no custo financeiro. Para um investidor, o retorno dado pelo projeto precisa ser elevado para compensar a taxa de juros paga se o mesmo for feito com recursos de terceiros. Com taxa de juros menores, a exigência é menor e percebe-se a sua realização no presente. 8 O retorno de um investimento financeiro afeta o custo de oportunidade de uma família ou consumidor e de um investidor. Uma menor taxa de juros implica em menor ganho financeiro e a aquisição de um bem hoje se torna mais atrativa do que se no futuro, porque o benefício ou satisfação ou utilidade no consumo não muda conforme influenciado diretamente pela taxa de juros. Para o investidor, na busca de retorno, o retorno financeiro é descompensado pelo retorno no investimento e o incentivo para fazê-lo é realizado. Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo. 16

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Figura 4.12 – Política Monetária Expansionista – REDESCONTO

E, por último, quando o Bacen faz uma RETIRADA/COMPRA DE TÍTULOS, ele está (re)comprando os títulos e injetando dinheiro no mercado, conforme a : Figura 4.13 – Política Monetária Expansionista – OPEN MARKET

Logo, a atuação da Autoridade Monetária não se restringe desta forma em estabelecer a taxa de juros básica, mas também como as demais taxas de juros podem ser induzidas para a variação esperada.

Sistema de Metas para Inflação Adotado inicialmente na Nova Zelândia em 1989, o sistema de metas para inflação foi implementado no Brasil em 1999, após alguns meses depois da mudança de regime cambial. A nova experiência na política monetária trouxe o desafio em ajustar variação dos preços da economia, a inflação, aos valores pré-estabelecidos em uma economia com histórico de hiperinflação e susceptível a choques que se refletem nos preços praticados em diversos setores. A aplicação das metas para inflação guia as decisões da política monetária e sua ação tem o desafio em determinar recorrentemente a taxa de juros de modo a ajustar a inflação observada à meta no final de cada ano. A regra de Taylor (1992) permite os ajustes na taxa de juros de acordo com o desvio da taxa de inflação da meta e o desvio do produto em relação ao produto potencial, o hiato do produto ou output gap.

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

17

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Figura 4.14 – Representação do Hiato do Produto

Fonte: Banco Central Europeu. O que é a Margem Disponível na Economia. Disponível em: https://www.ecb.europa.eu/explainers/tell-me-more/html/what-is-economic-slack.pt.html. Acesso: 17 Maio19

O peso atribuído na decisão da taxa de juros a um dos dois desvios demonstra o foco da Autoridade Monetária para determinar a taxa de juros. Apesar da taxa ser determinada pela regra de Taylor, o peso dado ao desvio da inflação observada em 12 meses em relação à meta é o foco da decisão. A variação nos preços na economia depende da influência da taxa de juros direta sobre o nível de atividade econômica, descrito na seção anterior. Dentro de um intervalo de inflação pré-estabelecido e anunciado antecipadamente, a Autoridade Monetária monitora a dinâmica dos preços para que a inflação registrada esteja dentro dos limites pré-estabelecidos para absorver eventuais choques (positivos ou negativos) na economia para ajustar a taxa de juros de acordo com o que é observado. Se a inflação acumulada não estiver próxima do centro da meta ou dentro dos limites, a Autoridade Monetária aplica a taxa de juros9 de modo que a inflação seja afetada e o intervalo seja respeitado, conforme a política monetária expansionista ou contracionista. Caso a inflação do ano não seja atingida, a Autoridade Monetária reporta ao ministro da economia ou ao responsável pela economia os motivos pelos quais a meta não foi cumprida de acordo com pré-estabelecido e apresenta as suas alegações e argumentos sob o ponto de vista da conjuntura econômica. No Brasil, este report será chamado de Carta Aberta à Nação e é ideal que esta esteja disponível nos meios de comunicação no mesmo timing em que o ministro da economia a apresentar ao presidente da República. Uma vez apresentada a Carta, o presidente decidirá se o presidente do Bacen permanece ou não no cargo. Caso seja decidido que a conjuntura econômica, de fato, impediu o alcance da meta para inflação e o presidente da República opte por manter o presidente do Bacen, faz-se necessário, ainda, que este preste explicações ao Senado. Em última instância, será o Senado – representante do povo – a decidir se o presidente do Bacen fica ou não no cargo. Tudo isto porque o Regime de Metas para Inflação tem sua essência na transparência para com a sociedade – divulga Atas de Reunião do Comitê de Política Monetária, Relatório de Inflação, etc. – e é sempre considerado como um “contrato” com o povo. No caso brasileiro, O Copom é o Comitê de Política Monetária, uma reunião realizada ordinariamente pelo Banco Central do Brasil para decidir a taxa Selic Meta, sendo que compete ao Copom:

9

i)

Estabelecer as diretrizes de política monetária;

ii)

Definir a meta da taxa Selic (Selic Meta) e seu eventual viés;

iii)

Publicar o Relatório de Inflação.

