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A mulher é bombardeada diariamente por comerciais, propagandas e filmes que trazem um padrão ideal bem distante da reali


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LARISSA CAVENAGHI MAIARA FREITAS MARIANA SOARES

TODAS ELAS

TODAS ELAS

TODAS ELAS:

A relação da mulher com a autoestima através da fotografia

Projeto Editorial: Larissa Cavenaghi, Maiara Freitas e Mariana Soares Projeto Fotográfico: Larissa Cavenaghi e Mariana Soares Projeto Gráfico e Diagramação: Larissa Cavenaghi e Mariana Soares Capa: Manuela Halulli

Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre. Simone de Beauvoir

SUMÁRIO I. Ana Carolina Cannone II. Adriana Moreira III. Alesandra Midori Yoriyasu IV. Ariely Fonseca V. Bianca Guarnieri VI. Camila Ranzzi VII. Gabriela Monteiro VIII. Giseli Fregolente IX. Jéssica Ferreira X. Juliana Yamazato XI. Marcella Matida XII. Marina Darcie XIII. Maria Santos XIV. Paolla Vicentin XV. Raíssa Sansaloni XVI. Rúbia Regina XVII. Vitória Soares XVIII. Yumi Nagabe XIX. Posfácio

AGRADECIMENTOS Família, palavra de muitos significados. Um deles, de acordo com o dicionário online Michaelis diz respeito à um grupo de pessoas unidas por convicções, interesses ou origem comuns. Pois bem, foi isso que encontramos ao chegar para estudar em Bauru. Criamos laços tão fortes quanto os de uma família consanguínea com pessoas que nos ajudaram a crescer intelectualmente, a confiar e principalmente, a entender o valor da amizade. Compartilhamos nossas alegrias e tristezas durante esses quase quatro anos e sem suas contribuições, ajudas e até puxões de orelhas, não teríamos chegado aqui hoje com tamanho êxito. Por isso, dedicamos esse trabalho à Beatriz Milanez, Bianca Moreira, Camila Nakazato, Wesley Anjos e Pedro Maziero.

Porém, não conseguiríamos sequer estar aqui sem nossos pais: Sueli Cavenaghi Ferreira e Aguinaldo Benedito Ferreira, Divana Freitas e Marcos Roberto Vitor e Ana Maria Costa Carneiro e Roberto de Oliveira Soares que com todo amor do mundo e, junto às nossas irmãs e irmãos, Layany Cavenaghi, Giovanna Freitas, Isabelle Carneiro Soares e Rafael Carneiro Soares, nos criaram e nos deram todo o suporte necessário para que fossemos as mulheres que hoje nos tornamos. Dedicamos esse livro também à nossa orientadora, Caroline Kraus Luvizotto, cujos apontamentos durante todo o processo foram essenciais para que o trabalho fosse realizado da melhor forma possível. À nossa amiga, companheira de

viagem e designer gráfica Manuela Halulli que conseguiu exprimir tudo o que foi passado à ela sobre nosso projeto em uma capa tão sensível. À todas as mulheres que colocaram seus rostos, inseguranças, alegrias e belezas diante das nossas lentes e contribuíram para dar vida a esse projeto. Também à todas aquelas que gostariam de ter contribuído, mas que por algum motivo foram impedidas de participar. E finalmente à todas as mulheres: brancas, pretas, amarelas, vermelhas, de todas as formas, jeitos e trejeitos.

Paulo Hortelan Ribeiro

PREFÁCIO Compreender-se nunca foi tarefa fácil. São os reflexos que dão pistas do que se é: se o que há no outro lhe é agradável, é porque assemelhase ao que, em fundo, te faz parte. Vez ou outra, acorda-se e nada faz sentido, além do dia em que Gregor Samsa acordou metamorfoseado em um estranho inseto. No espelho, a dúvida: a quem pertence o exoesqueleto? Não demore, então, para aprender a ler suas próprias camadas de linhas - ou entre elas. O que se lê e o que foi escrito não pertence a ninguém, a não ser à própria superfície espelhada. Sabe-se que nela, a imagem pode ser constantemente a mesma. Ter medo da mudança, no entanto, não é opção. Que seja barata, aranha, camaleão, mulher.

Não há balança para que se meça o equilíbrio. Não há medida que se preze ao ser. Por isso, seja. Branca. Amarela. Preta. Cinza. Aos olhos alheios, cores e luzes se refletem. Por isso, brilhe. Adiante, o que se encontra, em cada começo, é a parte favorita de cada ser em sua metamorfose: mulheres, por si só, únicas. Afinal, o que se vê em outras telas, que não as dos próprios olhos, não se pode ser tomado como regra. As lentes, à sua maneira, como íris e pupila, capturam cada imagem com a finalidade de refletir o que há de mais belo em si.

Beatriz Berto Milanez

I.ADRIANA Moreira

Atriz e modelo madura, grisalha e atlética que no auge dos seus 50 anos finalmente entendeu o valor de sua beleza. “Aos 50 anos eu me considero muito mais bonita do que quando eu tinha uns 20 e era esteticamente muito mais bonita, mas eu não tinha capacidade de visualizar isso”.

“Agora eu vejo o que eu quero

oferecer pro mercado, existem mulheres de 50 que tem cabelo branco que são atléticas, que são normais”.

“(...) eu sou bem mutante” “eu

sou uma pessoa muito ativa, com facilidade de mutação, não sei se pra atingir um equilíbrio ou porque eu sou assim mesmo”.

“ (...) eu não sou uma pessoa neutra,

eu tenho uma certa personalidade em me vestir , em me aceitar, em levantar bandeiras para as pessoas serem naturais sem levantar estereótipos”.

II. ANA CAROLINA Canonne

De voz doce, a jovem artista Ana Carolina Cannone de 21 anos veio da capital paulista para estudar rádio e TV na Unesp de Bauru. “Sei lá, eu sou uma pessoa tentando se encontrar pra poder te dizer daqui um tempo quem sou eu, onde eu realmente quero chegar”.

“Eu lembro que no ano novo e eu

fui para praia com a minha mãe. E toda vez que eu ia na praia, eu saía de perto da minha mãe, ia para outra ponta da praia, onde não tava ninguém, só para poder tomar sol e depois eu voltava”.

“ (...) quando eu tava mais magra,

eu me achava mais bonitinha, mas eu vomitava, eu praticamente não existia, mas eu tava magra e isso pra mim é muito ruim de pensar”.

“Desde

pequena, minha família sempre me falou que eu era gorda, que eu ia fazer dieta, e eu tinha tipo cinco anos, até menos de cinco”.

III.ALESANDRA MIDORI yORIYASU

Alesandra mora há 2 anos em Bauru e é estudante de Educação Física. Acredita ser uma pessoa bem calma e bastante empática, “ consigo me colocar bem no lugar das pessoas pra tentar entender melhor”.

“Tem pessoas que até conseguem

alcançar o padrão de beleza, não é uma coisa fácil, você tem que fazer muita coisa, tem que ter muita grana pra fazer tudo o que precisa fazer”.

“(...) a minha orelha eu não era muito

encanada, mas depois de eu ouvir eu fiquei extremamente encanada. A minha cor da pele também já falaram e me incomodou um pouco, mas hoje já não me incomoda mais”.

IV.ARIELY

fONSECA

Ariely de 22 anos é feminista, militante da juventude comunista e, criada em Limeira, foi para Bauru estudar Relações Públicas aos 18 anos. Gosta muito de cozinhar, de cinema, de moda e de tentar fazer a diferença.

“Eu tenho essa pressão de odiar

meu corpo, minha aparência. E acabar me comparando com outras mulheres. E tem essa competitividade não é saudável, não me faz bem”.

“Sempre busco entender: por que

estou me sentindo feia? Por que estou me odiando? Por que estou enojada da minha aparência? Aí eu penso que é toda uma questão de mercado, que o capitalismo tenta vender uma imagem ideal porque ali ele tem lucro com o mercado de beleza”.

“É

uma briga diária. Comigo mesma. A vida inteira me considerei feia. E busquei me sobressair em outros pontos, me destacando em ser mais inteligente, ter lido mais livros, visto mais filmes” .