As reuniões do comitê responsável pela decisão analisam a conjuntura econômica do país adotante e delibera a taxa de juros conforme a necessidade de variação em pequenos intervalos para induzir os agentes econômicos a ajustarem o produto e induzir os preços ao ponto desejado para atingir a meta estipulada. Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo. 18

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro E compõem o Copom: i) O presidente do Bacen; ii) Demais diretores. Em caso de empate na votação da reunião do Copom sobre a definição da taxa de juros, o presidente do Bacen terá o “voto de Minerva” ou “voto de qualidade”. Figura 4.15 – Comitê de Política Monetária

Fonte: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/copom

A taxa de juros definida na reunião do Copom é a taxa Selic Meta, a qual vigora por todo o período entre reuniões ordinárias do Comitê e este também pode definir o viés, que virá (ou não) a ser implementado em reuniões extraordinárias. Logo, a Taxa Selic Meta é definida na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) para controle da inflação medida oficialmente pelo índice IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

4.1.3.2. Política Fiscal A Política Fiscal é resultante da ação do governo – ou governantes – sobre a economia. Ela é a própria ação e sua resultante; são indissociáveis e, por isso mesmo, esta vasta área macroeconômica – a área de Finanças Públicas – é bastante polêmica. Isto porque, em geral, de alguma forma, os governantes impõem metas para eles mesmos cumprirem. Quando se diz que a política fiscal é efetuada pelos governos, não está em questão o tipo de “regime” de governo, se parlamentarista, presidencialista, ou mesmo, se democrático ou não democrático, dentre outras possibilidades. Isto porque Finanças Públicas é uma área dentro de Economia, dentro da economia de toda nação. Ela abrange a contabilidade do setor governamental. E, sim, é uma área sozinha dentro de outra maior: Finanças Públicas insere-se nas Ciências Econômicas. Logo, apresenta linguagem característica da área, como “o ente” governo, “a coisa” pública, a “rubrica” gastos, etc. Governos arrecadam e gastam. Esta é a forma que possuem para influenciar e conduzir a economia de suas nações. O governo representa o ente que intermedia o montante arrecadado da população e as benfeitorias para esta mesma população, visando o bem-estar social de todos e alocação de recursos escassos. É, portanto, o ente responsável pela coisa pública em sua gestão, alocação, planejamento e monitoramento. Logo, de um ponto de vista da teoria de Finanças Públicas, só há dois instrumentos essenciais para Política Fiscal: Arrecadação ou Tributação (comumente chamados de Impostos) e Gastos do Governo (comumente chamados de Gastos Públicos). O saldo da soma entre Arrecadação e Gastos do Governo será o chamado Resultado Primário. Há duas modalidades de Arrecadação Pública, os Impostos e as Contribuições. Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

19

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro I.

IMPOSTOS: só podem ser definidos por ente público, conforme legislação do país em questão, sendo um encargo financeiro cobrado sobre bens de consumo, renda e patrimônio. Dividem-se em:

II.

i)

Impostos Diretos: cobrados sobre a renda gerada que as pessoas têm a pagar, como o Imposto de Renda (IRPF, IRPJ) e o Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU);

ii)

Impostos Indiretos: que são cobrados do consumidor final, como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), ISS (Imposto sobre Serviços) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);

CONTRIBUIÇÕES: também definidas pelo ente público e divididas em dois grandes grupos: i)

Contribuição Especial: sua cobrança destina-se a um determinado grupo ou atividade, como por exemplo: CPMF (Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira), PIS (Programa de Integração Social);

ii)

Contribuição de Melhoria: melhorias que resulte em benefício ao contribuinte, como por exemplo, no caso de asfaltamento de uma rua; esta ação valoriza o imóvel, gerando uma contrapartida financeira ao cidadão, pois ele teve um claro benefício.

E COMO FUNCIONA A POLÍTICA FISCAL PARA OPERAR OS INSTRUMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS? O funcionamento da Política Fiscal dependerá do objetivo da própria Política Fiscal. E é exatamente neste ponto que se abre a polêmica existente em Finanças Públicas, em qualquer lugar do mundo. Aqui, é diferente da Política Monetária, na qual o Banco Central, enquanto “guardião da moeda”, tem um objetivo definido, a saber: a preservação do valor da moeda ou a contenção da inflação ou a defesa da liquidez da economia. Tudo remete à estabilidade de preços. Sendo assim, quando o Banco Central faz Política Monetária, sabe-se que ele visa à estabilidade monetária (da moeda). Em Finanças Públicas, quando os governos fazem política fiscal, não há objetivo definido. E é sabido que governantes efetuam políticas públicas por manutenção do poder, alianças partidárias, perpetuação individual ou de um partido no poder, interesses outros e, também, porque se entende enquanto ente público como defensor da coisa pública. Logo, a área de Finanças Públicas estabeleceu, em teoria, que o objetivo final de Política Fiscal é discricionário, isto é, a política fiscal é feita pelo governo e não se sabe, ao certo, suas intenções finais, pois este tem o poder de agir com discricionariedade. Logo, os instrumentos serão utilizados, conforme se objetive a expansão ou a contração da economia: i)

Na Política Fiscal Contracionista, o governo irá aumentar a tributação sobre a Pessoa Física (PF) e a Pessoa Jurídica (PJ) e/ou Cortar Gastos. Desta forma, ele reduzirá a liquidez da economia, diminuindo o poder de consumo da PF e da PJ, que estarão com menos renda disponível. O PIB será afetado tanto no item consumo, quanto em gastos do governo, como segue: Figura 4.16 – Política Fiscal Contracionista

Vale lembrar que quanto mais presente for o governo na economia, como é o caso, por exemplo, dos governos sulamericanos, mais impactante sobre o PIB será o corte de gastos do governo. Exemplo clássico, atualmente, é o Programa brasileiro chamado Bolsa Família, que dá uma assistência em dinheiro à população mais carente. Sua redução ou extinção, hoje, teria impacto em cadeia sobre o consumo das regiões Norte e Nordeste do Brasil e, consequentemente, sobre o PIB. ii) Na Política Fiscal Expansionista, o governo irá reduzir a tributação sobre a Pessoa Física (PF) e a Pessoa Jurídica (PJ) e/ou elevar seus gastos, sua participação na economia. Desta forma, ele aumentará a liquidez da economia, Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

20

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro ao elevar a renda disponível da PF e da PJ, expandindo, então, o consumo. Será gerada expansão econômica, com o PIB sendo afetado tanto no item consumo quanto em gastos do governo, como segue: Figura 4.17 – Política Fiscal Expansionista

O aumento de gastos do governo, muitas vezes, pode caminhar em descompasso com a Política Monetária. Há momentos em que o Banco Central está promovendo um ciclo de aperto da taxa de juros (alta de juros) e realizando a Política Monetária Contracionista; enquanto o governo, visando o crescimento econômico, o nível de emprego e motivos outros, pode estar no sentido contrário, efetuando uma Política Fiscal Expansionista, dificultando, assim, o trabalho do Bacen.

4.1.3.2.1.

Contas Públicas no Brasil

A contabilização de contas públicas é algo relativamente simples: segue-se no mundo globalizado de economias abertas a metodologia do Fundo Monetário Internacional (FMI), com a abertura de duas grandes contas, em seus conceitos de fluxo de caixa, ou seja, a mensuração pelo período de um mês. As duas contas são o resultado primário e o resultado nominal: i)

RESULTADO PRIMÁRIO DO SETOR PÚBLICO: são as receitas “menos” as despesas não financeiras do setor público nas suas diferentes esferas de governo. Neste caso, não entram em despesas os gastos com juros da dívida pública;

ii)

RESULTADO NOMINAL DO SETOR PÚBLICO: de forma simples, é conceituado como o resultado primário acrescido das despesas financeiras – custos com a dívida pública – do setor público.

Observações: • • •

Ambos os resultados são mensurados no conceito FLUXO DE CAIXA; O resultado primário, quando positivo, é também chamado de poupança do governo; O resultado primário é fundamental para a rolagem da dívida pública. Ele dará o “tom” de sustentabilidade ou não da dívida pública da nação, quer seja ela interna ou externa. Basta pensar que ele é fruto da arrecadação governamental e, se nesta etapa, o governo já apresentar déficit primário, significa que ele não está, sequer, cobrindo custos fixos: gastos com pessoal, transferências e investimentos.

Contas Públicas no Brasil – Necessidade de Financiamento do Setor Público (NFSP) O Brasil possui três esferas de governo – federal, regionais e estatais – a título de abertura em Finanças Públicas, com as seguintes composições: I) Governo Federal i) Governo central ii) Banco Central iii) INSS II) Governos Regionais i) Governos estaduais (Estados) ii) Governos Municipais (Municípios)

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

21

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro III) Empresas Estatais i) Federais ii) Estaduais iii) Municipais Atualmente, o Brasil é considerado um exemplo a ser seguido na prestação e abertura das contas públicas – o que não significa que elas sejam boas. Significa apenas que a nação é transparente na prestação de contas. O país segue, sim, a metodologia do FMI, porém, um detalhe deve ser destacado: no Brasil, as contas públicas se chamam Necessidade de Financiamento do Setor Público (NFSP). Com uma memória recente em Finanças Públicas, a nação brasileira inaugurou a abertura de dados das contas apenas em 1986 – até então, o lado “governo” era uma estatística para o IBGE quando do cálculo do PIB – e lhe dá o nome de Necessidade de Financiamento do Setor Público, fato que não se alterou até os dias de hoje. Isto traz um detalhe importante: a contabilidade é a mesma, mas o sinal final do saldo da NFSP brasileira deve ser trocado.

Exemplo 4.2: Se, num determinado mês, o governo federal brasileiro arrecadou R$ 100 bilhões e gastou R$ 60 bilhões, ele possui um superávit de R$ 40 bilhões. Logo, devido ao nome das contas públicas, deve ser invertido o sinal, para que seja negativada a “necessidade de financiamento”, como no exemplo: Arrecadação: R$ 100 bilhões Gastos: R$ 60 bilhões ____________________________ Superávit: ( - ) R$ 40 bilhões: indicando que está negativada a necessidade de financiamento do setor público brasileiro.

Observações: •



No Brasil, o sinal de ( - ) indica superávit e o sinal de ( + ) indica déficit em Contas Públicas. Isto se deve ao nome atribuído às contas: NFSP (Necessidade de Financiamento do Setor Público). O mesmo vale para valores em percentuais do PIB. Muitas vezes, geram-se pequenas confusões pelo fato de o Banco Central do Brasil (Bacen) prestar contas sobre a NFSP brasileiro; porém, deve-se saber que o Banco Central nada tem a ver com as contas públicas. Ele é apenas o órgão com a expertise em sistemas e técnicos para a realização de tal prestação de contas, sem ter qualquer ingerência sobre as mesmas. O Bacen recebe os dados das fazendas municipais e estaduais, bem como do governo federal e das estatais e organiza a prestação de contas brasileira.