V. BIANCA

GUARNIERI

Bianca Guarnieri é uma artista de 22 anos, natural de Rio Claro, residente de Bauru. Se descreve como uma mulher intensa e sensível, “do tipo que se mata um bichinho já fica mal”.

“Eu fui modelo de Corset e é uma

prática que eu pretendo seguir ainda. Ele molda seu corpo, afina a cintura (...) é difícil de respirar com ele, de comer com ele, você tem que se adaptar a ele, mas eu curto e gosto muito do resultado apesar de ser uma prática meio bruta”.

“Eu mudaria tudo em mim, mas

o que daria prioridade seria para o meu nariz e colocaria silicone”.

“Temos que trabalhar nisso todo

dia e tentar se aceitar porque é muito difícil você se olhar no espelho e você ver o seu corpo e entender que é isso que você tem. E ele não é feio. Então por que eu tenho esse problema com isso?”.

VI. CAMILA

RANZZI

Camila Ranzi tem 21 anos e veio da Zona Leste de São Paulo. Diz que está se descobrindo agora nesses anos de faculdade. Veio de um lar cheio de música e arte, filha de uma artista e um publicitário. “Eu me descrevo como uma pessoa muito tranquila, paciente e eu tento sempre ser empática, mas eu sei que é complicado”.

“Eu

usava muita maquiagem no ensino médio e com as pessoas sempre comentando aquilo fazia muito bem para a minha auto estima.Só que chegou em um ponto que eu comecei a me sentir muito mal sem maquiagem”.

“Eu

faria cirurgia no meu nariz. Hoje não é algo que me prejudica tanto, mas quando eu era menor era super bitolada na ideia de fazer cirurgia. E também pensava em colocar silicone”.

“A questão de ter pêlo na perna.

Só por você ser mulher, seu pêlo não é diferente do pêlo do homem, mas as pessoas encaram isso de uma maneira diferente”.

VII. GABRIELA

MONTEIRO

Gabriela Monteiro, nasceu em São José dos Campos e vive hoje em Bauru, onde estuda Relações Públicas. É uma mulher de 22 anos muito extrovertida que gosta muito de lugares e viagens, mesmo sem ter viajado muito, adora violão, música, livros, filmes. “Eu sou uma menina curiosa”.

“Às

vezes não me considero uma pessoa bonita. Por ser muito difícil de praticar, muitas vezes não consigo me olhar com olhar de amor e felicidade. Quando eu estou mais tranquila com a vida, eu me acho muito bonita sim. E a partir daí começo a focar mais no sentimento do que na própria beleza física”.

“Já deixei de fazer compra em loja

de departamento, por exemplo, porque eu pegava uma calça 42 que estava acostumada e ela não cabia em mim. Ficava pensando se eu tinha engordado, mas não, eram as roupas que tinham diminuído”.

“Até meus 17, eu era muito bitolada

com o corpo. Já fiz todos os tipos de tratamentos estéticos, já fui em clínica, fiz exercício, já tomei remédio, já tomei shake, já fiz dieta da lua, de várias coisas. Sempre fui bitolada e nunca alcancei o padrão de beleza”.

VIII.GISELI

FREGOLENTE

Gisele tem 36 anos, saiu de Barra Bonita para estudar em Bauru e acabou ficando na cidade. Ela é uma mulher que gosta do que faz, é apaixonada por sereias, é mãe, esposa e professora.

“O padrão varia de acordo com o

contexto cultural e histórico. Hoje em dia o padrão de beleza é o pessoal todo delineado, musculoso, arrumado. Só que antigamente as gordinhas eram o padrão. Até mesmo hoje, determinadas culturas e tribos seguem padrões totalmente diferentes”.

“Vou

muito por mim mesma. Às vezes meu marido quer opinar para eu mudar alguma coisa, então a gente chega até a discutir, mas eu sigo firme no que eu quero”.

“Eu

me considero bonita, e acredito que todo mundo seja bonito desta maneira (...), mas se pudesse mudar alguma coisa eu escolheria perder uma barriguinha”.