4.1.3.2.2. pública

Déficit e Dívida Pública: necessidade de financiamento do setor público, implicações sobre a dívida

Se ao final de um período, suponhamos um mês, o governo fechar suas contas com déficit primário, significa que sequer está conseguindo cobrir custos fixos. Ao se acrescentarem os rendimentos pagos pelos indexadores da dívida pública ao mercado financeiro, este déficit só fará crescer. O governo também pode encerrar o mês com superávit primário – o ideal – e, neste contexto, ele decidirá se usa o superávit para abatimento de dívida e/ou para investimentos. Ambos representam gastos: abater a dívida ou investir. Verdade é que, ao encerrar um período qualquer, em geral, levando-se em consideração a contabilidade de fluxo de caixa, este período será um mês, o governo possui apenas duas alternativas que se resumem em uma! Isto porque, para financiar déficits, os governos podem: i) ii)

Emitir moeda; Emitir títulos de dívida.

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

22

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro O primeiro instrumento – a emissão monetária – está praticamente banida em nível mundial, porque se sabe que ela é inflacionária; fato que inviabiliza o crescimento sustentado, ao gerar inflação em aceleração. Desta forma, só resta aos governos a emissão de títulos de dívida. Para tanto, a primeira análise do mercado financeiro será de crédito – vou receber da contraparte? – e, em seguida, análise de rentabilidade – e quanto ganho para financiar este governo? No Brasil, o financiamento dos bancos para o governo: i) ii) iii)

É de curto prazo: a maioria dos papéis aceitos pelo mercado tem prazo inferior a dois anos; Custa caro: o mercado cobra caro – e muito! – Para financiar (comprar dívida original) ou rolar (refinanciar) os títulos públicos, porque entende que são de alto risco; É concentrado nas mãos de poucos e homogêneos credores, isto é, quem compra dívida interna do governo brasileiro são, fundamentalmente, bancos. E bancos locados no Brasil! Não há capital externo; há pouco interesse da pessoa física e, neste contexto, “o governo torna-se refém dos bancos”.

Políticas Fiscais deveriam ser anticíclicas Alterações nos gastos públicos e nos impostos afetam a atividade econômica. O governo poderia utilizar a política fiscal de forma anticíclica, ou seja, quando há uma desaceleração da atividade ou recessão, ele aumentaria os gastos e/ou reduziria os impostos para elevar a renda disponível para consumo, levando a um aumento da produção e uma queda do desemprego. De maneira inversa, uma política de redução de despesas ou aumento de impostos tem um efeito contracionista sobre a atividade e poderia ser utilizada quando o governo precisasse desacelerar a atividade econômica.

4.1.3.3. Política cambial Sempre que houver transações econômicas entre pessoas ou empresas em dois países diferentes, que utilizam moedas distintas, haverá necessidade de se fazer uma transação de câmbio. A operação de câmbio é a “conversão” da moeda de um país na moeda do outro país. Diferente do que foi visto na seção de política monetária, numa transação cambial, não há criação ou destruição de moeda, mas apenas a troca de depósitos nas diferentes moedas entre as contrapartes da operação. Suponhamos por exemplo, que um importador (Imp.) no Brasil deseja adquirir uma mercadoria de um exportador (Exp.) localizado nos EUA. O Exp. deseja receber um pagamento de US$50.000 pela mercadoria, mas o Imp. apenas detém R$200.000. Para conseguir fazer o pagamento em Dólares, o Imp. entra em contato com seu banco, que oferece a venda de US$50 mil por R$200 mil, uma transação cambial. Essa transação corresponde a duas transferências bancárias simultâneas. Na primeira, o Imp. transfere, no Brasil, os R$200 mil ao seu banco e na segunda, o banco deposita US$ 50 mil em uma conta de titularidade do Exp., nos EUA:

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

23

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Figura 4.18 – Operação de Câmbio à vista

EUA Exportador

US$50.000

Banco

Brasil Importador

R$200.000

Nessa operação, a taxa de conversão dos reais em dólares foi de R$4,00=

𝑹$𝟐𝟎𝟎.𝟎𝟎𝟎 𝑼𝑺$𝟓𝟎.𝟎𝟎𝟎

Banco

. Portanto, a taxa de câmbio entre

as duas moedas foi de R$4 por US$1. Note, em especial, que não houve nem “saída” nem “entrada” de dólares no Brasil. As transações são restritas a contas bancárias internas de cada país, e por conta disso, para cada “saída” (o importador querendo comprar dólares) há necessariamente uma “entrada” (o banco comprando reais). Por esse motivo, as transações cambiais, de forma individual ou agregada, sempre totalizarão exatamente zero: todos os dólares que alguém vendeu foram comprados por outrem e vice-versa para os reais. A taxa de câmbio entre duas moedas quaisquer será determinada pelo equilíbrio entre oferta e demanda entre as duas moedas, ou seja, pelas transações comerciais, de serviços e financeiras líquidas entre os dois países. Desde o fim da 2ª guerra mundial, o sistema de trocas de moedas global é centralizado no Dólar dos Estados Unidos. Isso quer dizer que, normalmente, pagamentos internacionais são feitos em dólares ou são convertidos inicialmente em dólares para apenas depois serem reconvertidos na moeda final de pagamento. Esse sistema, estabelecido pelo acordo de Bretton Woods, dá ao dólar uma posição de reserva de valor internacional, que prevalece desde então. Mais recentemente, algumas moedas ganharam relevância no sistema de trocas internacional, em especial o Euro, o Iene japonês e, mais recentemente, o Iuan Chinês. A China, em especial, vem empenhando esforços para internacionalização de sua moeda, utilizando-a diretamente para transações contra outros países, mas esses esforços são iniciais e o dólar ainda é preponderantemente a reserva de valor internacional. Por conta desse valor internacional de reserva, e para se proteger de momentos em que a demanda por moeda estrangeira se eleve de forma significativa, a Autoridade Monetária pode compor um estoque de Reservas Internacionais. As reservas nada mais são que depósitos ou investimentos de baixo risco no exterior, por exemplo, nos EUA em nome do Banco Central de um país. Esse estoque pode ser então utilizado para limitar movimentos exagerados de depreciação da moeda local ou mesmo para fixar o valor da moeda local, dependendo do regime cambial, como descreveremos a seguir. A taxa de câmbio mencionada acima, que em um ponto do tempo representa o valor de conversão entre duas moedas, é denominada câmbio nominal. No entanto, para se verificar se uma moeda está muito apreciada ou depreciada em relação à outra, não basta observar a taxa de conversão, mas é preciso também considerar o poder de compra de cada

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

24

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro moeda, em relação ao nível de preços local. Essa taxa de câmbio, corrigida pelo nível relativo de preços é chamada de a taxa de câmbio real10. A taxa de câmbio real é uma medida de preço relativo dos bens produzidos em um país em comparação com os produzidos no resto do mundo. Ela é um dos determinantes da competitividade de um país no comércio internacional. Figura 4.19 – Câmbio Real

Em que: e = taxa de câmbio nominal expressa em termos de reais por dólares P = índice de preços ao consumidor doméstico P* = índice de preços ao consumidor externo (comumente, o IPC norte-americano) Do ponto de vista do comércio exterior, a variação da taxa de câmbio nominal é importante para a conversão das moedas entre si no dia a dia, no entanto, o que determina a relação efetiva entre o poder de compra de mercadorias e, portanto, a competitividade dos países, é a taxa de câmbio real, que desconta da taxa de câmbio nominal a diferença entre o nível de preços dos dois países, ou seja, desconta a diferença entre as taxas de inflação.

4.1.3.3.1.

Regime de câmbio fixo e administrado

Como visto, a moeda estrangeira é comprada e vendida, como um ativo financeiro, por agentes que desejem utilizá-la como meio de pagamento ou mesmo como reserva de valor. A interação entre oferta e demanda determina o preço da moeda local em relação à estrangeira, ou seja, a taxa de câmbio. No entanto, um governo pode desejar manter um controle mais estrito sobre o valor de sua moeda. Quando um país, através de seu Banco Central, detentor de reservas internacionais, fixa o valor de sua moeda, diz-se que o país adota um regime de câmbio fixo. No regime de câmbio fixo ou hard peg, a determinação da taxa de câmbio não segue a interação de oferta e demanda no mercado cambial, mas sim os preços estabelecidos pelo Banco Central. Quando algum agente deseja adquirir moeda estrangeira, compra a moeda do Banco Central, que vende suas reservas no preço desejado, e quando um agente deseja vender moeda estrangeira, ele o faz ao Banco Central, que aumenta as reservas no preço fixo. Existem algumas variações do regime de câmbio fixo. No regime descrito acima, a taxa de câmbio é fixada exatamente a certo valor. Pode haver, ao invés de um valor fixo, uma banda de variação, e sempre que a cotação da moeda superar os limites superior ou inferior da banda, o Banco Central atua para trazer a taxa de volta ao valor desejado. Essa metodologia é conhecida como conventional peg, ou arranjo estabilizado11. A paridade da moeda num regime de câmbio fixo pode ser menos rígida, em regimes chamados de soft pegs. Nesse caso, a flutuação é controlada com as ações de compra e venda de moeda estrangeira pela Autoridade Monetária, mas segundo regras não explícitas. A moeda doméstica também pode ser pareada em relação a uma cesta de moedas estrangeiras. A flutuação controlada pode ser ou não seguida por ajustes para manter a taxa de câmbio real no nível desejado. Sob crawling peg, a taxa de câmbio nominal segue uma trajetória dentro de um intervalo pré-determinado e sofre reajustes recorrentes de acordo com as variações dos preços dos países referenciados. Em sistema de craw-like, existe a flutuação dentro um limite restrito e o reajuste da taxa de câmbio nominal ocorre anualmente para o nível desejado.