IX.JÉSSICA fERREIRA

Jéssica Ferreira, natural de Guarulhos, chegou em Bauru aos 17 anos para estudar jornalismo. Hoje com 18 anos vive na Moradia Estudantil da Unesp de Bauru, é da turma B e do coletivo negro. É uma pessoa feliz, orgulhosa do que é, porém um pouco insegura, “eu sou muito passiva, tenho mania de não reclamar e às vezes é ruim, mas às vezes é bom também”.

“Eu enxergo o padrão de beleza

como algo muito comercial. É difícil de ser alcançado e também é muito caro, então acredito que ele só exista por uma questão de consumo mesmo, para as mulheres irem investindo cada vez mais dinheiro nesse sonho”.

“Como

eu sofri bastante durante minha adolescência, eu desenvolvi uma autoestima bem segura, mas daí aconteceu que eu fui para o Inter (jogos universitários) e nos 3 dias eu recebi alguns tipos de humilhações por conta da minha aparência e isso acabou me jogando para baixo”.

“Eu sou feliz e bem orgulhosa de

tudo que eu sou, mas às vezes alguns comentários acabam machucando e magoando um pouco, então nesses momentos eu penso em mudar algo no meu corpo”.

X.JULIANA

Yamazato

Juliana Yamazato de 21 anos, saiu de São José dos Campos, sua cidade natal, para estudar Rádio e TV na Unesp de Bauru. Juliana acredita ser uma pessoa muito resiliente. “Eu acho que eu não tenho uma definição exata do que eu sou. Porque eu acredito que a gente como indivíduo é a soma de várias coisas, né? E eu acredito que a Juliana que chegou em Bauru não é a mesma pessoa de agora, e nem é a mesma da infância e nem a daqui há 5 anos. O que eu sou é resultado de tudo aquilo que me cerca”.

“O padrão é algo muito utópico,

midiático, mercadológico. Por isso, não acho que seja algo natural, muito pelo contrário, vejo como algo tóxico, que as pessoas ficam na pira de alcançar e nunca chegarão lá. Além de ser mutável, porque você se espelha em alguém hoje, mas amanhã não será mais aquela pessoa e assim você tentará chegar nessa outra, depois na outra e por aí vai”.

“Quando

eu tinha 12 anos, eu estava na pira e fazendo progressiva, aquilo fede, dói. Aí um dia quando acabou, a cabeleireira falou ‘nossa, olha isso, agora dá até para passar a mão’”.

XI. MARCELLA mATIDA

Marcella mora em São Paulo e estuda na UFABC, onde faz o bacharelado interdisciplinar, local onde se encontrou finalmente após passar um período estudando arquitetura. É uma pessoa extremamente curiosa para tudo, que gosta de aprender e tem zero preconceitos com qualquer coisa. “Eu sempre tive essa dificuldade de me encontrar em um lugar e sei lá, achar minha caixinha, porque na verdade eu sou várias coisas”.

“Eu

acho que tenho meus atributos que são ok , não sou de se jogar fora, mas também não sou nada demais”.

“Eu queria me encaixar naquele

padrão branco e achava que esse era o padrão de beleza. Mas daí depois eu fui me desconstruindo e percebendo a beleza vinha de diversas formas”.

“Eu

tenho sérios problemas assim de identidade, a família da minha mãe é negra e indígena, a família do meu pai é toda japonesa. E justamente por isso eu sempre tive muita dificuldade em me identificar. Eu sou negra? Eu sou indígena? Eu sou asiática? Porque ao mesmo tempo que muito asiáticos não me reconhecem como asiática, muitos negros não me reconhecem como negra”.

XII.MARINA DARCIE

Marina tem 26 anos e está cursando o doutorado na Unesp após uma longa jornada ligada à universidade. Voltou um período à sua cidade natal, São José do Rio Pardo, mas está novamente em Bauru. É uma pessoa focada,”talvez um pouco até demais, e quando as coisas dão errado eu tendo a quebrar um pouco, mas sou uma pessoa bastante feliz com as escolhas que fiz até agora”.

“Acredito que eu me considero menos bonita do que

as pessoas acham. Estamos acostumados a nos olhar sempre focando em coisas que nos desagradam e talvez essas outras pessoas nem entendam que isso é algo que nos desagrade, então acaba passando despercebido por elas. Por isso, tenho tendência a olhar para mim mesma com olhos mais cruéis”.