10

O cálculo da taxa do câmbio real é obtido entre duas moedas, mas também ponderado entre moedas de acordo o peso do comércio entre os países envolvidos, a taxa de câmbio real efetiva. A abordagem depende do objetivo de análise. Se a comparação é baseada entre dois países unicamente, o cálculo bilateral é mais objetivo para mensurar a disparidade ambos. Se for uma análise global, a taxa de câmbio real efetiva se torna abrangente para a medir a competitividade externa do que o câmbio real entre duas moedas. 11 A flutuação restrita é aceita por um período de 6 meses em um intervalor de 1%. Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo. 25

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Vale notar que o Banco Central sempre pode emitir sua moeda local para comprar moeda estrangeira quando há elevada demanda pela moeda local. No entanto, para que não haja descontrole da base monetária, é necessário que a Autoridade Monetária enxugue a liquidez extra gerada pela compra de dividas. Por outro lado, quando há demanda por moeda estrangeira, o Banco Central precisa vender suas reservas em troca de moeda local, e necessitará reestabelecer a liquidez retirada do sistema. Mais do que isso, a quantidade de reservas internacionais é limitada, portanto, se a demanda por moeda estrangeira superar as reservas do Banco Central, a autoridade monetária pode perder o controle do valor da moeda. Para que isso não ocorra, é necessário atrair mais capitais para o país, através da elevação da taxa de juros. Sendo assim, os regimes de câmbio fixo são estruturalmente frágeis, e sujeitos a ataques especulativos. Quando os agentes perdem a confiança na capacidade ou desejo de o Banco Central manter a taxa de câmbio fixa, há uma debandada de capitais, que força o Banco Central a aumentar a venda de reservas, aumentar a taxa de juros ou então abandonar o regime fixo. Por conta dessa instabilidade inerente, muitos países emergentes que adotaram o regime de câmbio fixo na década de 1990 acabaram por flexibilizar para o regime de flutuação. O Brasil foi um desses países, que adotou o câmbio fixo entre 1994 e 1999, passando então a um regime de flutuação suja.

4.1.3.3.2.

Regime de câmbio flutuante

Esse regime cambial permite a flutuação da taxa de câmbio de acordo com a oferta e demanda de divisa estrangeira. Em regime flutuante, pode haver intervenções pela Autoridade Monetária para conter movimentos excessivos de preço da moeda, mas essas intervenções não se dão em valores fixos pré-determinados. Sob a livre flutuação, a taxa de câmbio é determinada estritamente pela oferta e demanda de divisas no mercado cambial. Os países que adotam essa metodologia só intervêm do mercado de câmbio em situações muito extremas, muitas vezes até prescindindo do carregamento de reservas internacionais. Por fim, no regime de flutuação suja, a Autoridade Monetária continua intervindo no mercado, mas de forma esporádica e sem compromissos com níveis fixos de taxa de câmbio. O Banco Central mantém, assim, reservas internacionais, mas que são utilizadas somente para reduzir a volatilidade da moeda em momentos extremos ou evitar a valorização ou desvalorização extremas da moeda.

A flutuação suja é o regime cambial implementado pelo Banco Central do Brasil desde janeiro de 1999.

A Política Monetária e o Regime de Câmbio Flutuante A alta de juros de um país, em especial em países emergentes é um instrumento que atrai capital. Isso ocorre porque investidores são atraídos para países que pagam taxas elevadas buscando um diferencial de taxa de juros, ou seja, tomando recursos em países com juros baixos e investindo em juros mais altos. Essa operação, conhecida como carry trade, é, portanto, incentivada pelo diferencial de taxas de juros entre os países. Por isso, num regime de câmbio fixo, uma ferramenta para atrair capital e promover a elevação das reservas é a elevação da taxa de juros. Mas mesmo num regime de câmbio flutuante os juros terão efeito sobre a moeda. Quando os juros se elevam, há uma entrada de dólares que valoriza a moeda da nação em que os dólares estão entrando. No caso do Brasil, se os juros se elevam, o Real tende a se valorizar, seguindo o mecanismo descrito. Portanto, uma maneira indireta de o Banco Central atuar no mercado cambial é elevar a taxa Selic, que elevará as taxas de juros. Isso fará o diferencial de juros do Brasil se tornar mais interessante comparativamente ao resto do mundo, o que atrai capital ao país. Os investidores precisam então comprar reais para investir nos juros locais, o que resulta na reação clássica de que a alta de juros valoriza a moeda. De forma análoga, a redução dos juros tende a causar desvalorizações da moeda de um país.

Contas Externas – Balanço de Pagamentos O Balanço de Pagamentos (BP) apresenta todas as transações de uma nação com o resto do mundo, num método contábil de partidas dobradas, sempre expresso em dólares, como segue: Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

26

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro I) Conta Corrente (A + B + C) A) Balança Comercial : diferença entre exportações e importações B) Serviços e Rendas: saldos líquidos das transações para remuneração, em nível internacional, de: remessa de lucros/dividendos, viagens, fretes, seguros, juros de dívida, outros. C) Transferências Unilaterais: a única conta, praticamente sem contrapartida. Também conhecida como conta “doações”.

II) Conta Capital ou Financeira (D + E + F): Investimentos: investimentos estrangeiros diretos (IED), portfólio, outros. Empréstimos e Financiamentos: governamentais ou privados Outros Capitais: em geral, capitais de curto prazo. III) Erros e Omissões

O saldo da contabilidade do Balanço de Pagamentos determinará o nível de reservas internacionais do país. Se na soma total do BP, houver excedente de moeda estrangeira (US$) na nação, haverá aumento das reservas em dólar do país, valendo o inverso. Cumpre destacar que quando uma nação absorve mais recursos do que produz, está usando mais recursos do que dispõe da produção doméstica. De acordo com Sachs e Larrain (1995), “a nação só pode conseguir isto importando bens”; ou seja, ela é importadora líquida (importa mais do que exporta). Por esta razão, diz-se que este excedente constitui poupança externa, ou seja, a poupança externa equivale diretamente ao negativo da Conta Corrente, porque este denota o financiamento de um país pelo resto do mundo.

4.1.4. Outros indicadores econômicos Indicadores de Inflação A inflação é um mal! Ela corrói poder de compra da moeda: do rico e do menos favorecido. A separação da mensuração dos preços na economia e suas respectivas variações em preços no atacado e ao consumidor traz a compreensão dos preços percebidos pelas empresas e famílias baseados em uma cesta 12 de produtos. Podemos considerar os preços ao consumidor a “real” percepção da inflação na economia. No entanto, os preços no atacado possuem significativa importância, já que os produtos intermediários são aplicados no processo produtivo de bens e serviços e permite verificar a influência nos preços finais da economia. A função se tornaria também como um indicador antecedente para a mensuração dos preços ao consumidor e da inflação. A separação dos produtos em grupos permite a compreensão do comportamento geral de cada indicador de inflação. Na política de metas para inflação, a importância aumenta por causa da necessidade de atingir o objetivo prédeterminado. O Brasil possui uma série de indicadores de inflação, devido à memória inflacionária. Destacam-se alguns para a Certificação, conforme abaixo.

12

A cesta de produtos de referência permite mensurar a ponderação de cada item na mensuração da inflação por um período determinado. Devido ao custo de pesquisa, a revisão é realizada de acordo com a percepção de mudança nos hábitos de consumo das famílias. Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo. 27

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) Calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA é um índice de preços coletado no varejo, especialmente em supermercados, e é a referência oficial da meta para inflação no Brasil 13. Este indicador mede a inflação de um conjunto de produtos e serviços que representem o consumo pessoal das famílias que possuam de 1 a 40 salários mínimos de renda, qualquer que seja a fonte. Refere-se ao mês cheio: tem como unidade de coleta, estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, concessionária de serviços públicos e internet; O IPCA é coletado nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia e Campo Grande;

Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) Calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o IGP-M é um índice de atacado, híbrido, pois é constituído pela média ponderada de 3 outros índices: i.

Índice de Preços ao Atacado (IPA): 60%;

ii.

Índice de Preços ao Consumidor (IPC): 30%; e,

iii.

Índice Nacional de Preços da Construção Civil (INCC): 10%.

O IPA – mais relevante dos 3 – tem em sua composição, aproximadamente: ➢

70% de preços referentes à indústria (IPA-Industrial), que coleta preços de produtos minerais-metálicos e da indústria pesada;



30% de preços referentes à agropecuária (IPA-Agrícola), que coleta, em essência, preços de commodities como soja, suco de laranja, boi gordo e vários outros.

Por esta característica, o IPA e, consequentemente o IGP-M como um todo, é fortemente influenciado pela cotação da taxa de câmbio. O IGP-M mede, então, a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados, fundamentalmente, no atacado e se refere ao período de coleta do dia 21 do mês anterior ao dia 20 do mês em questão: tem como unidade de coleta estabelecimentos atacadistas e comerciais, registrando a variação de preços de matérias primas agrícolas e industriais, bem como, preços ao varejo e construção civil. Ele abrange toda a população brasileira, sem restrição ao nível de renda e é o índice utilizado no reajuste dos contratos de alugueis e, também, de uma serie de SUPs (Serviços de Utilidade Pública). Antes da divulgação final, a FGV apresenta prévias ao mercado, coletadas a cada 10 dias, os denominados decêndios da coleta: ➢

Primeiro decêndio: do dia 21 do mês anterior ao dia 30 do mesmo mês;



Segundo decêndio: do dia 21 do mês anterior ao dia 10 do mês em questão;



Terceiro decêndio (índice final): do dia 21 do mês anterior ao dia 20 do mês em questão.

O IGP-M é, ainda, o único índice brasileiro divulgado no mesmo mês da coleta, em geral, no último dia útil.

13

O IPCA é o índice utilizado como META para que o Comitê de Política Monetária (Copom) defina a taxa de juros (Selic), lembrando que a meta de inflação brasileira é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

28

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro 4.1.5. Principais indicadores financeiros (taxa de juros: Selic, DI, TR; taxa de câmbio) Há duas formas básicas para os bancos tomarem dinheiro no mercado interbancário: os DIs (Depósitos Interbancários) e as Operações Compromissadas.

Certificado de Depósitos Interbancários (CDI) A taxa do CDI é calculada como a média das taxas das operações registradas, ponderadas pelos volumes negociados, em determinado dia útil. É também chamado de Depósito Interfinanceiro. É uma operação realizada exclusivamente entre instituições financeiras, para permitir a troca de reservas bancárias entre elas. Tem registro no CETIP - Câmara de Custódia e Liquidação. Foi autorizado pelo Decreto-Lei nº 2.284/86 e regulamentada pela Resolução nº 1.647/89. Em relação ao DI, o banco que precisa do empréstimo emite um título de renda fixa, o Certificado de Depósito Interbancário ou Certificado de Depósito Interfinanceiro, CDI.