"Eu nunca gostei das

pintas do meu rosto. Desde criança."

"Eu sou mais

feliz atualmente em relação ao que era antes. Justamente por todo esse discurso e eu tenho pesquisado e lido muito sobre você se aceitar pelo que você é e como isso pode ser um diferencial".

“Eu tenho um pouco

de receio ao usar determinadas roupas. Não sei dizer até onde eu tenho medo de assédio, até onde eu tenho medo de violência, até onde eu tenho medo de expor meu corpo".

XIII.MARIA

SANTOS

Maria do Socorro tem 66 anos e saiu de Recife, no Pernambuco para acompanhar o filho, técnico de futebol em seu trabalho. Rodou o Brasil com o filho, mas acabou se fixando com a família em Bauru.

“Me dou com todo mundo, faço

amizade fácil, sou ativa demais, não gosto de ficar parada, gosto de fazer tudo que eu vejo que tem pra fazer. Minha cor preferida é o verde, sou palmeirense, né? Eu amo assistir jogo. Meu filho também é técnico, né? Então eu aprendi a assistir jogo. Ah, e eu também gosto muito de política, gosto muito de debate, gosto de tudo!” .

“Por dentro, eu sou

bonita. Por fora não. Já fui, mas hoje não”.

“O povo fala “Dona

Maria, a senhora é tão bonita”, mas eu não acho não, deixo os outros acharem.”

“Eu sou feliz do jeito

que eu sou”.

XIV.PAOLLA

vICENTIN

Paolla tem 25 anos, é de Jundiaí e estuda psicologia na Unesp de Bauru. É uma pessoa intensa, complexa, sensível, escorpiana, com uma sede de melhorar o mundo e trazer mudanças sociais. Se descreve como uma pessoa romântica, batalhadora, transformadora e que gosta de coisas da natureza, de budismo, de música, artes em geral. “Sou uma pessoa eclética, que se adapta à vários ambientes.”.

“A questão da

deficiência, em si, às vezes mexe bastante com a minha auto estima, porque querendo ou não é algo diferente do que as pessoas estão acostumadas a ver”.

“Corpo que é diferente

do comum tá sujeito à ser julgado de uma maneira negativa”.

“Eu me acho uma pessoa bonita, gosto do meu

corpo, do meu rosto”.

“Se não tivesse essa barreira do julgamento, acho

que talvez eu me soltasse mais, acho que eu seria mais espontânea, menos insegura. Porque eu sou uma pessoa ótima eu só esqueço por medo do que os outros vão pensar de mim”.

XV.RAÍSSA

SANSALONI

Raíssa Sansaloni tem 21 anos e saiu de Itumbiara, em Goiás, para estudar design em Bauru. É uma pessoa muito ativa, curiosa, bem informada, gosta de trabalhar com criatividade e comunicação e se identifica muito com o que eu faz. “Eu nunca tive certeza de quem eu sou. Acho que eu tenho mais certeza que no ano passado, mas eu nunca tive certeza”.

“No ponto mais drástico da minha vida, eu

comia uma refeição por dia e às vezes eu ainda a colocava para fora. Cheguei a ir na nutricionista e ela ainda falou que eu estava com sobrepeso e que era para eu comer uma torrada e uma castanha antes de eu sair para caminhar“.

“Quando eu vim pra cá eu ganhei

muita confiança em mim, acho que agora eu consigo me posicionar com as coisas que eu gosto, com as que eu quero fazer”.

“Eu sou feliz da maneira como sou agora.

Não mudaria nada em mim. Têm coisas que eu ainda me sinto insegura, mas acho que é um processo de aceitação”.

IV.RÚBIA

rEGINA

Rúbia Regina de 21 anos nem se imaginava saindo de São Paulo, a menos que fosse para o exterior. Mas o vestibular mudou seus planos e a levou para Bauru, cidade que nunca esteve em seus planos. Hoje ela acredita ser um conjunto de tudo que tem vivido, desde sempre. “Eu estou tentando alcançar meu potencial.”

“Sim, eu me considero uma

pessoa bonita, não mudaria nada em mim. Por muito tempo, vi vários defeitos em mim, ficava arranjando problema em tudo que era possível. Mas, agora, eu não mudaria nada”.