Taxa Selic (Operações Compromissadas) A Taxa Selic utiliza para correção de empréstimos e financiamentos a taxa apurada no Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia). Esta taxa é obtida mediante o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em câmaras de compensação e liquidação de ativos, na forma de operações compromissadas. Em se tratando de operações compromissadas, os bancos que necessitam de dinheiro colocam os títulos públicos que têm em carteira como garantia do empréstimo. Daí a palavra “compromissada”. A taxa de juros média das operações compromissadas é a chamada Selic efetiva ou Selic over. Vale destacar que: Os DIs têm maior risco, pois não possuem garantias. Já as compromissadas são mais seguras, pois caso o banco tomador venha a quebrar, a instituição emprestadora ficará com seus títulos públicos; Sendo assim, a taxa DI é considerada um “espelho” da taxa Selic Over.

Taxa Referencial (TR) É obtida a partir das médias das taxas das LTNs de prazo próximo a um mês. Seu cálculo corresponde: ➢

À média ponderada entre as taxas médias das LTNs com vencimentos imediatamente anterior e imediatamente posterior ao prazo de um mês, seguida da aplicação, ao valor resultante, de um fator multiplicativo fixado em 0,93 (noventa e três centésimos). A esta média (reduzida) chama-se TBF (Taxa Básica Financeira);



À aplicação de um Redutor (R). O Banco Central tem poder de interferir no cálculo da TR, pois determina o Redutor (R) que será aplicado ao cálculo da TBF. Figura 4.20 – Fórmula de Cálculo da TR

Cumpre ressaltar que a TR nunca pode ser negativa. Seu “piso” é zero por determinação governamental.

Taxa de Câmbio (PTAX) No Brasil, a taxa oficial do câmbio é conhecida como PTAX e equivale à taxa média dos negócios do dia apurada com base nas operações realizadas no mercado interbancário. Ela é coletada e divulgada pelo Banco Central Brasileiro (Bacen), sendo uma referência e NÃO uma taxa obrigatória. O nome da operação no sistema do Bacen é PTAX 800. Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo.

29

Certificação CFP® – Módulo I: Planejamento Financeiro Cupom Cambial É o conceito da taxa de juros em dólar, isto é, o diferencial entre a taxa básica de juros de uma economia e a variação cambial. Figura 4.21 – Cálculo do Cupom Cambial

Em que: (1+ i) = taxa de juros (1+ d) = taxa de desvalorização cambiam

Exemplo: Se a taxa Selic num determinado mês foi de 6,25%aa e a desvalorização cambial deste mesmo mês ficou em 2,00% aa, o cupom cambial está 4,25%aa, ou seja, o diferencial entre a taxa de juros efetiva e a variação cambial.

O mercado identifica 2 tipos de cupom cambial: i)

Cupom Sujo: utiliza-se no cálculo a variação cambial da taxa de câmbio Ptax do dia anterior;

ii)

Cupom Limpo: utiliza-se no cálculo a variação cambial da taxa de câmbio Spot ou à vista.

4.1.6. Análise de ciclos econômicos e seus impactos no emprego, renda, preços dos ativos, oferta de crédito e taxas de juros Os ciclos econômicos presentes nas economias indicam as flutuações (expansão ou contração) no produto decorrente do próprio processo econômico. As variáveis reais e nominais flutuam de acordo com a produção ou a economia. O ciclo depende de cada variável e a dinâmica pode ser pró-cíclica, acompanham o produto, e contracíclica, inverso ao produto. Na expansão da economia, o produto é acompanhado pelo aumento no emprego (variável real) e da inflação (variável nominal), por exemplo. Outras variáveis na economia reagem ao que ocorre no ambiente e cada ciclo tem um nível de reação e se modifica ao longo do tempo. O aumento no produto é acompanhado de aumento no emprego, já que a demanda de trabalho é elevada. Se a economia não tiver nível de desemprego para evitar o aumento na renda ou salário 14 pela oferta15 e demanda no mercado de trabalho, haverá o aumento na renda. No mesmo processo, a valorização de terrenos, imóveis e outros ativos tendem a aumentar se a oferta não for suficiente para acompanhar a demanda oriunda da expansão da economia. O risco é o aumento excessivo a ponto de os preços dos ativos se tornarem insustentáveis, a bolha especulativa 16, e o colapso ocorrer na economia. A política monetária tende a agir de modo que os preços dos ativos se estabilizem em um patamar adequado. A política monetária contracionista busca a redução de circulação de moeda e o aumento na taxa de juros é verificado. O mercado de crédito se contrai com menor circulação, a taxa de juros no mercado de crédito tende a se elevar. Logo, a oferta de crédito é contracíclica e taxa de juros é pró-cíclica.

14

O salário ou renda nominal (em reais, dólares, euros etc.) não mede os efeitos da inflação. O salário-real computa o deflacionamento pelo índice de preços da economia e mensura o salário nominal relativamente a cesta de consumo. 15 A oferta de mão de obra ou trabalho é compreendida como parte da população e o aumento da oferta de trabalho depende do aumento populacional e o desejo da população economicamente ativa (PEA – parcela da população entre 14 e 65 anos) de participar do mercado de trabalho. 16 A bolha se forma quando os agentes econômicos valoram um ativo acima do seu real valor de mercado. A bolha se estoura quando o último agente não aceita tal valor e o mercado não possui meios de negociá-lo. Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo. 30