“O padrão estético é muito

cruel. A época de escola para mim foi traumatizante. Sei que minhas inseguranças de hoje vêm dessa época. Eu estudei em escola particular, eu era a única negra da sala, então na lista de meninas mais bonitas eu sempre era a última”.

“Meu pai é negro e minha

mãe é branca, eu lembro de um dia que cheguei em casa chorando, perguntando para ela por que eu não era branca”.

IV.VITÓRIA

SOARES

Vitória é uma menina de 14 anos que saiu de Olinda com a família para viver em Bauru. É vaidosa, adora se maquiar, admite ser um pouquinho egocêntrica, mas é generosa. Gosta de ver filmes e séries, adora animais, adotou um gatinho recentemente. Gosta de quase todo tipo de música e de todas as cores, “acho que cada uma delas tem uma coisinha de especial”.

“Eu me considero uma

pessoa bonita. Aqui a autoestima é alta”.

“A mídia tenta passar

para gente a imagem do que é ser bonito, mas eu não acho que seja aquilo porque todo mundo é diferente, então cada um tem seu jeito de ser”.

“Na escola sempre tem

comentários ruins sobre nossa aparência. Eu cheguei a faltar bastante, então quase repeti de ano. Mas pararam depois porque dei um sermão” .

XVIII.YUMI NAGABE

Ao 20 anos, Yumi, de apelido Kiddo, se considera emotiva, introvertida, mas diz que gosta dos rolês da faculdade. Saiu de Osasco na Grande São Paulo para estudar arquitetura em Bauru. É uma menina amarela, de ascendência japonesa. “Gosto de umas umas coisas meio non sense, umas piadas nada a ver.

“Dentro do padrão estético, eu não

me considero uma pessoa bonita. Minha autoestima cai com muita facilidade. Mas eu sei que tenho uma beleza para as pessoas que me conhecem”.

“Eu

me considero uma pessoa feliz sim. Não é uma felicidade constante, sempre tem crises, problemas envolvidos. Mas, no geral, sou uma pessoa feliz”.

“Eu até penso em realizar algum

procedimento estético, mas tento evitar porque eu vejo como necessidade, mas eu sei que não é, então eu devo descartá-lo”.

Vitória é neta de dona Maria

XIX. Um trabalho feito por mulheres, sobre mulheres e para mulheres, naturalmente, traz à luz questionamentos tanto a respeito das sensações que todas elas carregam consigo, bem como a representação de seus corpos ao longo dos anos. Quantas vezes as pediram que mudassem seus corpos? Você acorda todos os dias pressionada por imposições do que deve fazer, do que deve comer, como deve tratar o seu cabelo e como tem a obrigação de estar bonita. Mas o que é ser bonita? Por que pedem a essas mulheres que sejam simplesmente bonitas? Tais questionamentos invadiram as mulheres que idealizaram esta obra, bem como alcançaram às que participaram destes ensaios. No processo de criação deste livro, houve uma série de entrevistas com todas aquelas que, voluntariamente, aceitaram participar da construção deste material. Entre a equipe, é inevitável não sentir dor em meio a relatos que narram trajetórias que vão de encontro a distúrbios alimentares, agressões verbais por parte

de familiares e inseguranças com doses de traumas de infância. Porém, a gratificação pela resistência e superação que há em cada uma das modelos fala muito mais alto! Em meio a diversas vivências e biotipos femininos, pode-se considerar que o fio condutor que une todas as pessoas envolvidas é o padrão estético em vigência. A forma como cada uma o encara acarretou na constatação e na possível desconstrução dos padrões aos quais todas foram bombardeadas ao longo da vida. Esperamos que as leitoras possam se identificar com as histórias e vivências aqui expostas. E que novas formas de beleza possam se instaurar em nossa sociedade, valorizando todo tipo de corpo, cor, cabelo. A beleza, aqui tratada, é uma experiência natural e envolve os sentidos humanos em seus mais singelos detalhes e é um processo que não tem fim. Esta pode ser a última página desta obra, mas não o final das histórias aqui narradas, elas seguirão cada qual em seu processo de resistência e constante superação. Com Colaboração de Wesley Anjos